capa

Número de divórcios cresce na pandemia

Rotina de convívio intenso, medo do futuro, entre outros fatores, contribuem para o aumento nas separações

publicidade

O isolamento social trouxe uma nova realidade para as relações familiares. Muitos casais acabaram não resistindo ao aumento da convivência. De acordo com o Google, as buscas por termos relacionados à “divórcio” aumentaram 5000% e frases do tipo “como dar entrada no divórcio” tiveram um aumento de 3500% a partir do mês de maio. E nesse passo, houve aumento de 18,7% de assinaturas de divórcio, nesse mesmo período, segundo o Colégio Notarial do Brasil, órgão que unifica todos os dados de serviços notariais do país.

O fenômeno pode ser atribuído a diversos fatores. A psicóloga e terapeuta de casais Fernanda Vaz Hartmann destaca que, a pandemia não só retirou a possibilidade de lazer, como exigiu que as famílias  tivessem que lidar com muitas situações novas: tarefas domésticas, escolares e o trabalho dos pais em home office. E tudo isto num cenário tomado pelo medo e por incertezas em relação à saúde. “Podemos afirmar que a pandemia está sendo um período de grande exigência para as famílias e de crise, promovido por um estressor externo, o coronavírus. Exigiu muita flexibilidade para as famílias desenvolverem novos recursos para lidar com as novas demandas”, destaca.

Nesse sentido, por experimentarem de forma mais estressante os fatores, ou por apresentarem estruturas que já estavam fragilizadas antes da pandemia, algumas famílias acabaram não conseguindo se organizar diante do estresse, e a separação surgiu como uma resposta a isto. “Muitos casais tiveram muita dificuldade de compartilhar as situações estressantes, tomar decisões de forma conjunta e dividir as responsabilidades que surgiram. Isto promoveu um estresse para além do tolerável para a relação e a separação se tornou a saída possível diante do sofrimento experimentado”, explica Fernanda. 

Segundo a profissional, é importante salientar que os casais que acabaram rompendo já estavam numa relação com fragilidades. Entre as principais observadas estão as falhas de comunicação e dificuldade de estabelecer uma relação simétrica - mesmo nível de poder, responsabilidade e  comprometimento entre os cônjuges. “A pandemia ‘escancarou’ as dificuldades já existentes, pelas exigências de convívio extremado e de compartilhamento de todos os aspectos da vida de cada um”, afirma. 

Como lidar com a rotina?

A crise gerada pela pandemia exigiu que as famílias se reorganizassem na sua rotina. A nova organização exigiu que os casais conversassem e determinassem novos arranjos, distribuição de tarefas, criação de momentos de lazer em casal e família num cenário restrito. 

Mas como lidar com toda essa situação sem entrar na estatística dos divórcios? Segundo Fernanda, diálogo é o caminho. “Para lidar com a crise de forma saudável, os casais têm de aprender a dialogar, expor suas percepções a respeito das situações de vida, e depois desta exploração tomar decisões com base no posicionamento de ambos. É preciso achar alternativas ‘no meio do caminho’, e tentar fugir do ‘cabo de guerra’, do ‘é do meu jeito e não do teu’. Quando os casais conseguem criar este espaço de compartilhamento, eles começam a criar uma lógica de ‘e’ e não do ‘ou’. Dessa forma, fortalecem a noção de conjugalidade (nós) e não de individualidade (eu e tu)”, aconselha Fernanda. 

A psicóloga ainda ressalta que outro aspecto importante é criar no espaço doméstico momentos de interação conjugal e familiar lúdicos. “É preciso resgatar o que se tinha antigamente, como tomar um chimarrão com o cônjuge, sentar à mesa nas refeições, jogar com os filhos jogos de tabuleiro ou cartas, procurar séries de TV que possam ser compartilhadas”, exemplifica. A nova organização, com distribuição de responsabilidades, deve ser compartilhada com todos que residem na casa. “O  ‘contrato explícito’ é a melhor forma de compartilhar as expectativas e preservar as relações, seja entre o casal seja entre pais e filhos, de futuras frustrações”, finaliza.


compartilhe