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Precisamos refletir sobre a naturalização da violência contra a mulher

Metade dos feminicídios no Brasil são cometidos dentro de casa

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Nos últimos dias, mais um caso de violência contra a mulher ganhou repercussão nacional. Vídeos que mostram Iverson de Souza Araújo, mais conhecido como DJ Ivis, agredindo a ex-mulher Pamella Holanda, circulam nas redes sociais. O episódio resultou na prisão do músico, detido nesta quarta-feira (14), em Fortaleza. 

As gravações foram compartilhadas por ela em seu Instagram e mostram Ivis lhe dando socos, chutes e puxões de cabelo. Algumas das agressões aconteceram, inclusive, na frente da filha do casal, de nove meses. 

Os números da violência doméstica no Brasil assustam. Segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o Governo Federal recebeu 105.671 denúncias em 2020. 75.753 são casos de violência doméstica e familiar. Ameaça ou coação, constrangimento, agressão e tortura psíquica aparecem entre as prinicipais. Alguns casos ganham repercussão, outros seguem invisíveis. 

É importante lembrar que por trás dos dados, há vítimas. Nós ainda nos chocamos e ficamos surpresos quando presenciamos a violência contra a mulher? Nós aceitamos as justificativas dos agressores?

Machismo não tem gênero

Para a psicóloga Patricia Mello, existe uma “naturalização” dos casos de violência contra a mulher. “Estamos tão habituados a testemunhar e experienciar a violência, que acabamos achando que as coisas são assim mesmo. O que não podemos esquecer é que, só por que algo sempre existiu, não quer dizer que seja adequado ou que precise continuar existindo sem que se tome alguma providência para mudar a situação”, afirma.

E por vezes, essa naturalização acontece também por parte das próprias vítimas, que julgam ou são convencidas que fizeram algo para justificar a agressão - e a partir daí, a atitude passa a ser normal. 

Conforme explica Patricia, o machismo não tem gênero: ele está estruturado na nossa cultura e na nossa criação. “Pelo machismo, entendemos que o homem é soberano e tem suas razões para fazer o que faz; se a mulher apanhou, portanto, ele teve o direito de fazê-lo”, aponta. 

Para a psicóloga, esse cenário faz parte de uma desconstrução do senso de justiça, que pode ser muito desagregador para a estrutura psíquica de alguém. Assim, é mais fácil culpar a vítima. “Para mudar esse cenário temos que entender uma regra básica: agredir pessoas é inadequado. Simples assim. E nada simples, claro”, declara a psicóloga.

Atenção aos sinais

Em geral, a violência doméstica não acontece de uma hora outra. Por isso, as mulheres devem ficar atentas a certos comportamentos dos parceiros, que podem desencadear situações mais graves. “Deve-se observar como o outro se comporta em momentos de frustração, como estabelece negociações, se a estratégia para lidar com problemas tem base em diálogo ou em gritos”, aponta Patricia.

Em uma discussão, deve ser identificado o comportamento da pessoa e não desqualificá-la com base nele. Um exemplo que traz duas formas diferentes da mesma situação: “me incomoda quando você não guarda suas coisas nos lugares certos, pois a casa fica desorganizada” é diferente de “você é uma bagunceira que não faz nada direito”. “Em um cenário você discute um comportamento e no outro, desqualifica a pessoa”, explica Patricia. 

E a pergunta que toda a mulher deve se fazer e que é um bom termômetro: ele me dá medo? “A mulher tem excelentes instintos. O mundo tenta que ela os ignore, mas eles estão sempre lá para serem ouvidos”. 

Não se culpe

A psicóloga ressalta que qualquer tentativa de responsabilizar a vítima é mais uma forma de violência a qual ela é submetida. “E pode, inclusive, levar ao desenvolvimento de transtornos mentais ou agravar problemas emocionais já existentes. Invalidar e culpabilizar a vítima é o mesmo que dizer ‘você não importa’. E a vítima importa sempre”, reforça. 

Caso esteja passando por alguma situação parecida ou conhece alguma vítima, procure ajuda. O Ligue 180 é um serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento à violência contra a mulher. O serviço também orienta mulheres em situação de violência, direcionando-as para os serviços especializados da rede de atendimento, além de informá-las sobre seus direitos e a legislação vigente.

Não fique calada! Busque ajuda!

por Mariana Nunes

Mariana Nunes é jornalista. Ama café, praia, chocolate e futebol - não necessariamente nessa ordem. É torcedora fervorosa do Internacional e repórter do Bella Mais. @a_marinunes


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