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Jovens de 18 a 24 anos estão mais depressivos no pós-pandemia, diz estudo

Cenário pessimista vivido no mundo desde 2020, com a pandemia da Covid-19, baixou as expectativas dos jovens em relação ao futuro

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Isolamento social, desemprego, queda no padrão financeiro, risco de contaminação e o medo das complicações (e da possibilidade de morte)... Estas são algumas das pautas que conduziram as conversas das pessoas do mundo todo desde janeiro de 2020, com o início da pandemia da Covid-19. E todas elas impactaram, em maior ou menor grau, na saúde mental das pessoas. 

Entre os jovens, o número de casos de depressão diagnosticados praticamente dobrou: em 2020, 7,7% dos jovens de 18 a 24 anos sofriam de depressão, contra 14,8% no primeiro trimestre de 2022, segundo a pesquisa Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), feita pela Vital Strategies e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Entre os ainda mais novos, da faixa etária entre 10 e 19 anos, estima-se que quase um em cada 6 jovens viva com algum transtorno mental. E, segundo o relatório Situação Mundial da Infância 2021, da Unicef, esse grupo se destaca por ser o mais exposto ao risco de automutilações, depressão e suicídio.

A problemática foi corroborada pelo coordenador do grupo de trabalho de Saúde Mental da Sociedade Brasileira de Pediatria, Roberto Santoro, em artigo publicado pela Fiocruz. Ele destaca a mudança no comportamento dos jovens e adolescentes nas consultas de agora em relação à antes da pandemia. “Digamos que há um sofrimento público. Já sabemos que os quadros de ansiedade e depressão dobraram por conta da pandemia, isso é percebido na clínica e ratificado em estudos científicos”, explica.

Claro que essa situação não é uma exclusividade brasileira. Estudo feito na Noruega e publicado pela revista científica 'Nature' revela que o cenário pessimista causado pela pandemia fez os adolescentes questionarem suas crenças básicas de que vivem em um mundo seguro, alterando suas expectativas em relação ao futuro. Segundo os autores do estudo, a recessão econômica tem forte impacto em que está começando sua carreira, dificultando ainda mais a entrada no mercado de trabalho.

A consultora da área de Desenvolvimento de Adolescentes da Unicef Brasil, Gabriela Mora, frisa, também para a Fiocruz, que "temas como a melancolia, a solidão e a angústia passaram a fazer parte do repertório de adolescentes na pandemia. Há muita incerteza com o futuro, além da perda de familiares, dos lutos todos vividos por esses adolescentes”, diz.

Escolas precisam atentar ao comportamento dos jovens

Os professores e todas as pessoas que atuam no ambiente escolar têm várias oportunidades, durante os turnos de aula, para identificar comportamentos que mereçam atenção de um adulto. Isso acontece principalmente porque a escola é o principal ambiente de interação das crianças e jovens.

Gabriela Mora, da Unicef, enfatiza que é nesse espaço privilegiado chamado escola que se deve tentar compreender a rotina dos jovens. “A escola é um lócus que precisa ser trabalhado no seu potencial para que aproveite cada vez mais essa capacidade de observação sobre um comportamento que seja diferente. As pessoas que estão ali no dia a dia com os adolescentes e com as crianças muitas vezes vão perceber primeiro quando algo não está legal, quando alguém está se sentindo afetado no seu bem-estar”, indica.

Ciente desse papel fundamental da escola nesse pré-diagnóstico e cuidado com os jovens, Roberto Santoro aponta que, apesar de algumas iniciativas isoladas, boa parte das escolas não tem estrutura para tratar as questões ligadas à saúde mental. “As escolas precisam de um programa para incentivar professores, funcionários, famílias e os alunos a falarem de saúde mental, mostrando a importância do tema e de se incluir aquelas pessoas que ainda são isoladas e excluídas por terem algum problema de saúde mental", comenta.

Para tudo isso acontecer, é fundamental que os professores contem com recursos para trabalhar o tema: eles precisam ser parte de uma comunidade com outros serviços de assistência à saúde. Assim, juntos e integrados, os profissionais vão traçar novos caminhos para promover a saúde mental entre os jovens, seja promovendo espaços de escuta e rodas de conversa, seja mediando as pesquisas sobre conteúdos confiáveis sobre saúde mental, seja encaminhando cada caso aos profissionais adequados.


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