capa

Uso incorreto dos aplicativos de relacionamento pode prejudicar a saúde mental

Pandemia aumentou os “matches”, mas também o risco de relações superficiais

publicidade

A pandemia nos fez mergulhar de vez no mundo digital. A necessidade de isolamento social nos fez adaptar praticamente toda a nossa rotina para a versão online: trabalho, reuniões, compras… E os aplicativos de relacionamento, que já eram uma febre “pré pandêmica”, cresceram ainda mais. Os “matches virtuais” nunca fizeram tanto sentido. 

De acordo com um levantamento feito pelo Tinder, houve um aumento de 42% nos matches em fevereiro de 2021, em comparação ao mesmo período do ano passado. Além disso, 19% mais mensagens foram enviadas. 

Para a psicóloga Patricia Mello, o ponto positivo é que ainda existe a expectativa das pessoas de se conhecerem e se relacionarem; isso mostra que há motivação e esperança em dias melhores.

Entretanto, a falta de contato “real” trazida pelos aplicativos também pode ser prejudicial, pois acaba por muitas vezes, superficializando as relações. “Podemos ficar mais habituados a interagir digitalmente do que de outra forma, e vendo o outro, muitas vezes, como mero objeto”, explica Patricia. 

Carência agrava o problema

No último ano, certamente em algum momento (ou vários) você se sentiu sozinho. A falta de interação “ao vivo” trouxe esse sentimento de solidão. O próprio estudo do Tinder comprova: 60% dos novos usuários recorrem ao aplicativo porque se sentem solitários e desejam conhecer novas pessoas.

“O que chamamos de carência nada mais é do que necessidade de afeto e cuidado. Algo elementar para qualquer ser humano, mas que alguns tiveram e outros nem tanto. Para quem foi privado disso ao longo da vida, é difícil lidar com esse vazio, e a pessoa acaba buscando qualquer coisa para preenchê-lo”, alerta Patrícia.  

Patricia observa que o padrão de beleza e felicidade trazido pela internet é  outro ponto que merece destaque. Ele está presente nas redes sociais e também nos aplicativos de relacionamento. E quando sentimos que não nos encaixamos dentro desses moldes, isso também pode prejudicar nossa saúde mental. Isso acontece principalmente quando a pessoa está mais vulnerável

“É difícil transitar por redes sociais e nos próprios aplicativos sem achar que há alguém que lhe pareça mais bonito, mais atraente ou mais interessante, se comparado a você. Padrões de beleza só reforçam isso. Temos que nos lembrar que diversidade é o que faz do mundo interessante, e não a padronização de estilos”, defende a psicóloga.

Sinais de alerta

E como perceber que o uso de aplicativos de relacionamento está sendo prejudicial para nossa saúde mental? Patrícia destaca que é preciso estar atento aos sinais. 

“Quando se abre mão de outras coisas importantes para ficar somente acessando a plataforma. Ou mesmo quando você transita entre o passado (aqueles que me rejeitaram) e o futuro (será que serei aceito?) são alguns indicativos”, aponta. “Pessoas deprimem quando vivem muito no passado e ficam ansiosas quando pensam muito no futuro. O caminho da paz e do bem estar é viver o momento presente, o aqui-agora”, complementa a profissional. 

É possível usar de maneira saudável

Obviamente, é possível fazer um bom uso dos aplicativos de relacionamento. Muitos casais surgem a partir deles e têm relações duradouras. É importante saber que, apesar de serem uma tendência de comportamento e facilitarem a busca por um parceiro, eles não substituem o contato físico. 

A psicóloga também indica que o uso dos aplicativos seja feito com moderação. “O adequado é que seja um pequeno momento do dia, como almoçar, jantar, ler um livro, assistir a uma série. Reserve um momento para isso. Não fique o tempo todo com o aplicativo aberto, conectado. Depois, se der macht, aí se pensa em como vão aproveitar juntos”, conclui.


compartilhe