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Atenção, pais: quem come mal, ensina mal!

Hábitos alimentares dos pais influenciam - para o bem e para o mal - como os filhos vão se alimentar no futuro

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Não importa se você tem filhos, está esperando o primeiro ou ainda está no planejamento de uma gestação, provavelmente você já deve saber que sua vida (e a do seu par) vai mudar muito. Afinal, vocês serão diretamente responsáveis pela vida e pela educação de um bebê, que aprenderá com você a enxergar o mundo.

Os hábitos alimentares estão nessa lista do que os pequenos aprendem com os pais. Como as crianças aprendem através dos exemplos e seu cérebro funciona muito bem em relação à imitação, é muito provável que elas repliquem  todos os comportamentos que observarem os pais fazendo. 

Segundo a gastropediatra e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Feevale, Aline Friedrichs de Souza, como para tudo na vida, ter um filho também precisa de planejamento. “O ideal é já olhar para os hábitos alimentares antes de decidir ser pai ou mãe, pois é preciso de um tempo para adaptar a programação metabólica dos pais que, quanto mais saudáveis forem, mais saudável ser a carga genética que transmitirão para a criança”, comenta. 

Mas é claro que quem já tem filhos ou está esperando pode começar a se preocupar com isso desde já, principalmente porque, se as crianças aprendem pelo exemplo, antes de apontar um comportamento errado na criança, os pais precisam olhar para si. “Ele não come isso, não come aquilo, não dorme, não é educada, falou palavrão, fez bullying com o colega na escola… Independente do comportamento, antes de xingar os filhos, os pais precisam fazer uma auto-avaliação para ver se não estão tendo atitudes que sirvam de exemplo. E isso vale tanto para os exemplos ruins quanto para os exemplos bons”, explica.

Aprendizado é pelo exemplo

Em relação à alimentação, Aline destaca ser necessária uma mudança cultural acerca da comida. “Infelizmente nossa cultura alimentar ainda está muito longe do que seria ideal para a nossa saúde. Nós ainda consideramos como recompensa comer um fast food ou um saco de balas, ir nas festas de aniversário e liberar as crianças a comerem balas e marshmallows para comemorar. Tudo isso é tido como uma coisa ótima, mas precisamos viver uma mudança cultural que nos ajude a aceitar que uma maçã também é uma coisa muito boa, assim como é excelente ter uma segurança alimentar”, frisa. 

O aprendizado das crianças em relação ao comer saudável não se resume a ver os pais comendo frutas, legumes, saladas, peixes, tomando água… Como os hábitos dos pais influenciam muito, eles precisam dar o exemplo desde que os pequenos nascem. E, para isso, eles podem, antes e durante a introdução alimentar, acostumar os bebês ao cheiro de comida saudável em casa, assim como ter contato visual com as cores da comida saudável. 

“Assim, quando o neném sente o cheiro do feijão cozinhando, de um tomate cortado, ele vai criando e desenvolvendo as conexões neurológicas e sensoriais, além de sentir que esses cheiros estão relacionados a estar junto da família, ter apego, prazer, viver sensações boas”, pontua a médica.

Além disso, Aline lembra que os pequenos devem sentir que os pais têm alegria e prazer em comer o que a criança deveria comer. “A construção dos hábitos alimentares da criança acontece pelo exemplo do que os pais comem e bebem, do valor que eles dão para a comida que é saudável e para a que não é saudável. Se a felicidade dos pais vem do prazer imediato de comer um saco de balas, isso será transmitido para os filhos”, fala. 

Da mesma forma, a médica esclarece que se os pais se preocupam em ter uma programação metabólica que vai ajudar a não desenvolver doenças crônicas, a criança tende a se tornar um adolescente, um adulto saudável e menos propenso a doenças, obesidade, hipertensão e risco de desenvolvimento de AVC e infarto, por exemplo”, 

Outro problema bem comum é como a família (avós, tios, madrinhas…) se relaciona com a comida e os hábitos que acabam tentando transmitir aos pequenos, normalmente por acreditarem que “no seu tempo era assim”. “Os pais precisam orientar a toda a família sobre o que consideram uma introdução alimentar adequada. Pessoas mais velhas costumam tentar dar açúcar para crianças menores de dois anos, o que hoje é reconhecido como muito errado”, relata. 

Atenção a quem faz as compras 

Uma coisa é clara, segundo a gastropediatra: os pais precisam ter comidas saudáveis disponíveis em casa, ou seja, não podem esquecer de comprar. De forma enfática, ela explica: “a família chega na escola dizendo que o filho só come bolacha. Mas quem comprou a bolacha? Quem deu a bolacha pela primeira vez para a criança? É responsabilidade dos pais definir o que entra na casa e vai para as prateleiras e geladeira”.

Ou seja, os pais precisam adotar algumas boas práticas para ensinar hábitos alimentares saudáveis aos filhos. Entre elas, destacam-se:

- Comer o que esperam que os filhos comam;

- Sentar à mesa para comer em família;

- Ter uma mastigação adequada;. 

- Evitar ter refrigerante na geladeira e balas no armário de casa;

- Mostrar para a criança o quanto é prazeroso se alimentar bem;

- Não relacionar o prazer, a felicidade, ao consumo de alimentos não saudáveis;

- Não ensinar aos pequenos que eventos sociais são apenas momentos de excesso.

Quando os pais adotam hábitos alimentares saudáveis pensando também no que vão ensinar aos filhos, eles colhem um fruto muito importante: ter uma criança saudável e tranquila. “Ter uma relação saudável com a comida permite também ensinar aos pequenos sobre a relação social, mostrando que algumas práticas podem ser cometidas em momentos específicos mas que não são rotina”, diz. Para isso, é preciso conversar: “olha, filha, hoje no aniversário nós vamos comer o docinho, o papai e a mamãe vão tomar uma um vinho, mas isso não é a nossa rotina”, ou seja, deixar claro que há um hábito do dia a dia para haverem as escapadas nos eventos sociais.


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