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Ansiedade infantil é potencializada pela pandemia

Atenção dos pais ao comportamento infantil é o primeiro passo para identificar o problema

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O cenário de incertezas trazido pela pandemia de Covid-19 gera preocupação e mudanças significativas na rotina de todos. A saúde mental se tornou um tema recorrente é importante ressaltar que a atenção deve ser generalizada, abrangendo, inclusive, as crianças. Independente da faixa etária, as alterações desse período podem causar impactos significativos.

Há o isolamento social, com restrição de espaços em que a criança circula. E também a impossibilidade de conviver com outras crianças e realizar tarefas que antes faziam parte do seu cotidiano. E, se a ansiedade é um estado emocional que faz parte da nossa vida, ela ganha ainda mais espaço frente a situações novas, desafiadoras ou incertas. “Porém, a partir do momento em que essa ansiedade causa um sofrimento significativo, interferindo nas atividades de vida diária, é importante buscar apoio profissional”, explica a psicóloga Helena Guido. 

Em crianças, é de extrema importância que os pais e cuidadores estejam atentos aos sinais apresentados, pois nem sempre a criança irá expressar verbalmente o que lhe incomoda. “Dificuldades na realização de tarefas que antes eram feitas sem dificuldades, alterações de sono, irritabilidade, tristeza e falta de motivação para brincar podem ser sinais de alerta”, indica. 

Helena explica que o diagnóstico de Transtorno de Ansiedade deve ser realizado por um profissional da área (psicólogos e psiquiatras), então, caso os pais ou cuidadores identifiquem sinais de alerta, é preciso procurar ajuda para fazer uma avaliação adequada. “No período da pandemia, além do Transtorno de Ansiedade, podem surgir transtornos de humor, como depressão, transtorno de ansiedade de separação, dentre outros. O importante nessas situações  é avaliar a criança considerando o seu temperamento e o contexto em que está inserida pois, mesmo que não se configure um transtorno, existem demandas específicas que podem ser trabalhadas, auxiliando a criança e os pais ou cuidadores”, aponta a psicóloga.

Atenção aos sinais da ansiedade infantil

Em relação aos sintomas, é importante considerar a individualidade de cada criança, pois suas manifestações podem ser diferentes. Entretanto, é importante que os pais e cuidadores fiquem atentos a alguns sinais mais comuns, como: 

- Alterações de humor: maior irritabilidade, tristeza, momentos de choro mais frequentes; 

- Manifestações comportamentais: maior agitação ou falta de motivação para realização de tarefas que a criança geralmente gosta, roer unhas; 

- Alterações de sono: despertares noturnos, dificuldade para dormir, medos e pesadelos;  

- Maior insegurança ou medo de ficar longe dos pais ou cuidadores; 

- Dificuldade de concentração; Queixas relacionadas como dores de barriga (importante descartar outras causas orgânicas).

“É importante considerar que essas manifestações não necessariamente caracterizam um transtorno, por isso a importância da avaliação profissional nos casos em que estes sintomas são persistentes e estão causando prejuízo no dia-a-dia da criança”, alerta Helena. 

Melhores formas de lidar

Sabemos que este período é extremamente desafiador para todos, crianças e adultos. Entretanto, segundo Helena, um dos fatores de proteção mais importantes em situações de incerteza como a pandemia é oferecer segurança às crianças. “Permitir que elas expressem o que estão sentindo, acolhendo de maneira empática, é essencial. Com isso, os pais e cuidadores têm papel central no enfrentamento a situações de estresse, como a pandemia. Quando a criança manifestar algum sintoma de ansiedade ou apresentar alguma reação emocional, acolha e ajude a criança a lidar com este momento”, ressalta a profissional.

Helena elencou fatores que podem auxiliar a criança a lidar melhor com suas emoções durante a pandemia:

- Falar sobre as emoções: identificar e expressar o que sentimos também é um processo de aprendizado. Ajude a criança a entender o que ela está sentindo e como pode lidar com essa situação.

- Rotina: por mais que as mudanças no nosso dia a dia aconteçam, manter uma rotina de horários e uma sequência de atividades organiza e acalma a criança, pois existe uma previsibilidade em relação ao que vai acontecer no dia. Essa rotina não precisa ser rígida, mas é importante que siga uma estrutura com diferentes atividades.

- Alternância das atividades: procure, dentro do possível, oferecer diferentes atividades para criança. Por exemplo, depois de assistir um desenho na televisão, você pode convidá-la para desenhar ou preparar o lanche com você. Essa mudança também acaba tranquilizando a criança pois são apresentados diferentes estímulos, gerando maior interesse e motivação. 

- Tenha momentos de qualidade com a criança: muitas vezes estamos no mesmo ambiente da casa, mas não estamos de fato junto com as crianças. Buscar um espaço no dia para estar com a criança sem outros distratores é extremamente positivo. Escolham uma brincadeira juntos, assistam a um filme ou leiam uma história para criança. 

- Distanciamento não é sinônimo de isolamento: auxilie a criança a manter o contato, mesmo que não seja presencialmente, com outras pessoas que são importantes para ela. Fazer uma carta para os colegas, combinar uma videochamada com familiares que estão distantes ou até mesmo olhar fotos e conversar durante uma ligação podem ser momentos significativos. 


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