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Maternidade: por que as mães ainda são tão julgadas?

Neste Dia das Mães, o Bella Mais te convida a refletir sobre o difícil lugar que é ocupado por elas

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Hoje, 8 de maio, é celebrado o Dia das Mães, uma data que é sempre marcada por encontros, demonstrações de afeto e claro, presentes! A maternidade, certamente traz muitos momentos felizes para a vida da mulher, porém, ainda falamos muito pouco sobre uma outra face desta mesma moeda: os julgamentos e inseguranças pelos quais as mães passam.

Um estudo da Ipsos, empresa especialista em pesquisa de mercado, realizado em 28 países, mostrou que 46% das mães brasileiras se sentem julgadas com frequência. A média do Brasil fica atrás apenas da Índia, da Arábia Saudita e da Austrália. Entre os principais motivos que fazem as mulheres se sentirem culpadas estão: o comportamento do(s) filho(s), o que deixam ou proíbem o(s) filho(s) de fazer(em)  e a forma como controlam os comportamentos da(s) crianças(s) (36,4%). O que ajuda a explicar esses dados? 

Julgamentos levam a outros sentimentos, como a culpa

Conforme explica a psicóloga Patricia Mello, nós vivemos em um país onde as pessoas acreditam que as mães têm certas obrigações a cumprir e isso implica em uma completa renúncia. 

“Quando uma mãe, que nada mais é do que um ser humano, não atende esses padrões, é julgada. Aliás, esse dado de 46% me parece subnotificado. Na minha prática clínica, nunca conheci uma paciente que seja mãe e não tenha se sentido julgada em algum momento da maternidade” relata.

E essa frequente sensação de estar sendo julgada, pode inclusive gerar outros problemas e despertar sentimentos como a culpa e a insegurança. “Pensamentos como ‘não sou uma boa mãe’ e ‘estou errando’ fazem parte da vida mental dessas mulheres”, comenta a psicóloga. 

As mães acabam se culpando e sofrendo por não atenderem às próprias exigências, que são muitas vezes fruto de uma cultura conservadora e irrealista, segundo Patricia.

Há ainda um outro aspecto que soma-se aos anteriores: a sobrecarga de trabalho e os múltiplos papéis desempenhados pelas mulheres, algo que exige delas um nível de energia sobre-humano. Todos esses fatores, juntos, podem impactar negativamente a saúde mental das mães, acendendo um alerta para a situação. “Esse gasto de energia excessivo, associado a insegurança e culpa são elementos que causam muita aflição e podem levar a diversos transtornos mentais como Depressão, Síndrome do Pânico, Ansiedade Generalizada, etc”, esclarece a profissional. 

Como lidar com julgamentos e comentários alheio

Um dos maiores desafios das mães, além da própria criação dos filhos, é saber como lidar com os julgamentos e com os comentários e opiniões alheias. A psicóloga Patricia, lembra que opinar estando do lado de fora da situação acaba sendo muito fácil e que uma avaliação - ou opinião - adequada demanda uma visão de conjunto imensa. 

“Em geral, quem julga, tem uma fração minúscula do universo do outro para ter os dados necessários para indicar o que é certo ou errado”, ressalta.

Ou seja, se o outro não exerce um determinado papel - como a maternidade, por exemplo - e ainda assim se acha no direito de julgar, o problema está nele e não em quem sofre o julgamento. 

“Qualquer pessoa que não vive isso e tem a ousadia de julgar, precisa urgentemente rever a si mesma. Criticar uma mulher que exerce a maternidade com base em regras arbitrárias e sem o mínimo de empatia, somente porque é sua ‘opinião’, é de uma perversidade preocupante” afirma Patricia.

Já em relação a como lidar com sentimentos como a culpa e a autocobrança excessiva, a profissional sugere que cada mãe explicite para si mesmo como deseja exercer a maternidade. 

“Defina para si mesma o que realmente acha que seria indispensável, o que seria desejável, o que seria dispensável e o que seria desnecessário. Escreva esses itens como um conjunto de leis próprias - o que eu chamo de ‘código pessoal da maternidade realista’ -. Algo flexível, de bom senso, que considere as limitações humanas de um indivíduo como qualquer outro”, orienta. 

Segundo a psicóloga, a partir disso fica mais fácil seguir as diretrizes do que a mãe considera e determinou como importante e viável para a vida, independente do que o “mundo lá fora” determina que é certo ou errado.

Para finalizar, Patricia deixou um recado às mães neste dia: “Só você viveu sua história, experienciou seu passado, tomou as suas decisões, enfrentou as consequências de seus atos, e experimentou as dores e prazeres que a vida oferece. A não ser que o outro viva sua vida e calce diariamente seus sapatos, qualquer julgamento é vazio de sentido. Pensemos: mães se propuseram a abrir mão dos seus corpos, dos seus desejos e de suas necessidades em prol do outro e por isso, elas já são as pessoas mais admiráveis que existem”.

por Vitória Nunes Soares

Como boa repórter, está sempre pronta para aprender sobre todas as coisas. Tem estilo low profile, ou seja, é meio sumida das redes sociais pois prefere viver.


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