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Madeleine Muller

A moda e as minorias: oportunidades para quem consome e quem produz

Devemos nos perguntar o quanto a moda abraça as individualidades e os diferentes corpos que habitam a sociedade

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Sempre que pensamos na relação do brasileiro com a moda, fica claro o quanto a forma de se vestir é importante no dia a dia, seja como fator de expressão, comunicação e até mesmo divulgação de pensamentos, seja como forma de diferenciação e fuga do tradicional, do imposto pelo “dress code”, simplesmente quebrando as regras. Também podemos analisá-la apenas como um veículo para nos sentirmos confortáveis e seguros com nós mesmos, mas de qualquer forma, a moda está sempre presente, direta ou indiretamente em nossas vidas. Mas será que essa lógica alcança a todos?

Não podemos esquecer que a moda sempre foi sobre pertencimento, antigamente focada em status social, agora em identidade. Devemos nos perguntar o quanto a moda abraça as individualidades e os diferentes corpos que habitam a sociedade? Você já pensou que cadeirantes e idosos, por exemplo, têm desejos de se vestir “na moda” mas nem sempre encontram opções para suas realidades? Ou, se essas existem, são em número inexpressivo e pouco adaptáveis? Ou esteticamente desinteressntes?

Quando pensamos no mercado da moda como um todo, a quem, de fato, ele atende de maneira completa? Estamos realmente cuidando das minorias que já enfrentam dificuldades no dia-a-dia e que poderiam ter a moda como ponto de conforto, acolhimento, ou ela é apenas mais um ponto de batalha nessas necessidades diárias? Todos nos vestimos diariamente, então afeta a todos!

Lendo um relatório recente da MindMiners sobre esses temas, que incluem a diversidade e a inclusão na moda, refleti sobre o relacionamento atual das pessoas com deficiência (PCDs), idosos e LGBTQIA+ com a moda e com o vestir-se. O estudo demonstra como essas minorias se interessam e buscam ativamente pela moda – algumas delas em uma intensidade até maior frente à população geral, evidenciando uma oportunidade latente para o mercado.

A partir de diferentes cruzamentos comportamentais, identificou-se um perfil, denominado “fashionistas”, representando os brasileiros que têm um relacionamento mais próximo e maior engajamento com a moda, estando presentes em todas as classes sociais, gêneros e gerações, e representando um público com altíssimo potencial quando se fala sobre frequência de compra.

Decisões de Compra

Dos quesitos mais importantes para os consumidores em geral, é importante demonstrar que o principal motivo para uma compra é o preço, e obviamente, levando em conta o contexto econômico, este fator se apresenta com natural importância na hora de colocar os pesos na balança antes de comprar qualquer produto.

Preço - 64%

Conforto - 60%

Tamanho - 42%

Qualidade do tecido - 41%

Beleza e caimento da peça - 36%

Cor e estampa - 34%

Outro dado interessante é a preferência entre plataforma digital e meio físico para as compras. O on line tem 15% de preferência do público geral sendo a loja online admirada por oferecer bons preços, maiores possibilidades de descontos, cupons e praticidade. O impedimento para esta modalidade de compra é, principalmente, não poder experimentar a peça antes. Em relação à loja física, 49% dos entrevistados na pesquisa preferem essa opção pois experimentar é a alma do negócio.

Depois de quase dois anos comprando online, muita gente errou nos tamanhos e medidas das roupas que comprou, o que fez valorizar a preferência pelas lojas físicas. Não só isso, outro ponto forte aqui é não ter que pagar pelo frete e ter que esperar o produto chegar.

Do restante, os que não têm preferência de ambiente de compra (16%) ou acham que essa escolha depende muito do tipo de roupa que irá comprar (21%), são híbridos: gostam de aproveitar o melhor dos dois mundos.

E em relação à representatividade?

Vamos aos percentuais nos quesitos que envolvem a diversidade e a inclusão, algo que nem sempre foi valorizado no meio da moda, deixando esses consumidores na invisibilidade, mas eles estão cada vez mais exigindo uma resposta dos fabricantes.

47% - Não compra nada de marcas que se posicionam CONTRA pautas sociais (LGBT+, raciais, etc).

86% - Prefere marcas que tenham modelos de vários tipos de corpo, assim, sabem que as roupas ficarão boas neles também

66% - Acha que falta padronização de tamanhos de marca para marca e isso atrapalha na hora de comprar roupas novas

50% -  Diz que sempre se frustra por não encontrar peças pensadas para seu tipo físico

Essas respostas evidenciam que a importância dada à identidade própria e a expressão através da moda é enorme, e deveria ser um direito de todos, mas que não necessariamente lhes confere o acesso. Quando abordamos a inclusão na moda, vemos que ainda falta muito para um cenário de representatividade que envolva questões de gênero, idade, raça, diversidade de corpos, atendimento às deficiências, enfim, há um universo de desafios que poderiam ser transformados em oportunidades, mas que muitas marcas e lojistas não percebem.

A diversidade e a inclusão na moda deveriam ser uma realidade, e não pauta eventual, afinal, a moda, enquanto instrumento de transformação social, deveria promover o acesso aos espaços e direitos de todos, ouvindo mais os consumidores e entendendo que não basta reconhecer os problemas, é preciso trabalhar ativamente em prol das possíveis soluções.

por Madeleine Muller

Madeleine Muller é produtora, professora no curso de Design de Moda da ESPM, stylist e mãe da Alexia e do André. Pesquisa o consumo consciente da moda e é autora do livro Admirável Moda Sustentável. Escreve quinzenalmente para o Bella Mais. Acompanhe seu dia a dia pelo Insta: @Madi_muller


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