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Escritora gaúcha lança ficção sobre violência contra a mulher

Na nova edição do livro “Olhos fechados”, Luísa Aranha trata de temas como violência de gênero, machismo estrutural e o espaço das mulheres na sociedade

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Uma obra ficcional que traz muito da própria autora. Assim é o livro “Olhos Fechados” da escritora escritora gaúcha Luísa Aranha. A obra, disponível em formato de e-book, narra a investigação de um acidente que ocorre com a personagem Margarida Souto, uma advogada e ativista dos direitos das mulheres. 

A trama se desenvolve enquanto a personagem, em coma no hospital, começa a relembrar sua infância, adolescência e vida adulta e aborda temas como a violência de gênero, o machismo estrutural e o espaço das mulheres na sociedade.

As memórias de Margarida vão delineando uma narrativa crua e revoltante, que mostra como o machismo impera em todos os setores da sociedade, até nos lugares onde menos se imagina, enquanto seguimos de olhos fechados. 

Traumas motivaram a autora a escrever sobre o tema

Semifinalista do Prêmio SESC de Literatura em 2017, Luísa Aranha tem mais de 30 títulos publicados, grande parte deles tendo o universo do erotismo feminino como temática. A motivação para escrever o livro “Olhos fechados” veio de seus próprios traumas. Quando tinha quatro e nove anos, ela passou por situações de assédio que a marcaram pelo resto da vida. 

“À medida que a vida adulta foi chegando, meus traumas tornaram-se cada vez mais graves, mas, por causa do que a nossa cultura e criação impõem a nós mulheres, eu nem mesmo me dava conta que eram formas de violência”, relata Luísa.

A escritora lembra que as mulheres são violentadas todos os dias, sejam por comentários, toques não desejados, humilhações verbais ou agressões físicas. “Ser mulher em nossa sociedade é conviver com os mais variados tipos de violência”, ressalta. A forma que Luísa encontrou para estender a mão a outras mulheres e ajudá-las foi através da literatura, compartilhando nas páginas dos livros questões que permeiam esse universo da violência de gênero.

A sociedade ainda se mantém de “olhos fechados” 

Um dos principais objetivos da escritora é mostrar como o machismo estrutural está normatizado em nossa sociedade. Luísa salienta que a violência doméstica, por exemplo, é uma consequência disso. 

“Existe uma estrutura social que impõe comportamentos às mulheres, mas permite tudo aos homens. Através da história de Margarida, podemos perceber como pode ser fácil ao agressor, àquele homem normalmente acima de qualquer suspeita, se safar, enquanto a sociedade se mantém de olhos fechados”, comenta. 

Processo de escrita foi doloroso

Luísa conversou com mais de 40 mulheres vítimas de diversas formas de violência em seus relacionamentos, como forma de buscar subsídios para compor as personagens dos seus livros. Um processo que é sempre doloroso:

“A dor começa ao escutar tantas mulheres que sofreram simplesmente por serem mulheres”. Luísa também conta que na obra “Olhos fechados” utilizou dados reais de casos de violência contra a mulher e que ao ver os números subindo, sentiu que precisava lançar uma nova edição do livro, com informações atualizadas.

“Na pandemia, com a necessidade do isolamento social, houve um aumento considerável nas agressões desse tipo. Como o livro traz dados sobre violência, achei importante atualizá-los”, ressalta a autora.

Momento atual da violência contra a mulher

Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que aproximadamente uma em cada três mulheres em todo mundo já sofreu violência física e/ou sexual por parte de seu parceiro ou de terceiros durante a vida, número que permaneceu praticamente inalterado durante toda a última década.

Ainda segundo um levantamento realizado em 2021 pelo Datafolha para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 4,3 milhões de brasileiras a partir dos 16 anos foram agredidas fisicamente por seus parceiros ou por terceiros. Isso significa dizer que a cada minuto, oito mulheres apanharam no Brasil durante a pandemia.

“Mesmo sendo uma obra ficcional, nossa proposta é provocar mulheres e homens a uma reflexão sobre temas para os quais fechamos os olhos como sociedade”, finaliza a escritora.

por Vitória Nunes Soares

Como boa repórter, está sempre pronta para aprender sobre todas as coisas. Tem estilo low profile, ou seja, é meio sumida das redes sociais pois prefere viver.


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