Como a diferença de idade impacta os relacionamentos?

Para algumas pessoas, a diferença de idade entre os parceiros de uma relação amorosa ainda pode ser um tabu, mas as pessoas têm se preocupado cada vez menos com a opinião alheia – e mais em viver bem com quem gostam. 

A psicóloga Mara Lins, que é diretora da Facefi (Faculdade de Psicologia do Cefi) e doutora em Psicologia, comenta que, de maneira geral, a diferença de idade impacta na relação porque as pessoas envolvidas não estão necessariamente no mesmo ciclo de vida. 

“Quando uma das pessoas é mais velha ela pode já ter filhos, estar profissionalmente encaminhada, ter vivido experiências importantes que o parceiro ainda não passou, mas deseja”, explica. Com isso, o impacto se baseia no que cada um espera do relacionamento: pode ser apenas estar junto ou ter uma parceria mais duradoura e estável.

“Simplificando, a relação conjugal não é só ser feliz, é principalmente construir juntos, saber tudo o que se tem para alinhar, ajustar, quais acordos precisam ser feitos”, enfatiza. Segundo a psicóloga, as pessoas ainda têm uma ideia de que relacionamento é uma coisa perfeita, aqueles casais lindos e felizes que vemos nas redes sociais.

Sociedade ainda julga as mulheres de forma diferente

Mesmo com avanços, ainda existem pessoas que julgam a vida dos outros – sempre com uma visão de fora da situação – e são as mulheres que mais sofrem com esse preconceito. 

“A sociedade aceita mais facilmente um homem mais velho com uma mulher mais nova do que uma mulher mais velha com um homem mais novo. O impacto desses julgamentos na saúde emocional da mulher depende da segurança que ela tem em relação ao seu papel, sua rede de apoio, sua trajetória. Depende do autocuidado e da forma como ela se permite seguir a vida, independente das outras pessoas”, esclarece a psicóloga.

Na clínica, Mara percebe que o foco dos casais está nas tomadas de decisões em função do relacionamento – quem quer ter filhos, quem não quer, quem pode renunciar a profissão para dar mais espaço para o outro… 

“Isso acontece tanto por parte das mulheres quanto dos homens. Claro que ainda vivemos com um olhar de outras gerações, no qual o homem ‘ajuda’ em casa. Mas a mulher conquistou o mundo da rua e o homem vem cada vez mais ocupando o espaço da casa, sem considerar isso uma ‘ajuda’, mas sim uma tarefa que deve ser dos dois”, reforça.

As pessoas mudam e o casamento também

A psicóloga Mara afirma que mesmo aquela relação mais duradoura, de muitos anos, se transforma ao longo do tempo. “Casamentos longos são vários casamentos dentro de um, porque as pessoas vão mudando”, cita. Por isso que, independente da idade, a conversa é essencial, pois os parceiros precisam expor as suas expectativas e conhecer as individualidades do outro, assim como identificar os sonhos em comum. 

Uma questão importante a se considerar, quando se fala na diferença de idade entre os parceiros de um casal, é a famosa “crise da meia idade”, que agora acontece por volta dos 50 anos, tanto para os homens quanto para as mulheres. 

“É nesse momento que acontece aquele choque de realidade e a pessoa começa a pensar que ‘metade da vida já foi, e agora?’ e pode se questionar se ainda sabe seduzir, encantar, se é atraente. A crise do ‘estar velho’ passa pelo ‘ser interessante’, mas é importante olhar para isso e entender os questionamentos que ela está levantando internamente. Isso faz parte do autocuidado”, salienta Mara.

Os movimentos feministas, independente de serem mais ou menos radicais, ocasionaram mudanças na vida das mulheres, ajudaram a conquistar mais liberdade, autonomia e espaço no mercado de trabalho. “Enquanto as mulheres tiveram isso, os homens não, eles continuaram no mesmo lugar. Agora que estão aprendendo a acessar emoções, a se permitir pensar como querem ser como homens, como pais”, conta.

A profissional frisa que a grande questão dos relacionamentos, independente das idades dos parceiros, depende das suas afinidades, do que um espera do outro, se é uma boa noite juntos ou um relacionamento duradouro. “E para funcionar, precisa ficar claro para os dois o que vão viver e como vão se ajustar para isso”, conclui.