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Quais os impactos de uma “relação ioiô” para um casal?

Relacionamento ioiô é reflexo do que há dentro das pessoas do casal e potencializa as suas fragilidades

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Se ama, briga, termina, fica com saudades, reconcilia. Briga de novo, separa, volta... Talvez você conheça pelo menos um casal que vive assim, terminando a relação e voltando a se amar na mesma velocidade. 

Este tipo de relação é o que conhecemos como “relacionamento ioiô”, aquele que, segundo a psicóloga e Terapeuta de Casais e Famílias Fernanda Vaz Hartmann, tem um histórico carregado de separações e reaproximações, ou seja, é pautado por uma instabilidade. Afinal, o casal rompe e retoma a relação inúmeras vezes. 

“Brigar também é uma forma de se relacionar e muitos casais desconhecem ou não conseguem estabelecer relações de outra forma. Esses casais associam amor com sofrimento e a intensidade da sua relação se baseia na instabilidade e nas fortes emoções que são geradas neste padrão de interação”, explica Fernanda. 

Ela lembra que uma relação é o reflexo do que há nos indivíduos que a vivem e que “se ela é instável, vulnerável, insegura, é porque pelo menos um dos indivíduos, se não os dois, carregam essas características. O relacionamento potencializa os aspectos frágeis de cada um, contaminando a relação e estabelecendo um padrão de interação disfuncional”.

A insegurança é um sentimento que baliza muitas situações ioiô. “Ela pode se manifestar por muito ciúmes, um controle demasiado da vida do outro ou por uma aceitação incondicional. O medo de ficar só faz a pessoa se moldar a tudo que o outro solicita, mesmo sem gostar. Claro que em algum momento o copo enche, transborda e há o rompimento. Mas o medo de ficar sozinho, o sentimento de vazio, faz a pessoa, cuja visão está distorcida, achar que aquele relacionamento é a solução e acaba retornando”, explica a psicóloga.

Segundo Fernanda, é comum as mulheres aceitarem relacionamentos pouco satisfatórios com a expectativa de que poderão modificar o parceiro. “Esta fantasia muitas vezes mantém a relação por muito mais tempo do que deveria durar, pois a expectativa que conseguirá mudar o parceiro oferece muito mais fôlego para se manter em uma relação que não está saudável”, diz.

Outro ponto enfatizado pela profissional é o ciclo que se cria neste tipo de relação: o contínuo casa-separa é nutrido pela adrenalina do medo de perder e o prazer do momento da reconquista. Essa relação de altos e baixos acaba viciando os cônjuges, que vivem o tempo todo emoções muito intensas.

“Claro que não podemos generalizar, pois cada pessoa tem questões internas a serem resolvidas e que se manifestam nos relacionamentos. O que podemos afirmar é que o formato que cada um dá ao seu relacionamento tem a ver com a forma como aprenderam a amar e a se relacionar nos seus primeiros vínculos, nas suas famílias de origem”, ressalta Fernanda.

Instabilidade fragiliza as pessoas do casal

Por serem muito instáveis, os relacionamentos ioiô fazem com que as pessoas envolvidas produzam sentimentos negativos que as deixam fragilizadas, como frustração, tristeza e vulnerabilidade. 

“Quanto mais o casal termina e faz as pazes, maiores são os riscos de as pessoas envolvidas desenvolverem depressão, ansiedade e outros sinais de sofrimento psicológico. Além disso, relacionamentos ioiô estão associados a taxas mais altas de abuso e a dificuldades importantes na comunicação e na capacidade de comprometimento”, frisa Fernanda.

Ela complementa dizendo que, muitas vezes, os transtornos mentais já são uma parte da relação. “No consultório, muitas vezes identificamos indivíduos com transtornos de humor, de ansiedade, dependência química ou, ainda, com transtornos de personalidade”, comenta, salientando que em há também casos em que é a relação que produz o transtorno e os indivíduos terminam a relação com uma ‘conta’ significativa em sua saúde mental. 

Fernanda recomenda aos casais que vivem entre términos e relacionamentos que tentem tomar consciência do que os prende a situações que não estão nos fazendo bem. Essa reflexão, segundo a psicóloga, passa ainda por outras questões, como entender o que a pessoa está disposta a tolerar, quais são seus limites e expectativas e, principalmente, superar a ideia de que todos os romances serão idealizados como os que a gente vê em filmes e nas redes sociais.

“Ser adulto implica em se conectar com a realidade, adaptar as expectativas a esta realidade, buscando o equilíbrio entre razão e emoção. Por isso, a terapia individual ou conjugal tem se mostrado um auxílio importante no caso das relações ioiô”, recomenda Fernanda.

A terapeuta de casais dá quatro indicadores que podem ajudar as pessoas a saberem quando buscar ajuda profissional: 

Quando o casal não consegue se separar nem ficar feliz juntos; 

Quando há restrição de investimentos em outras áreas da vida em função do relacionamento: os envolvidos não conseguem trabalhar, estudar, ter vida social, os vínculos com amigos e familiares se fragilizaram muito;

Quando o corpo começa a adoecer; 

Quando as pessoas no entorno do paciente, depois de ter conversado várias vezes sobre a toxicidade da relação, começam a desistir de conviver com ele. Há relações de casal ioiô tão tóxicas que os familiares e amigos se afastam para se preservar.

“O autoconhecimento é a resposta para as pessoas se reorganizarem, priorizando o autorrespeito e não a relação”, enfatiza Fernanda, afirmando que ele é crucial para colocar fim a relacionamentos inconstantes e ajudar a encontrar equilíbrio emocional e felicidade.


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