capa

Você está vivendo em relacionamento abusivo?

Nem só de violência física vive um relacionamento abusivo. Conheça outros sinais de alerta

publicidade

A violência física não é o único indicativo de um relacionamento abusivo. Ela pode inclusive nem chegar a acontecer. Infelizmente, existem muitas outras maneiras do problema se manifestar, mas todas elas são dolorosas e extremamente prejudiciais à pessoa envolvida. 

Mas como podemos definir um relacionamento abusivo? Segundo a psicóloga Patricia Mello, é é qualquer tipo de relação em que há um desequilíbrio de poder entre os envolvidos. “Ocorre quando uma das pessoas busca controle sobre a outra, que sente-se impelida a subjugar-se sob pena de perder aquilo que lhe é de valor (seja concreto ou emocional). Frequentemente relacionamentos abusivos envolvem diferentes tipos de violência, tais como violência moral, psicológica, patrimonial, física e sexual”, aponta.

De acordo com Patricia, relacionamentos abusivos operam em ciclos. Na primeira fase, há momentos de TENSÃO, quando começam críticas, ameaças veladas e implícitas, imposições e alguns atritos. Essa tensão aumenta até avançar para a fase dois, em que ocorrem INCIDENTES. “Ou seja, momentos em que o sujeito detentor do poder agride o outro utilizando-se de qualquer forma de violência”, explica. 

Na terceira etapa, pouco tempo após o incidente, há o pedido de perdão, em que o agressor faz promessas de que aquilo não voltará a ocorrer e busca justificar seus atos, muitas vezes culpando a vítima por suas ações. A vítima, então, acredita nas promessas de melhora e ocorre a RECONCILIAÇÃO. “Esta é a fase de ‘lua de mel’, em que tudo parece bem.  E, após a paixão do retorno diminuir, ocorre a fase 4”, aponta. Na quarta fase, a CALMARIA, os ânimos estão tranquilos, a relação parece bem e os indivíduos acreditam que estão tendo tudo que precisam da relação... “Até que a tensão retorna e o ciclo recomeça”, acrescenta Patricia.

A psicóloga ressalta que, a maioria dos relacionamentos abusivos são transgeracionais, ou seja, acontecem em múltiplas gerações da mesma família. “Isso ocorre porque as pessoas aprendem a se relacionar com o outro, primeiro, dentro de casa, na própria família. Isso vulnerabiliza o indivíduo, desde cedo, a ter relacionamentos abusivos porque é tudo que eles conhecem”, aponta a profissional. 

Isso dificulta o estabelecimento de relações futuras, mas também pode ensinar que se é um sobrevivente, de maneira a permitir que a vítima aprenda a identificar sinais de abuso e prevenir futuras ocorrências. “Situações ruins nos marcam e também podem nos fazer crescer”, destaca. 

Identificando sinais

Na maioria das vezes, é difícil para a vítima tomar consciência de que está sofrendo abuso. Entretanto, existem sinais que podem ser um indicativo. Em geral, a pessoa abusiva tende a ser controladora e hipercrítica com o outro indivíduo, que muitas vezes sente que há algo errado, vivenciando sentimentos de medo, vergonha, culpa ou ambivalência. 

Há afastamento gradual dos amigos, da família, isolamento da vítima até que sinta que não há com quem contar além de com o agressor. “Pode haver críticas, ofensas, algumas disfarçadas de pretensão de ajuda (‘só quero te ajudar a ser uma pessoa melhor’). Depois começam o controle excessivo (‘não gosto dessa saia, você não quer parecer vulgar, né?’) e algumas agressões (um empurrão mais forte, um beliscão, aperto forte no braço) até que escale para algo que pode levar a consequências mais amplas, como hospitalização ou denúncias dos vizinhos, por exemplo”, aponta Patricia. 

Inclusive, estes próprios sinais podem servir para evitar entrar numa relação deste tipo. “Conhecer os sinais é importante, além de questionar-se sobre a qualidade da relação. Buscar equilíbrio de forças. Fazer um contrato conjugal explícito, definindo papéis, tarefas, regras que devem ser seguidas pelas duas pessoas. Certificar-se que o outro entenda que sim é sim e não é não”, afirma a psicóloga.  “Pessoas que não se preocupam com poder não se negam a estabelecer limites. Siga seus instintos: se algo é percebido e sentido como errado ou desconfortável, é porque possivelmente não deveria estar acontecendo”, alerta.

Como sair desse tipo de relação?

Apesar de ser uma situação extremamente difícil, é possível dar a volta por cima. O primeiro passo é a vítima reconhecer que está em uma relação abusiva e/ou o agressor precisa conscientizar-se de seus atos. “Uma vez identificada a relação abusiva, é importante compartilhar isso com outras pessoas de confiança, de maneira a conversar mais sobre o assunto, encontrar soluções ou, ao menos, garantir que haja alguém mais sabendo do potencial de risco da relação”, orienta Patricia. 

Pedir espaço ou tempo, da relação para o parceiro também é útil, uma vez que o distanciamento permite ver as coisas mais claramente. “Saia de casa, vá para a casa de um amigo, distancie-se. Descubra que há outras formas de viver, de se relacionar e de ser feliz”, indica. 

Alerta

Se você está passando por algum tipo de violência, é possível fazer denúncia em delegacias especializadas ou discando 180 e conversando com um atendente ao telefone. Nestes locais, as pessoas são especialmente treinadas para lidar com casos de abuso de maneira sensível e prática, de forma a acolher a pessoa, não julgar e orientar os próximos passos. Denuncie! Existem leis para proteger você.

por Mariana Nunes

Mariana Nunes é jornalista. Ama café, praia, chocolate e futebol - não necessariamente nessa ordem. É torcedora fervorosa do Internacional e repórter do Bella Mais. @a_marinunes


compartilhe