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Arieli Groff

Validar as dores das crianças: “não foi nada” para quem?

Qual a importância de acolhermos as dores infantis?

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A grande maioria de nós já ouviu e até mesmo disse para uma criança “não chora, não foi nada”, fazemos isso com o objetivo de acalmar a criança, fazê-la esquecer da sua dor e seguir em frente. 

Mas o que de fato podemos estar comunicando com esse gesto tão cheio de boas intenções? 

Acolher as emoções das crianças é parte fundamental para seu desenvolvimento. Vivemos em uma sociedade onde reações como medo, raiva, tristeza e até mesmo desejos, são ignoradas, negligenciadas e algumas entendidas como negativas, sendo necessário escondê-las e negá-las. Não existem emoções negativas, elas apenas são. O que torna elas positivas ou não, é como escolhemos agir a partir delas. 

Quando negamos a dor que para a criança é real, legítima e por vezes intensa naquele momento, estamos de forma implícita comunicando que o que ela sente não é importante, não merece atenção e deve ser rapidamente esquecido. Dessa forma, a criança fica em um estado de confusão e desconexão, pois há um hiato entre o que ela está sentindo e o que está sendo falado a ela. 

Quais as possíveis consequências disso?

Além de comunicarmos que seus sentimentos não são merecedores de atenção, poderá interferir no seu desenvolvimento emocional e psíquico, uma vez que ela não recebe espaço para identificar suas emoções. A parte do cérebro responsável por nomear e regular as emoções está em desenvolvimento até os 25 anos, ou seja, a criança precisa de alguém que a auxilie a fazer essa tarefa, um adulto atento e empático que possa traduzir a ela o que sente. Se o que a criança tem disponível é um espaço de traduções distorcidas, que não reflete o que ela sente, vem o sentimento de inadequação e confusão, podendo futuramente se tornarem adultos que não conseguem expressar o que sentem, inseguros de si mesmos, com dificuldade de perceberem o que necessitam, dependentes das vontades e opiniões de outras pessoas e sem inteligência emocional. 

Gosto de comparar reações emocionais das crianças com afogamentos, porém no lugar da água estão inundadas por suas emoções. O que a criança precisa nesse momento é de alguém que jogue a bóia e a salve dessa sensação de extrema ansiedade e que pode ser vivida como permanente, uma vez que crianças, especialmente na primeira infância, ainda não possuem maturidade cerebral para entender as emoções como transitórias. 

Como ajudá-las nesse momento?

Precisamos parar de dizer a elas que sua dor não foi nada e que seu choro já vai passar. Acolher suas emoções de forma honesta e empática, é fundamental para que elas se sintam seguras e com isso, possam de fato elaborar o que aconteceu e construir a capacidade de regularem suas emoções mais a frente. Para isso, devemos lembrar que somos nós os adultos da relação e que para identificar as emoções da criança, temos que estar conscientes das nossas próprias. Se acolher e ser gentil consigo mesmo pode ser um excelente início para uma relação e educação como nossos filhos mais consciente, afetiva e saudável para todos, hoje e por todo futuro deles!

por Arieli Groff

Arieli Groff é mãe da Maitê e psicóloga, especializada em Luto Adulto e Infantil e Teoria do Apego. Idealizadora do Instituto Pirilampos voltado para maternidade e infância. autora e organizadora dos livros “Quando uma mãe nasce”, “Que medo é esse?” e “Toda mãe tem histórias para contar”.


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