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Arieli Groff

Recompensa e castigo: faces de uma mesma moeda

Se você costuma premiar ou castigar seu filho, Arieli Groff te convida a rever esta postura

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Vivemos em uma sociedade em que ainda muito se acredita que as crianças, quando não apresentam um comportamento conforme o desejado ou esperado pelos pais, são dignas de receberem castigos para que corrijam suas atitudes. 

Em pesquisa feita nos Estados Unidos, 80% dos pais e mães defendem a punição como forma de educar, sendo curiosamente um índice semelhante ao que defende a pena de morte para detentos. 

Mas qual o sentido em fazer alguém se sentir mal, culpado ou envergonhado para melhorar seus comportamentos? 

A autonomia é uma das necessidades mais básicas do ser humano, ficando atrás somente de segurança e senso de pertencimento. Quando uma pessoa sente que não possui o direito de escolha, tende a resistir e se tornar menos colaborativa. Tenha ela um ou cem anos de idade. 

Marshall Rosenberg, um dos maiores estudiosos em Comunicação Não Violenta, fez um experimento em suas palestras e workshops com pais e mães. Um grande grupo era dividido em dois, cada qual em uma sala separada. Ambos receberam a tarefa de escrever um diálogo com alguém, em uma situação conflituosa, no entanto, para um dos grupos foi dito que o conflito se dá com um filho e para o outro, que o conflito se passa com um adulto. Ao retornarem da tarefa e compartilharem com todos os diálogos de cada grupo, ficou evidente que a discussão com um filho demonstrou ser mais desrespeitosa comparada ao grupo que trabalhou com o conflito sendo com um adulto. 

Por que ao designarmos alguém como filho ou criança temos internalizado que essa pessoa merece menos respeito do que um adulto? Será que falaríamos com uma amiga ou um vizinho da forma que tratamos nossos filhos? 

Os rótulos podem ser perigosos, no momento que definem a forma como nos relacionamos com o outro, especialmente se aprendemos que por ser uma criança ela tem a obrigação de ser obediente e atender nossas expectativas, desejos e crenças de como deve se comportar. 

Querer que o outro faça algo somente por ser essa nossa vontade, pode ser bastante perigoso, extinguindo da pessoa a oportunidade de desenvolver seu senso de segurança, autonomia e confiança. Oferecer recompensas como forma de convencer o outro a agir como gostaríamos é tão opressor quanto punir. Ambas as atitudes são manipulações para que alcancemos nosso objetivo particular, sem muitas vezes levar em consideração as necessidades do outro, seja esse outro uma criança ou um adulto. 

Punir e castigar uma criança por um comportamento indesejado significa dizer que a amamos de forma condicionada, que ou ela oferece a resposta certa ou não a queremos perto e que merece se sentir culpada ou envergonhada pelo que fez. 

Será que nossos filhos têm a clareza do motivo pelo qual os amamos? Será que está claro para nós que eles merecem nosso amor por quem são e não pelo que fazem?

Convido a cada uma e cada um aqui a fazer a seguinte pergunta aos seus filhos: “Filho, por que a mamãe/papai te ama?”

As respostas podem surpreender você e ainda criar uma ótima oportunidade a todos de fazer o afeto e o amor circularem entre todos!

por Arieli Groff

Arieli Groff é mãe da Maitê e psicóloga, especializada em Luto Adulto e Infantil e Teoria do Apego. Idealizadora do Instituto Pirilampos voltado para maternidade e infância. autora e organizadora dos livros “Quando uma mãe nasce”, “Que medo é esse?” e “Toda mãe tem histórias para contar”.


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