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Como falar sobre morte com as crianças?

A morte não pode ser um tabu e precisa ser abordada com carinho e verdade

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Falar a respeito de morte e luto pode ser considerado um tabu. Apesar de ser algo natural e que acontecerá com todos nós, o assunto ainda gera desconforto e angústia entre os adultos. Quando pensamos em abordar o tema com crianças, a situação fica ainda mais delicada. Qual a melhor forma de falar sobre isto com os pequenos?

A psicóloga Jucieli Gomes ressalta que morte faz parte do ciclo de vida, é inevitável e seremos expostos a situações de luto ao longo da nossa vida. Sendo assim, é importante que a criança entenda o processo. Conforme explica a profissional, para falarmos a uma criança pequena sobre a morte de alguém, é necessário estar atento a idade da criança e a seu amadurecimento emocional. “O assunto pode ser explicado aos poucos e recursos lúdicos podem ser utilizados no processo. Existem diversos livros infantis que explicam sobre a morte de animais, plantas e inclusive pessoas próximas. É necessário também refletir se estamos falando para ensinar ou se vamos contar sobre a morte de alguém importante para a criança. Ela irá aprender com seus pais a partir da referência destes”, esclarece. 

Jucieli destaca que evitar falar sobre o assunto com as crianças pode gerar as mais diversas consequências, desde tornar esse assunto proibido, e em decorrência disso, atrapalhar a compreensão da criança quando ela tiver que lidar com a situação. “Poderá causar mais dificuldade de lidar com o luto e abre espaço para que a criança interprete a situação de um modo errado, como por exemplo, que foi abandonada pela pessoa que morreu”, explica.

A melhor forma de abordar o assunto

A psicóloga defende que o conceito de morte é bastante complexo para as crianças, e por isso, os familiares devem estar atentos à maturidade emocional e sempre que a criança perguntar sobre a pessoa, explicar da forma mais clara possível: não necessariamente abordando detalhes da morte, mas que ela não vive mais, porém, as lembranças vão ficar. “Não existe uma fórmula mágica. Mas uma boa alternativa é contar uma história, usando uma metáfora, mas, sempre atento para não mentir. Você pode dizer a criança que a pessoa foi para o céu, virou uma estrelinha, por exemplo. Cada família terá a sua forma de explicar”, ressalta.

Principalmente quando a morte é de uma pessoa muito próxima, como por exemplo do pai ou da mãe da criança, a recomendação é não mentir, pois ela poderá pensar inúmeras coisas que podem prejudicar ainda mais seu psicológico. “A criança ficará triste, poderá chorar. Mas nem todas vão agir assim, como os menores, que não entendem muito bem e podem parecer não se importar no momento, pois não entenderam, mas irão voltar a perguntar sobre a pessoa quando sentirem falta. Precisamos estar preparados para acolher a criança e responder às suas perguntas de forma legítima, mas apenas com as informações necessárias”, orienta Jucieli. 

Crianças devem ir a funerais?

De acordo com a psicóloga, a questão da ida a funerais deve considerar a vontade da criança. “Se ela quiser, pode ser um processo importante para a elaboração do luto, principalmente se for alguém próximo. Se ela não quiser, isso deve ser respeitado e não impor que deva ir ou não. Se não for alguém próximo vale o mesmo, algumas crianças podem sentir medo e não se sentirem bem, então não devem ir”, aponta. “É necessário explicar para a criança que a pessoa estará em um caixão e que terão pessoas tristes e chorando porque gostavam muito daquela pessoa e ela partiu”, finaliza.

 

por Mariana Nunes

Mariana Nunes é jornalista. Ama café, praia, chocolate e futebol - não necessariamente nessa ordem. É torcedora fervorosa do Internacional e repórter do Bella Mais. @a_marinunes


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