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Madeleine Muller

Etiqueta nas redes sociais: por que estão surgindo tantos tutoriais

Com a volta da temporada de festas, muitos sentem-se inseguros em como agir, tudo em nome da chamada adequação social

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Você já deve ter visto algum influencer dando dicas de como se comportar à mesa, como cumprimentar alguém equilibrando um copo e uma bolsa, o que vestir em determinada ocasião, como manejar os talheres. Coisas aparentemente simples, mas que geram dúvidas após um período de total ”falta de ocasiões” para treinar suas habilidades, frequentar e se relacionar com outras pessoas em função do isolamento social provocado pela pandemia.

E aqui já temos a primeira pista para esse fenômeno das aulinhas, dicas e tutoriais sobre “como se portar” em determinadas situações ou eventos. Muitos jovens chegaram na idade das festinhas em plena ausência das mesmas, impossibilitados de frequentar lugares e eventos públicos onde, claro, existem rituais e códigos de convívio, que se tratam de construções sociais aprendidas ao longo do tempo. E agora que já está decretada a volta da temporada de festas, muitos sentem-se inseguros em como chegar, como agir, o que evitar, tudo em nome da chamada adequação social.

Fica latente que a percepção dessas motivações demonstra como o universo digital é permeado pela vaidade e pelo desejo de “performar bem”.  Existe um desejo de ser aceito, incluído ou até mesmo admirado por seus pares — na chamada sociedade do espetáculo todos nós performamos, de certa forma, em busca de aplausos ou likes. No caso da juventude, em especial, esse contexto ganha ainda mais importância, a partir da construção da personalidade e da necessidade de ser aceito, o tal pertencimento.

As chamadas boas maneiras não são exatamente uma novidade, mas se consolidaram como a nova febre de conteúdos do TikTok, por exemplo. Há muita coisa útil para se aprender, sem dúvida, mas algumas carecem do fator atualização para novos tempos, novas linguagens e novos espaços de fala. Sim, a etiqueta pode envelhecer e não fazer sentido dependendo do contexto, se não acompanhar a evolução da sociedade e dos novos comportamentos, mas a boa educação jamais terá prazo de validade. E isso independe de classe social.

Engana-se quem enxerga na demanda por esse tipo de conteúdo um mero reforço do elitismo. Afinal de contas, todas as camadas da sociedade podem ter seus ritos e cerimoniais, reinterpretando códigos e adaptando às próprias realidades e contextos. Trata-se de lembrar os regramentos de bem-viver (e conviver) com respeito ao próximo e às diferenças daí advindas.

Nada acontece por acaso, as regras de etiqueta também. Elas surgiram na França, como forma de padronizar o comportamento de um grupo social. Mas o homem da pré-história já havia aprendido a cooperar e se organizar socialmente, até como forma de garantir sua sobrevivência. Na época dos faraós egípcios, a maneira quase ritualística de se portar à mesa separava a nobreza dos escravos. Quando Luís XIV governava a França, a padronização de costumes durante os banquetes teve seu apogeu.

Inclusive, a palavra etiqueta se deve a ele, que costumava ditar suas regras em etiquettes- etiquetas de papel- que eram entregues aos nobres para que estes soubessem como se portar na presença do rei. Mais de três séculos depois, sem os rigores das cortes e em tempos de redes sociais, as hashtags #etiqueta e a versão em inglês e francês, #etiquette, somam quase 4 bilhões de visualizações, sem contar as variações do tema.

A seguir, alguns lembretes sobre como agir (ou não) nas redes sociais, principalmente qdo. envolvemos outras pessoas, seguidores ou não, nessas ações:

1-Não inunde suas redes com posts a todo o instante. Por vezes demasiada informação tem o mesmo efeito que nenhuma informação. O “oversharing”, ou seja, o excesso de pensamentos, pontos de vista, ações e fatos irrelevantes do seu dia-a-dia talvez não interessem tanto assim aos seus seguidores.

2-Respeite o status dos chats de conversação. Se alguém está indisponível é porque, por algum motivo, não pode falar. Da mesma forma, evite ligações diretas pelo whatsapp antes de checar (por texto) se a pessoa pode falar naquele momento.

3-Não faça comentários preconceituosos e/ou agressivos. Lembre-se que um pequeno comentário poderá ter um grande impacto em quem o lê. Além disso, fica escrito e visível por tempo indeterminado, podendo virar algo maior ou pior quando descontextualizado (se foi em tom de brincadeira, pode não ter tido essa interpretação) e ainda virar prova em uma ação de calúnia, injúria e difamação.

4-Nunca repasse publicações de conteúdos inapropriados, como imagens ou vídeos de tortura, abusos, violência ou pornografia. Evite constrangimentos e não incorra em atos ilegais: não publique.

5-Não escreva mensagens em letra maiúscula. Quem lê, entende que você está gritando, dando uma ordem ou se dirigindo em tom agressivo.

6-Tente utilizar uma linguagem agradável e evite os erros ortográficos. A forma como se transmite uma mensagem pode superar em atenção o conteúdo da mesma.

7-Evite o envio constante de convites para jogos, aplicativos e correntes. Essas últimas, que obrigam a pessoa a repassar a mais amigos para não “quebrar” a corrente, ocupam espaço e entopem caixas de entrada. Já somos diariamente bombardeados pelo excesso de mensagens, não é mesmo?

8-Evite postar identificando pessoas nas fotos ou comentários. Pode não ser agradável ter sua foto vinculada a outro perfil, muito menos se começar a receber notificações por cada comentário colocado.

9-Peça permissão antes de adicionar alguém a um grupo ou lista de transmissão. É importante certificar-se de que essa ação não cause constrangimentos. Pertencer a um grupo pode ser uma coisa simples e inocente, mas também pode associar a algum ideal social, político ou comercial do qual a pessoa não queira fazer parte.

10-Não tome o lugar da imprensa. Lembre-se de checar suas fontes, não repasse simplesmente tudo que recebe em seus grupos, já estamos atolados de “fake news” por todos os lados. Reproduzir notícias de jornais ou revistas a toda a hora ou “retweetar” tudo que achamos interessante pode ser repetitivo e cansativo.

Na onda dos modismos nossos de cada dia, é tempo de refletir sobre os fenômenos sociais e sua influência em nossas vidas, aprendendo a descartar conteúdos que não fazem sentido ou sem fonte credível. Vivemos tempos complexos e excesso de informação e de estímulos. Cumpre separar o joio do trigo, medindo as palavras e as ações, sendo sensato e exercendo a empatia. Boa educação no virtual e no presencial nunca sairá da moda.

por Madeleine Muller

Madeleine Muller é produtora, professora no curso de Design de Moda da ESPM, stylist e mãe da Alexia e do André. Pesquisa o consumo consciente da moda e é autora do livro Admirável Moda Sustentável. Escreve quinzenalmente para o Bella Mais. Acompanhe seu dia a dia pelo Insta: @Madi_muller


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