capa
Arieli Groff

Retorno às aulas presenciais: escolas como base segura para as crianças

Enquanto algumas crianças aguardam ansiosas por esse momento, outras terão dificuldades em voltar para a rotina

publicidade

Há quase um ano e meio tivemos nossa ideia de mundo rompida, muitas das certezas que tínhamos foram anuladas, estamos todos de alguma forma, em luto. Nós mães, somos as eleitas por nossos filhos como as suas principais figuras de apego desde o nascimento, aquelas a quem recorrem quando se sentem ameaçados de alguma forma e buscam por proteção e segurança.

A escola, muito centrada na figura da professora, também exerce esse papel de ser uma base de segurança e confiança para as crianças. É nesse encontro muitas vezes que problemas na aprendizagem são identificados, dificuldades em casa são detectadas e até compartilhadas pelas próprias crianças. No entanto, com aulas remotas, as escolas foram privadas desse papel, essa base segura foi retirada dos nossos filhos.

E seja para mães, seja para escolas e professoras, como seguir sendo uma fonte de proteção e segurança sentindo-se elas próprias ameaçadas, com medos e inseguras?

Volta às aulas: reações diferentes

É nesse complexo e desafiador contexto que vivemos o retorno das aulas presenciais. Muitas crianças aguardavam ansiosas por esse reencontro com os amigos, professora, rotinas e ambiente escolar. No entanto, não podemos generalizar e idealizar que todas as crianças desejam esse retorno da mesma forma, e que irão reagir de forma semelhante.  

Nesse um ano e quatro meses de isolamento, ficamos todos mais evitativos em relação ao mundo. Aprendemos a evitar as pessoas, encontros, abraços, trocas. Desenvolvemos a capacidade de nos recolhermos em nosso universo particular como forma de sobrevivência. Mas e como voltar a ter fé no futuro? Como ensinar isso às crianças que agora resistem em ir para escola, sentem dificuldade em separar-se da mãe, estão com medo do novo e se assustam com o desconhecido?

Muitas crianças nesse tempo de isolamento, se tornaram mais dependentes, demandantes das mães e dos pais, algumas voltaram a pedir ajuda para tarefas que já haviam desenvolvido autonomia. Isso significa que regrediram? Provavelmente não, apenas que elas encontraram uma forma de expressar o que a grande maioria de nós adultos também desejávamos: “Tá tão difícil, preciso de colo, fica aqui comigo?”

Comportamento é comunicação

Todo comportamento é uma comunicação e nenhuma criança (nem adulto) pede aquilo que não precisa.

Aos poucos, e com o retorno de aulas presencias, vem chegando o tempo de sair novamente da casca criada como proteção. É preciso voltar a confiar. Mais do que nunca, as escolas precisam assumir seu papel de base segura para as crianças. Para alguns dos nossos filhos será apenas um “tchau mãe” e dar as costas, outros vão precisar de mais tempo, mais acolhimento, mais garantias de que o mundo lá fora pode novamente ser confiável e seguro.

Precisamos alinhar nossas expectativas e o que é necessidade nossa com as dos nossos filhos. Entender que o tempo deles nem sempre coincide com o do relógio, do calendário ou da nossa agenda. Que vivemos um momento de reaprendizagens, tanto sociais, afetivas como psicológicas. Precisamos ter clareza que o novo assusta, o desconhecido gera insegurança e que o mais irracional e ilógico dos medos infantis é legítimo e sentido como real pelas crianças.

E hora do afeto e do acolhimento se espalharem e se tornarem a nova pandemia a ser vivida! É hora de apesar de tudo, ter fé no futuro!

por Arieli Groff

Arieli Groff é mãe da Maitê e psicóloga, especializada em Luto Adulto e Infantil e Teoria do Apego. Idealizadora do Instituto Pirilampos voltado para maternidade e infância. autora e organizadora dos livros “Quando uma mãe nasce”, “Que medo é esse?” e “Toda mãe tem histórias para contar”.


compartilhe