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Dia Nacional do Idoso: o que tem contribuído para a população viver mais e melhor

Avanços na medicina e a inclusão dos mais velhos em áreas como o mercado de trabalho trouxeram mais qualidade de vida para os idosos

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Há algumas décadas, a expectativa de vida média da população brasileira era de pouco mais de 60 anos. Atualmente, esse número vem aumentando. No Rio Grande do Sul, por exemplo, estima-se que os gaúchos estejam vivendo 77 anos, segundo dados do Departamento de Economia e Estatística (DEE) do Estado.

O fato é que os idosos não só têm vivido mais, como estão chegando à terceira idade mais ativos. O que temos acompanhado hoje, é uma mudança no perfil das pessoas acima de 60 anos e na forma como enxergamos aqueles que têm chegado a esta idade. Isso se deve principalmente ao envelhecimento da população, conforme explica a médica-chefe da Unidade de Geriatria do Serviço de Medicina Interna do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Roberta Rigo Dalla Corte.

“Ainda temos a persistência da visão utilitarista, que enxerga no idoso alguém com pouca capacidade para colaborar com a sociedade, quando na verdade, se sabe que a sabedoria e a maturidade psicológica tem um ápice nessa fase, e a maioria dos idosos poderia contribuir ativamente para com familiares, comunidades e mercado de trabalho. Aos poucos, porém, com o aumento expressivo no número de idosos (hoje são mais de 28 milhões no Brasil) essa cultura vem, lentamente, mudando”, afirma a médica.

Fatores que contribuíram para a qualidade de vida

De acordo com Roberta, o aumento da expectativa e da qualidade de vida dos idosos se deve a fatores como os avanços na área da medicina - com maior controle das doenças crônicas (como a hipertensão e o diabetes) -, além de uma maior participação dos idosos nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, o que resulta também em maiores chances de continuar no mercado de trabalho. “Todas essas dimensões ainda tem muito a serem melhoradas, mas já progredimos em relação a patamares anteriores”, pontua a profissional.

Além disso, existem fatores relacionados ao sexo que também influenciam e impactam no processo do envelhecimento, a começar pelo fato de as mulheres têm uma expectativa de vida maior que a dos homens. “Isso se explica pelo fato de os homens estarem mais sujeitos a lesões incapacitantes ou morte devido à violência, aos riscos ocupacionais e ao suicídio. Também assumem comportamentos de maior risco, como fumar, consumir bebidas alcoólicas e drogas e se expor desnecessariamente ao risco de lesões”, esclarece Roberta Dalla Corte.

Já em relação às idosas que temos hoje na sociedade brasileira, a médica ressalta que muitas atuaram e ainda atuam como responsáveis pelos cuidados com a família, o que, de acordo com a especialista, contribui para um aumento da pobreza e de problemas de saúde quando ficam mais velhas. E, apesar de nos últimos 40 anos ter ocorrido um aumento progressivo e significativo de oportunidades de trabalho e educação para as mulheres, esse fenômeno não alcança todos os extratos sociais. 

Uma particularidade positiva, no entanto, é que as mulheres se mantêm mais ativas que os homens, mesmo em idades mais avançadas, justamente por essas características de sempre ter cuidados com a casa e com os familiares, trabalhos que nunca cessam. “Para as mulheres que trabalham, a aposentadoria acaba sendo menos desafiadora do que para os homens, pois acabam por se ocupar mais em seus relacionamentos sociais e nas próprias tarefas domésticas, tempo que antes era destinado para o trabalho formal”, comenta a médica do HCPA.

Chegar bem aos 60 anos depende das escolhas

Roberta salienta que não existe uma "pílula mágica" ou qualquer tratamento de última geração que garanta um envelhecimento saudável. Ela explica que isso é resultado dos comportamentos e hábitos adotados ao longo da vida. Sua principal orientação é que cada indivíduo mantenha-se fisicamente e socialmente ativo, além de evitar fumar e ingerir bebidas alcoólicas em grandes quantidades e ter uma dieta com o mínimo de comida processada possível. 

Mas se você não conseguiu fazer nada disso antes dos 60 anos, preste atenção no recado da médica. “Quem chegou a essa idade tem a chamada expectativa de vida aos 60 anos, que é diferente da expectativa que se tem ao nascer, e poderá  viver mais tempo, até os 83 anos. Esses anos a mais, poderão ser vividos com mais qualidade de vida e com mais mobilidade”, ressalta. 

A profissional, que chefia a Unidade de Geriatria do Serviço de Medicina Interna do HCPA esclarece que segundo a Organização Mundial de Saúde, “ter uma qualidade de vida” não significa a ausência de doenças, e sim que as necessidades do indivíduo estejam sendo atendidas. 

“Isso pode ser influenciado por determinantes de saúde, econômicos e sociais do envelhecimento.Ou seja, as pessoas conseguem envelhecer com mais qualidade de acordo com as possibilidades que têm acesso. Envelhecer bem não é uma responsabilidade só do indivíduo e depende da oferta de recursos como educação, urbanização, habitação, saúde, trabalho e família”, finaliza Roberta.

por Vitória Nunes Soares

Como boa repórter, está sempre pronta para aprender sobre todas as coisas. Tem estilo low profile, ou seja, é meio sumida das redes sociais pois prefere viver.


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