capa

Ensino online: desafios para crianças e pais

Ainda que alguns alunos já estejam voltando às escolas, ensino remoto deverá continuar

publicidade

A educação foi, sem dúvidas, uma das áreas mais afetadas pela pandemia de Covid-19. O ensino através do uso de tecnologias digitais vem impondo grandes desafios para todos os envolvidos nesse processo, tanto para as escolas, quanto para as crianças e pais. São muitas adaptações necessárias para todas as partes.

Dentro deste cenário, há uma série de aspectos que podem interferir na aprendizagem, principalmente se tratando de crianças. A psicopedagoga e presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia – Seção RS, Monica Pagel Eidelwein, destaca, primeiro, as condições de acesso e o conhecimento das tecnologias para poder usá-los satisfatoriamente. “Em um país com grandes desigualdades sociais, nem todas as famílias possuem equipamentos, como celulares, computadores e acesso à internet, que possibilitem a todas as crianças da família utilizá-los de acordo com as demandas das escolas. Quando possuem, nem sempre as crianças e suas famílias têm conhecimento para utilizá-los”, ressalta. 

Ela também destaca as condições das famílias para assistir às crianças em suas atividades escolares, já que muitas delas necessitam de auxílio. "Isso exige não só conhecimento do uso das tecnologias, mas, também disponibilidade de tempo e organização de espaços apropriados, que são muito importantes para que a criança possa focar a sua atenção nas atividades". 

De acordo com Monica, ainda não é possível afirmar quais serão as implicações a longo prazo do ensino por se tratar de uma questão recente. “O que podemos dizer é que a aprendizagem, especialmente, das crianças bem pequenas, passa pela necessidade de conhecer-se e conhecer o outro e o mundo. Isso ocorre através das interações, pelas trocas estabelecidas através da linguagem, do toque, do brincar, que são experiências que não podem apenas ser contadas, precisam ser vividas", explica. O adulto é quem vai possibilitar tais experiências - não necessariamente o professor nesse momento - podendo ser avós, pais ou outro responsável.

Papel dos pais e responsáveis

Monica ressalta que é imprescindível que os pais estabeleçam diálogo com os professores para entender o desenvolvimento educacional. “Devemos ficar atentos, no caso de crianças que não conseguem interagir durante as propostas e crianças que não têm interesse em realizar as atividades, que choram ao fazê-las, demonstrando sofrimento, ansiedade e sentimento de culpa por não conseguir realizar o que é solicitado. Nesses casos, novas estratégias são necessárias, como atendimentos individualizados e disponibilização de materiais alternativos”, explica.

Estabelecer parcerias entre escola, família e outros profissionais que acompanham as crianças, e procurar entender que é um momento complexo, que exige novas aprendizagens de todos, é fundamental. “A aprendizagem exige tempo e dedicação e precisamos agir com mais tranquilidade, pois, a problemática decorrente da pandemia e da necessidade de isolamento social, trouxe grandes desafios e novas aprendizagens para todos”, complementa a profissional.

A experiência na prática

A empresária Mariana Gabrijelcic e o filho Lorenzo, de 7 anos, enfrentam juntos os diversos desafios e adaptações do ensino online, desde o ano passado. “Para nós, mães, acredito que o maior desafio seja a questão do próprio ensinar. Quando é online, a gente tem que estar presente ao mesmo tempo que também está em um período de trabalho. É tudo ao mesmo tempo”, relata. 

Já para as crianças, o principal desafio, na visão de Mariana, é a falta de interação e concentração. “O Lorenzo não conhecia os colegas, por exemplo. Como ele não tem o colega junto, não há essa interação e também não tem aquela vontade de estar ali. É diferente da escola, que ele quer ir porque tem os colegas. Ele não consegue manter a concentração”, conta Mariana.

Lorenzo já voltou às aulas presenciais, mas Mariana destaca que a construção de uma rotina em casa ajudou na produtividade do pequeno nas aulas. Para os pais que ainda enfrentam essa situação, o recado dela é que tentem conduzir da forma mais leve possível. “Não é o nosso papel ali ser o educador, então que a gente não tente fazer com que eles aprendam tudo 100%, porque não vai ser igual como quando está lá na aula, com uma professora que foi treinada para aquilo e também num ambiente que é bem mais propício que a aula online”, relata.


compartilhe