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Relacionamentos longos: problemas que todo casal pode enfrentar

Com o passar dos anos, os casais criam uma intimidade cada vez maior, mas esse tempo de convivência também pode trazer alguns problemas e dificuldades

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Relacionamentos são complexos. Disso não há dúvidas. Jovens casais, por exemplo, têm a difícil missão de aprender a conhecer e respeitar seus parceiros, com todas as suas qualidades e defeitos. Quem está junto há muito tempo, por outro lado, acredita que conhece totalmente o companheiro. 

Porém, nem por isso a relação se torna mais fácil. Alguns problemas surgem com o passar dos anos e o Bella+ conversou com alguns especialistas para entender quais dificuldades são essas, como lidar com elas e como evitá-las. 

Principais problemas e dificuldades dos relacionamentos longos

A psicóloga, psicoterapeuta de casais e ex-presidente da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul (SPRGS), Iara Camaratta Anton, lembra que o ato de relacionar-se, por si só, é desafiador, pois o casal não concordará o tempo todo, algo que fica muito evidente em relações que já duram anos e que entraram numa “rotina”. 

“Ao contrário do que sugere o mito das ‘almas gêmeas’, temos que lidar com crenças, valores e desejos que não coincidem em tudo e nem coincidem durante o tempo todo. Com o passar do tempo, muitos ajustes podem ser feitos, mas o fato é que a rotina e o acúmulo dos deveres tendem a criar muitas frustrações, cobranças, discussões, acusações mútuas e chatices”, ressalta. 

Os pesquisadores, Leonardo Garavelo, psicólogo e professor Universidade LaSalle e Patrícia Guedes, formanda de Psicologia pela mesma instituição, têm-se dedicado à temática do amor em relacionamentos conjugais contemporâneos em seus estudos e destacam o mesmo ponto: a rotina e a monotonia que a relação adquire com o passar do tempo.

“Modo geral, as principais dificuldades e problemas que um casal que está junto há muito tempo enfrenta é a monotonia. Um sentimento de comodismo e manutenção da zona de conforto através de comportamentos instituídos ao longo dos anos. As rotinas muito rígidas podem desmotivar e desencantar, além disso, a crença de que conhecemos 100% da pessoa também pode produzir esse conformismo”, explicam.

Comunicação, perda de identidade e insatisfação são outros exemplos

Outro problema apontado por Leonardo e Patrícia é a comunicação. Segundo os pesquisadores, estudos mostram que essa é uma dificuldade permanente nos relacionamentos e que, com o tempo, esse desalinhamento acaba mostrando seus reflexos, fazendo com que as pessoas se tornem desconhecidas, mesmo que estejam morando dentro da mesma casa.

Há também uma tendência de perda de identidade. Com o tempo, o casal passa a ser “uma só pessoa”, ignorando as vontades e desejos de cada um dos indivíduos que compõem a relação. Já a psicóloga Iara Anton contribui ao comentar sobre outro aspecto, a insatisfação. Segundo a profissional, esse sentimento pode surgir com o tempo, mas questões financeiras e até mesmo a própria família e a preocupação com os filhos, tendem a sustentar casamentos infelizes. 

Como lidar com essas questões

Iara enfatiza que o diálogo é fundamental para lidar com quaisquer problemas e dificuldades que possam surgir. De acordo com a psicóloga, o diálogo é um bom exercício não só do uso da palavra, mas também da escuta. É uma forma de tentar traduzir da melhor forma possível os próprios sentimentos, desejos e temores, o que se soma à atenção e ao respeito ao que o parceiro está tentando comunicar. 

“Por mais que tenhamos afinidades, temos diferenças e divergências, não é muito simples aceitar que o outro não siga nos idolatrando, como costumava ocorrer no auge do período da paixão. Para que possamos dialogar, temos que ter um bom nível de humildade e tolerância a frustrações. Então, poderemos chegar a bons acordos e conquistaremos uma parceria de boa qualidade”, afirma.

Leonardo e Patrícia complementam ao ressaltar a importância de o casal conversar sobre assuntos difíceis em um ambiente seguro, buscando a compreensão do outro. Eles também lembram que o casal precisa ter consciência da solidão que há, mesmo dentro de um relacionamento. “Muitas coisas são e devem ser feitas sozinho, como trabalhar, ir ao banheiro e, ainda mais desafiador, ter amigos e poder passar um tempo junto a eles sem o par. Assim, preserva-se a identidade e o outro não se sente invadido por algo que não é seu”, salientam.

Eles também sugerem que o casal mantenha certa dose de mistério e que busque realizar planos comuns e inspiradores como viagens, atividades artísticas e culturais, que permitam conhecer mais do outro. A psicoterapia individual e/ou de casal também pode contribuir para perceber e aprender a lidar com as dificuldades e problemas. 

É possível evitar tais problemas?

Também questionamos os especialistas se, ao longo do tempo, seria possível evitar os problemas citados por eles. Segundo Iara Anton, isso pode ser feito através de um investimento contínuo na manutenção do amor, do carinho e da parceria. Isso pode ser demonstrado por meio de pequenas gentilezas, atividades prazerosas e boas risadas, por exemplo.

Já Leonardo e Patrícia acreditam que sim, é possível reduzir os problemas e dificuldades com muita autoconsciência, autoconhecimento e evitando entrar em relacionamentos por força do desejo da sociedade. Buscar o autoconhecimento e conscientização também é essencial.

No entanto, eles também fazem uma ressalva: é muito difícil que um casal não passe por algum tipo de problema ao longo do tempo que estão juntos. “Problemas e dificuldades - períodos de crise, digamos assim -, podem potencializar mudanças e transformações que precisam ser realizadas. A questão não são os problemas e dificuldades, mas sim o modo como lidamos com eles”, salientam. 

Nesse sentido, a orientação dos pesquisadores é buscar viver as relações amorosas enfatizando os aspectos alegres e não os afetos tristes, como os sentimentos de culpa ou acusações e julgamentos, que podem surgir com o tempo.

por Vitória Nunes Soares

Como boa repórter, está sempre pronta para aprender sobre todas as coisas. Tem estilo low profile, ou seja, é meio sumida das redes sociais pois prefere viver.


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