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Fabiana M. Machado

Investir dinheiro é assunto de mulher?

Fabiana Mendonça Machado faz um resgate do comportamento investidor da mulher

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Nesta semana do Dia Internacional da Mulher, em que debates importantes marcam as constantes lutas das mulheres para conquistar os seus direitos, percebemos que muito avançamos para gerar o próprio dinheiro. Mas, no que diz respeito a investir o dinheiro, ainda temos um comportamento mais passivo.

Segundo dados do IBGE, 51,7% da população brasileira são mulheres. Embora maioria, poucas mulheres fazem parte do mercado de investimentos. A poupança é o investimento mais comum, mas quando falamos em Tesouro Direto, em torno de 30 a 40% dos investidores são mulheres. Já na bolsa de valores, de acordo com a B3, somente 26% são mulheres.

O número de mulheres investidoras vem crescendo, mas ainda lentamente. Falta conhecimento? Falta dinheiro? Falta interesse?

Para responder a essas perguntas, decidi fazer uma pesquisa com um grupo de mulheres para saber “O que te impede de investir o seu dinheiro?” As respostas foram diversas, mas espelham a realidade de muitas mulheres brasileiras.

Liberdade

Muito se comemora a conquista da mulher ao direito ao voto. Mas você sabe quando a mulher passou a ter direito ao CPF, abrir conta em banco e ter o próprio negócio? Apenas em 1962, com o Estatuto da Mulher Casada (Lei n. 4.212), que permitiu que mulheres casadas não precisassem mais da autorização do marido para trabalhar e modificou alguns artigos do Código Civil Brasileiro, entre eles o 6º que atestava a incapacidade feminina para alguns atos.

A mulher era considerada propriedade do homem. E, se voltarmos um pouquinho na história, veremos que o trabalho e o provento eram funções do homem e a função da mulher era de servir, embora tivesse responsabilidades na agricultura e tarefas domésticas. Além de considerada incapaz, com o amparo da legislação brasileira, à mulher não era permitido estudar e assuntos relacionados a dinheiro era exclusivamente de homens.

Para a geração mais nova, talvez seja difícil imaginar essa relação de total dependência. Mas o passado não é muito distante. Ainda sofremos com os resquícios da sociedade patriarcal e ainda tem muitas mães e avós pra contar essa história.

E, de alguma forma, crescemos vendo nas nossas famílias ou ouvindo que dinheiro não é assunto de mulher. E muitas, em um rompante em busca de liberdade, só conseguiam dizer às suas filhas: “não dependa financeiramente do marido”. O que fazer? Essa receita não foi passada de uma geração para a outra.

Mas o sentimento de raiva permeou muitas dessas relações familiares, inclusive em relação ao próprio dinheiro. E, assim, muitas de nós crescemos com um sentimento dúbio de raiva do maldito dinheiro que prende as pessoas e, ao mesmo tempo, é libertador.

Medo de errar

O estigma de que a mulher gasta por impulso ou gasta mal o dinheiro permeia a consciência de modo a aniquilar, a todo momento, as nossas escolhas. Ainda lutamos com isso. E não perante a sociedade, mas internamente. 

Nossa evolução nos faz acreditar que é possível guardar dinheiro, mas a falta de confiança muitas vezes grita: “você não sabe investir bem o seu dinheiro”. Um golpe fatal na autoconfiança e na perseverança de querer aprender. Aumenta o medo de errar, torna o assunto desinteressante e a falta de tempo passa a ser a desculpa perfeita para não ter que lidar com o dinheiro.

Por outro lado, o excesso de confiança, comum nos homens, causa um comportamento diferente em relação à mulher, que é mais cuidadosa ao investir. 

Mas, por buscar mais segurança e ser mais conservadora, os produtos ofertados às mulheres tendem a ser de baixo risco. Reconhecendo cada vez mais a sua capacidade e aumentando a sua participação no mercado de investimentos, certamente a mulher obterá mais rendimentos e um melhor resultado.

Provedora e cuidadora

Com as mulheres ocupando mais espaços no mercado de trabalho, apesar da desigualdade salarial em relação aos homens, quase metade dos lares brasileiros já são sustentados por mulheres, segundo dados do Ipea. A prioridade, então, é pagar as contas e o dinheiro acaba não sobrando para investir.

Além de prover a família, há um fator relevante que interfere na decisão da mulher de guardar dinheiro: o de estar disponível para ajudar os outros, o que também contribui para diminuir boa parte da sua renda que poderia ser investida.

Vida real

A maioria das mulheres tem a sua renda oriunda do trabalho e vive no dilema entre gastar e guardar. São escolhas. Mas não vemos isso com bons olhos e nos vendamos com o rótulo de não sermos boas o suficiente para fazer render o próprio dinheiro.

Essa sensação de que "não sou inteligente" e "não sei fazer boas escolhas com o dinheiro" mais afasta do que ajuda a seguir o caminho.

Se tiramos a venda, vamos enxergar que não há fórmula mágica, mas sim um caminho do autoconhecimento, árduo, mas que trará a consciência da nossa maturidade e a convicção de que somos capazes de executar o que for preciso para atingir os nossos objetivos financeiros.

Nem tão complicado assim

Um passo ao rumo da tão sonhada independência e liberdade financeira pode ser mais simples do que se imagina para vencer as etapas do desconhecido mundo dos investimentos.

Já ouviu falar de liquidez? É a rapidez com o que o investimento estará disponível pra você usar quando precisar.

E a reserva de emergência? Que tal pensar numa reserva de liberdade? Aquela que faz sentido você guardar dinheiro e investir para quando precisar e não se apertar?

Há investimentos de renda fixa e de renda variável, que estão ligados ao risco que você está disposta a ter. E quando se fala em risco, no mundo dos investimentos, significa a possibilidade de perder o todo ou uma parte do dinheiro que investiu.

Quanto às opções, é fato que são inúmeras, mas com ajuda profissional é possível entender como o seu dinheiro pode render mais e melhor, assim como você procura a psicóloga para cuidar da sua saúde mental ou a nutricionista para emagrecer e se alimentar de forma saudável.

Na minha empresa, trabalhamos com treinamento e orientação personalizada para entender sobre investimentos e fazer você se envolver pessoalmente com as suas decisões na hora de investir. Isso também é independência!

O melhor investimento 

O melhor investimento é aquele que te deixa mais segura. Não quer dizer que você não possa arriscar ou ter um perfil mais ousado. Mas que você faça com conhecimento e segurança.

Enfim, investir dinheiro é assunto de mulher. Mas até chegar aqui, volte ao início do texto e veja tudo o que está no meio do caminho. Nas nossas lutas, o monstro também pode estar dentro de nós.

Quer saber mais? Acompanhe a minha coluna aqui no Bella Mais. Vamos juntas nesta jornada!

por Fabiana M. Machado

Fabiana Mendonça Machado é especialista em comportamento financeiro. É casada, mãe de dois filhos, empresária e uma das fundadoras da MoneyMind. Escreva para fabiana@moneymind.com.br para contar se este texto foi útil para você. @fabiana.m.machado


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