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Arieli Groff

Cama compartilhada: problema ou solução?

Crianças que se sentem ameaçadas e têm medo de dormir sozinhas precisam de um um ambiente seguro afetivamente para que cresçam e se desenvolvam bem.

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É diário o relato que recebo de mães que se sentem julgadas por fazerem cama compartilhada com seus filhos. No entanto, junto com o incômodo da crítica, sentem também a angústia  se estão fazendo certo, se pode ser prejudicial ao desenvolvimento da criança e se essa dificuldade da separação não é delas próprias (as mães).

Vamos por partes

Existe algo chamado comportamento de apego: um comportamento biológico, instintivo, inato em todos os seres humanos, que está presente do momento do nascimento ao fim da vida. O comportamento de apego busca a sensação de proteção e segurança, necessidades básicas para a sobrevivência. A criança expressa essa busca de formas variadas, sendo o choro a mais poderosa ferramenta de todas. 

O nosso comportamento de apego não está o tempo todo ativado, ele é ligado quando há uma percepção de ameaça, entendo aqui pelos olhos da criança: fome, frio, calor, sede, sono, raiva, tristeza, sentir-se sozinho e aquele crocodilo que teima em se instalar debaixo da cama à noite, são ameaças reais para a criança, legítimas e que portanto, ligam a busca pela proteção e segurança. O comportamento de apego então, é ativado. 

Criança que sente segura dorme. Criança que se sente insegura e ameaçada, não dorme

Muitas mães, instintivamente, sentem a necessidade de colocar seus bebês, sejam eles pequenos ou já maiores, em suas camas. É a biologia do apego em ação: a fêmea cuidando da sua cria. Ser uma figura de apego seguro é fundamental para o desenvolvimento físico, emocional, psicológico e cognitivo da criança. Criança que tem a garantia do afeto e de possuir um refúgio seguro, tem a possiblidade de explorar o mundo a sua volta com mais tranquilidade, pois sabe que sua rede de proteção estará presente caso algo dê errado. 

Toda criança é dependente de proteção, apego a afeto

A sociedade de forma geral, se incomoda ao ver uma mãe que atende as necessidades de uma criança, julgam que é mimada, que será frouxa, que é dependente demais. O quanto isso retrata um desamparo afetivo de um coletivo que não recebeu esse olhar amoroso, que precisou seguir na vida sendo forte o tempo inteiro, sem lugar para expressar suas emoções. Não à toa, lidamos tão mal como nossos sentimentos, nos desorganizamos ao nos sentirmos vulneráveis, não permitimos entrar em contato com aquilo que nos toca. 

Medo noturno pode estar relacionado com problemas ocorridos durante o dia

Lugar de criança é ao lado da sua figura materna, de quem lhe oferece segurança e proteção. O acordar noturno pode muitas vezes representar problemas diurnos. Muitas crianças acordam a noite por se sentirem com medo e inseguras; outras por entenderem que nesse momento a mãe não está fazendo nada e portanto, disponível para ser chamada. Em todas as situações elas só buscam uma coisa: se sentirem seguras! 

Deixemos as crianças dormirem em paz, suas mães também, onde quer que estejam!

por Arieli Groff

Arieli Groff é mãe da Maitê e psicóloga, especializada em Luto Adulto e Infantil e Teoria do Apego. Idealizadora do Instituto Pirilampos voltado para maternidade e infância. autora e organizadora dos livros “Quando uma mãe nasce”, “Que medo é esse?” e “Toda mãe tem histórias para contar”.


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