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Duração média dos casamentos diminui de 16 para 13 anos em uma década

Além da pandemia, as mudanças culturais da sociedade ajudam a explicar por que as relações estão mais curtas

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O tempo médio de duração dos casamentos tem diminuído no Brasil, é o que apontam dados do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Uma pesquisa divulgada em fevereiro, analisou estatísticas do Registro Civil e mostrou que até 2010, os matrimônio duravam, em média, 16 anos. No entanto, em 2020, ou seja, passada uma década, esse número caiu para 13 anos. Uma redução de 18,7%. 

Mudanças culturais  

Vários fatores podem ajudar a explicar por que as relações estão mais curtas. Segundo a doutora em psicologia e diretora da Faculdade de Psicologia do CEFI, Mara Lins, a mudança cultural é uma das questões centrais. Ela explica que ao longo da história, os papéis desempenhados pelos homens e pelas mulheres foram mudando e as motivações das relações também.

No passado, os casamentos eram arranjados e realizados com base em uma série de interesses, principalmente econômicos. Mara relembra que as famílias recebiam um dote, como pagamento pela noiva. Havia também uma questão religiosa e cultural, em que o matrimônio servia, por exemplo, para perpetuação de crenças e do nome da família do noivo. 

“O amor, o relacionamento baseado no afeto, é bem contemporâneo e atual. As pessoas passarão a ficar juntas por desejar o outro, por querer levar uma vida juntos, construir uma família, independentemente das questões financeiras ou dos arranjos e questões anteriores. O que acontece então, é que é muito difícil manter por muitos e muitos anos essa relação de parceria, apoio, afeto e o interesse sexual”, afirma a especialista. 

Mais liberdade de escolha 

Diferente do que acontecia em épocas passadas, atualmente as pessoas escolhem com quem querem casar com base em seus sentimentos. Além disso, elas também não são mais obrigadas a continuarem em uma relação. Há uma liberdade muito maior, tanto para iniciar o relacionamento quanto para pôr um fim nele. Isso nos ajuda a entender porque atualmente as relações estão durando menos.

Num passado não muito distante, essa liberdade não existia. As mulheres separadas, por exemplo, não eram bem vistas, o que coagia muitas delas a permanecerem em seus relacionamentos. 

“Se uma mulher separasse, culturalmente falando, era muito feio. Os filhos dela não tinham amigos na escola, então essa questão cultural fazia com que ficassem casadas. Tem também as crenças religiosas. ‘Se eu jurei, até que a morte nos separe, como eu vou suportar, pela minha crença religiosa, fazer algo diferente?’. A principal questão é que hoje, as pessoas têm a liberdade de pensar e planejar sua vida, algo que não era possível no passado”, comenta Mara. 

A especialista chama atenção para um outro fator: relacionamentos baseados em afeto exigem um esforço constante. A diminuição da duração das relações pode estar ligada a um descuido dos casais. “O afeto não nasce do nada e muito menos, se mantém com nada. Relação é como uma planta, se a gente não cuidar, morre. A gente acha que estar com alguém já é o suficiente. Não! Para uma relação ser boa, demanda trabalho”, reforça.

Pandemia afetou as relações

A pandemia também foi outra questão que interferiu nos relacionamentos, afetando negativamente os casais. Mara Lins explica que muitos parceiros passaram a conviver o dia todo com o outro. “As pessoas não estavam acostumadas a ficar dentro de casa, 24 horas por dia juntos. Muitas relações se desgastam muito, fora a preocupação com a saúde, perdas financeiras e de entes queridos”, pontua. 

Esse período fez com que as pessoas refletissem mais sobre suas vidas, relacionamentos e escolhas. Então, de acordo com a especialista, foi um momento em que muitos casais aproveitaram para repensar sobre seu casamento e a possibilidade de seguir adiante ou não.

Outro fator a ser considerado para compreender a redução apontada pelo IBGE é o próprio comportamento atual das pessoas. “De uma maneira geral, vejo as pessoas muito intolerantes, muito impulsivas e imediatistas”, ressalta a doutora em psicologia. Ela sugere que antes de tomar qualquer decisão, como a de optar por uma separação, é necessário calma, para avaliar se esse realmente é o caminho. 

“Ninguém casa para separar, então morre um projeto, morre um ideal de família. Então é importante buscar ajuda e observar o momento presente. Se algo não está legal, vale tentar conversar. Se não está conseguindo, procure auxílio para que se consiga colocar as coisas bem às claras e fazer uma escolha”, orienta a especialista.

por Vitória Nunes Soares

Como boa repórter, está sempre pronta para aprender sobre todas as coisas. Tem estilo low profile, ou seja, é meio sumida das redes sociais pois prefere viver.


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