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Arieli Groff

Por que é importante ter relações sociais na infância?

A neurociência nos ajuda a entender que a qualidade das relações na infância ajudam a formar as escolhas aos longo da vida

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O nosso cérebro é desenvolvido a partir das experiências externas que temos, primordialmente pela qualidade das relações que possuímos. Essas relações se fazem ainda mais importantes e fundamentais na primeira infância, período compreendido até os cinco anos de idade.

Conforme falou o neurologista André Palmini, em sua palestra “Cérebros conectando cérebros: por que as crianças precisam tanto de convívio social?”, promovida pela Escola de Pais, a ciência mostra que as relações do começo da vida são preditores de escolhas feitas aos 30 anos de idade.

O principal receptor das relações sociais em nosso cérebro é o receptor opioide, e portanto, a relação entre as pessoas, o comportamento de apego, a formação de vínculos e estar perto de quem amamos ativa esses neurotransmissores, aumentando a sensação de segurança e bem-estar.

Crianças com interações sociais positivas crescem com a habilidade de perceber o viés positivo dos acontecimentos, com perspectivas também positivas diante da vida, influenciando diretamente na sua capacidade de ser resiliente. Dessa forma, quanto maior a performance do sistema opioide em sistemas de prazer e bem-estar, maior a resiliência frente à vida e as futuras situações adversas.

Não por acaso, se presencia atualmente a crise dos opioides, especialmente nos Estados Unidos, a qual levou a mais de 500 mil mortes por overdose nos últimos 20 anos. O uso de medicamentos a base de opioide visa justamente essa busca de bem-estar, alcançado de forma artificial e necessitando de doses cada vez mais altas. No entanto, o nosso cérebro é capaz de produzir essa performance de opioide de forma endógena, ou seja, por conta própria.

Como ativar isso nas crianças?
 

Para esse tônus de opioide ser mantido, é necessária a construção e manutenção de relações sociais positivas, as quais, na infância, podem ser obtidas especialmente pelas interações com as mães, pais, professores e amigos. Essas interações são também fundamentais para que elas aprendam a regular suas emoções. O tanto que a criança aprende a se auto-regular é preditivo de questões de saúde na vida adulta como obesidade, uso de drogas, escolhas afetivas e financeiras, entre outras.

A regulação das emoções permite que uma outra habilidade fundamental para se navegar em sociedade de forma funcional seja desenvolvida: a empatia. Ela nos permite imaginar o que o outro pensa, sente e necessita, tornando, portanto, nossas relações mais positivas. Já existem pesquisas que mostram que a parte do cérebro responsável pela empatia de uma mulher grávida vai se tornando mais espessa ao longo da gestação. Seu cérebro, então, está sendo preparado para estar atenta e entender os sinais do seu bebê.
Por isso, nós mães temos uma vantagem biológica em relação aos homens no que se refere ao vínculo e comportamento de apego da criança. Além do nosso corpo ir sendo preparado para essa relação, a criança já esta habituada por exemplo, com a temperatura do nosso corpo e batimentos do nosso coração - não à toa as crianças tendem a se acalmar mais quando colocadas no colo no lado esquerdo da mãe. Por conta disso, a figura materna é de forma geral, a principal figura de apego do bebê.
 

Pico de desenvolvimento cerebral ocorre até os 5 anos

O nosso cérebro vai se desenvolvendo a partir das nossas experiências, o mundo de cada um dá o tom do seu desenvolvimento cerebral, sendo esse pico de plasticidade neuronal nos primeiros cinco anos de vida da criança. No entanto, não podemos encarar tudo como uma sentença, a qualquer tempo temos a possibilidade de aprender a fazer diferente, pois a plasticidade cerebral está presente ao longo da vida, e além disso, demonstrar afeto aos nossos filhos nunca terá prazo de validade ou contra-indicação.

Palmini finalizou sua palestra pontuando o quanto a vida e a educação formam um quebra-cabeças que vai se montando aos pouquinhos, sendo nossa responsabilidade partir de algo que não se sabe previamente qual será o resultado final. O importante é fazer o nosso melhor a cada momento. “Ama teu filho, fica perto e coloca alguns limites, eles também são necessários”, disse ele.

O ciclo de palestras da Escola de Pais terá como próximo convidado o pediatra Daniel Becker, com o tema “Como seu estilo de vida pode definir o desenvolvimento saudável?” no dia 30 de Novembro. Mais informações em @escoladepais018.

por Arieli Groff

Arieli Groff é mãe da Maitê e psicóloga, especializada em Luto Adulto e Infantil e Teoria do Apego. Idealizadora do Instituto Pirilampos voltado para maternidade e infância. autora e organizadora dos livros “Quando uma mãe nasce”, “Que medo é esse?” e “Toda mãe tem histórias para contar”.


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