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Arieli Groff

Você encoraja seu filho?

Qual a diferença entre elogiar e encorajar e suas consequências?

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Tem sido bastante comum atualmente, em algumas correntes e estudos sobre parentalidade, a difusão da ideia de que não devemos elogiar nossos filhos. A ideia por trás dessa teoria é de que, ao oferecer elogios, a criança pode ficar dependente dele e só expressar comportamentos, escolhas e ter opiniões caso seja recompensada, tanto na infância como na vida adulta. 

A questão talvez não seja tanto sobre oferecer esses feedbacks positivos às crianças, mas a forma, o real motivo e o contexto em que é feito. Pensando de forma bastante honesta, quantos dos elogios que você expressa são genuínos ou escondem uma tentativa de manipular o comportamento do seu filho?

A pergunta pode parecer cruel em um primeiro momento, mas me dê um voto de confiança para seguirmos mais um pouco. O elogio pode ter o mesmo efeito que um castigo. Por que? Ambos podem estar a serviço de oferecer um reforço, seja negativo ou positivo, para moldar um comportamento, seja para que ele não se repita ou para ser mantido. Quando a criança, por exemplo, conquista uma nova habilidade, tendemos a bater palmas, dizer palavras de afirmação como “muito bem / estou orgulhosa de você/ você conseguiu / que linda / parabéns / deu certo” e tantas outras. Como diz aquele meme da internet, “errado não tá”, no entanto, frases como as citadas acima valorizam muito mais o resultado em si do que o processo. 

Chegamos então à diferença entre elogiar e encorajar. 

O elogio costuma ser caracterizado por uma generalização sendo impessoal, ou seja, pode ser aplicado a qualquer pessoa em diferentes situações. Além disso, tende a focar na linha de chegada, no resultado final, como algo estático que pode inclusive ser oriundo do acaso ou sorte. Já o encorajamento, é mais pessoal, mostrando o quanto o que está sendo dito é dirigido a alguém em específico, não podendo ser oferecido da mesma maneira a pessoas e situações diferentes. Mais que isso, costuma valorizar o processo da conquista, mirando o esforço e empenho na realização do que foi alcançado. 

O que isso muda para a criança?

A criança ao ser encorajada se sente olhada, percebe que houve presença e atenção a ela, não é algo vago distribuído de forma aleatória e dessa forma passa a construir uma base sólida para o desenvolvimento da sua confiança, auto estima, segurança e liberdade de ser quem ela é. Oferece para a criança a possibilidade de enxergar o quanto o que foi conquistado é resultado da sua dedicação e não obra do destino apenas. Já o elogio oferece um reforço instantâneo, e, portanto, passageiro, de forma que a criança se sente compelida a ter de fazer mais e mais para seguir sendo nutrida, pois não consegue perceber a relação entre o resultado e seus méritos nisso. O nosso cérebro é movido por recompensa, não à toa somos uma sociedade viciada em likes e curtidas, elogiar é dar uma injeção de dopamina, o corpo se acostuma e passar a querer sempre mais. Por isso a ideia de que o elogio torna as crianças dependentes. 

Encorajar é uma maratona completa, elogio é um tiro curto de cem metros rasos. 

Como encorajar? Ofereça aos seus filhos presença, atenção, se mostre interessado naquilo que é importante para ele, por mais que não tenha a mínima graça para você, pois tudo isso irá lhe fornecer elementos para expressar encorajamento, como por exemplo “uau, que bacana que agora você consegue andar de bicicleta sem rodinhas de apoio, parabéns por ter se dedicado tantas horas nos finais de semana, ter enfrentado seus medos e superado as feridas de quando caiu, isso faz você estar cada dia melhor”. Percebe a diferença? 

Contudo, tenha sempre em mente: afeto nunca é demais e amor não estraga ninguém!

por Arieli Groff

Arieli Groff é mãe da Maitê e psicóloga, especializada em Luto Adulto e Infantil e Teoria do Apego. Idealizadora do Instituto Pirilampos voltado para maternidade e infância. autora e organizadora dos livros “Quando uma mãe nasce”, “Que medo é esse?” e “Toda mãe tem histórias para contar”.


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