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Arieli Groff

Seu filho pede ajuda para fazer coisas que já consegue fazer sozinho?

Entenda o que pode estar por trás destes pedidos

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“Não consegue fazer nada sozinho, me pede ajuda para tudo o tempo todo, tô cansada, se ganhasse 1 real por cada mamãe que escuto no dia estaria rica...”

Essas são algumas falas que quase diariamente escuto de mães, e que eu mesma tantas vezes já me peguei falando ou pensando com todas as minhas forças. A sensação de que somos em tantos momentos reféns dos nossos próprios filhos, buscando onde erramos ou automaticamente rotulando a criança como dependente. 

Precisamos entender que chamar uma criança de dependente é redundância. Toda criança necessita dessa dependência, ela ainda não tem capacidade cerebral, emocional e psíquica para ser um ser independente (se é que algum dia de fato se chegue nesse estado de independência...). O que a criança vai conquistando aos poucos, ao longo do seu desenvolvimento, é autonomia, a qual vai estar mais ou menos conquistada ao final da adolescência. 

Esse estado de dependência é biológico e é o que garante a sobrevivência do bebê, além de ser condição primordial para seu desenvolvimento amplo (físico, cognitivo, emocional e psicológico). A criança precisa ser nutrida em todas essas esferas para desenvolver recursos internos que possibilitem que vá superando cada fase e ciclo do seu crescimento. 

Garantir afeto a uma criança é permitir que ela se desenvolva em toda sua potencialidade. 

Mas então por que ao atingir alguns marcos de desenvolvimento e conquistar autonomia para algumas coisas, as crianças por vezes seguem pedindo ajuda naquilo que já possuem habilidade para fazer? O primeiro ponto é que precisamos olhar além do que está sendo pedido. Nem sempre o que a criança verbaliza é o que ela de fato necessita. Crianças fazem pedidos deslocados o tempo todo, justamente por ainda não terem maturidade cerebral para conseguirem nomear tudo que verdadeiramente sentem. 

Precisamos ouvir o que a criança pede, e entregar o que ela precisa. 

Quando nossos filhos pedem nossa ajuda, na grande maioria das vezes, estão pedindo a nossa presença, nosso olhar, nosso afeto, nossa conexão. Não solicitam nosso apoio por não conseguirem realizar tal atividade, mais do que dos nossos braços precisam da nossa alma, entregue e disponível para trocas afetivas. 

Como mães e pais, precisamos ativar nosso radar para captarmos o que em tantas vezes está muito além do que é dito. Precisamos estar disponíveis e atentos para sentir as sutilezas de seus pedidos, entendendo o que de fato necessitam, muito mais do que aquilo que desejam. Vai funcionar sempre? Óbvio que não. Assim como uma conexão de internet, a nossa vai apresentar instabilidade, sinal fraco, velocidade lenta e muitas vezes não entregar na velocidade esperada, mas o fato de estarmos atentos a isso já nos coloca em um lugar diferente. 

Nossos filhos são mestres em nos abrir para oportunidades de afetos, basta estarmos dispostos a escutar além da palavra.

por Arieli Groff

Arieli Groff é mãe da Maitê e psicóloga, especializada em Luto Adulto e Infantil e Teoria do Apego. Idealizadora do Instituto Pirilampos voltado para maternidade e infância. autora e organizadora dos livros “Quando uma mãe nasce”, “Que medo é esse?” e “Toda mãe tem histórias para contar”.


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