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Arieli Groff

Rede de apoio e instinto materno: a urgência de ressignificar essas ideias

O quanto acreditar de forma distorcida nesses conceitos pode ser cruel com as mães

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Não há discussão: o quanto que abrimos espaços de falas sobre a necessidade de rede de apoio é fundamental para a saúde de mães e de seus filhos. Há bem pouco tempo atrás sequer havia referência a esse apoio recebido, ou não, pelas mulheres que atravessam o puerpério, era visto como uma “ajudinha voluntária” ou como um favor destinado a essa mãe recém parida.

Porém, precisamos estar muito atentas e atentos ao perigo de olhar para a nomeação de rede de apoio de forma superficial e distorcida. Como diz o provérbio africano, “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança” e de fato, uma mulher desamparada em suas necessidades físicas, emocionais, psicológicas e nas atividades rotineiras que os cuidados com um bebê e sua casa demandam, possui grandes riscos de adoecimento em todas essas esferas. Além disso, uma mãe que não é apoiada pouco conseguirá se entregar de forma presente e livre à construção do vínculo com seu filho.

A qualidade dos relacionamentos experimentados pelo bebê desde os momentos iniciais, é preditor de sua saúde física, emocional, da capacidade de desenvolver futuramente relações saudáveis, da sua percepção de felicidade e sucesso como adulto que será. Entenda, não é uma sentença, mas é sim fator fundamental na percepção que a criança irá desenvolver sobre si mesma, o mundo e o outro, como por exemplo, o quanto é digna de se sentir amada e o quão segura se sente para confiar no outro.

Sendo assim, me parece evidente a importância de mães terem a possibilidade de serem amparadas, cuidadas e apoiadas especialmente no momento inicial onde ainda se encontram na construção do papel materno.

Toda pessoa que conhece e tem contato com uma gestante, pode ser rede de apoio.

Em um primeiro momento fica fácil pensar nas relações diretas que a mãe possui, como figuras de apoio: parceiro, mãe, sogra, irmãs, amigas, vizinhas, os quais sem dúvida desempenham papel fundamental e de extrema importância. Mas não podemos reduzir de forma leviana rede de apoio a esse círculo de pessoas. Precisamos urgentemente ampliar esses perspectiva e falarmos sobre a necessidade de que toda mãe possa ter acesso a uma rede de apoio social, que envolva atendimento médico de qualidade, partos com ausência de violência obstétricas e neonatais disfarçados de protocolos, leis trabalhistas, empatia e aceitação pelo mercado de trabalho, conscientização de empresas e gestores, equiparações salariais entre gêneros, revisão de licenças maternidade e paternidade e tantas outras.

Pensar que quando nasce um bebê nasce uma mãe, é colocar em cima das mães a total responsabilidade pela criação e educação de uma criança de forma simplista, cômoda e cruel. Seguir defendendo a existência do instinto materno é manter de forma bastante confortável um sistema patriarcal em pleno funcionamento. O que há é instinto de sobrevivência, consciência de que há um ser humano que depende exclusivamente do cuidado de um adulto responsável para sobreviver, há a conexão e percepção das necessidades de um bebê e de uma criança.

Quem se compromete verdadeiramente com a criação de uma criança, tem total condições de desenvolver instinto de cuidado.

Que passemos a pensar em instinto parental, instinto de amor e de cuidado. Sem dúvidas as mães são máximas representantes dessa conexão, mas que não precisem seguir por mais gerações carregando o peso e a culpa de se perceberem falhas, quando na verdade, estão sendo esquecidas, abandonas e negligenciadas por todo um sistema.

A revolução é materna e urgente!

por Arieli Groff

Arieli Groff é mãe da Maitê e psicóloga, especializada em Luto Adulto e Infantil e Teoria do Apego. Idealizadora do Instituto Pirilampos voltado para maternidade e infância. autora e organizadora dos livros “Quando uma mãe nasce”, “Que medo é esse?” e “Toda mãe tem histórias para contar”.


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