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Alimentação em alerta: 61% das famílias consomem mais fast food e refrigerantes

Pandemia teve impacto negativo principalmente na alimentação das crianças e adolescentes

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Um estudo feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) aponta que 61% das famílias com crianças e adolescentes aumentaram o consumo de fast food e refrigerantes no último ano. Os dados preocupam e mostram que a pandemia teve um impacto significativo na alimentação infantil.

A especialista em nutrição materno-infantil e nutricionista assistencial do Hospital Moinhos de Vento, Jessica Batista Minho, alerta: o perigo mora em casa. “O desespero e despreparo dos pais na organização escolar e alimentar de seus filhos neste período turbulento, juntamente com a pressão do momento vivenciado no mundo e o aumento do tempo das crianças no ambiente domiciliar, modificaram os hábitos alimentares delas”.

O resultado foi o aumento do consumo de alimentos industrializados e hipercalóricos e a diminuição do consumo de frutas. “Esta mudança só revelará suas reais consequências em um futuro próximo”, complementa Jessica. De acordo com a Unicef, até 2025, o Brasil pode ter um milhão de jovens e crianças com pressão arterial elevada, outros mais de 100 mil com diabetes tipo 2 na fase adulta e 12,5 milhões de crianças obesas.

Outro impacto percebido no período foi a perda das rotinas alimentar e escolar, fazendo com que as crianças “pulem” refeições ao longo do dia, o que é extremamente prejudicial para o desenvolvimento. “Além disso, também podemos citar o aumento do consumo de alimentos hipercalóricos por estresse ou ansiedade e o crescente aumento nos pedidos de refeição vindos de fora de casa, o que acaba por influenciar nas refeições em família”, aponta Jessica.

Alimentação saudável na infância protege de doenças

A importância da dieta saudável e equilibrada na infância está no fator protetivo. “Ao promover uma dieta baseada em alimentos in natura, como frutas, verduras e legumes; minimamente processados, como arroz, feijão, carnes e lácteos; e com baixo consumo de alimentos ultraprocessados, como doces, fast food, salgadinhos e refrigerantes; os pais estimulam a formação de hábitos alimentares saudáveis, que será um fator de proteção contra as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) na vida adulta”, explica a nutricionista.

As DCNT englobam doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e até mesmo câncer. “Vale lembrar que, sempre que possível, devemos também incentivar a prática de exercícios físicos pelas crianças”, reforça Jessica. 

Pais devem ser exemplos

A alimentação das crianças está ligada também aos hábitos da família. Os pais são os responsáveis, primeiros educadores nutricionais e modelos de seus filhos. “Um estudo guiado em crianças brasileiras apontou que a ausência dos pais em qualquer uma das principais refeições diminui a probabilidade que orientações e estímulo para uma alimentação saudável sejam realizadas”, comenta.

Além disso, o uso de alimentos como recompensa ou regulação emocional (oferecer alimentos que a criança gosta quando está triste) aumenta o consumo do que não é saudável. “Para serem bons exemplos para seus filhos é necessário que os pais estejam abertos a mudarem também os seus próprios hábitos, aumentando o consumo de alimentos saudáveis, diminuindo a frequência de ultraprocessados, praticando exercícios físicos com as crianças e proporcionando um ambiente doméstico harmonioso, onde a alimentação não seja um tabu”, orienta a profissional.

Como mudar a realidade?

Promover mudanças de hábitos alimentares é um processo difícil e que exige dedicação, e quando falamos das crianças, não é diferente. Entretanto, é possível ter sucesso nessa missão. 

Muitas vezes, atitudes simples no dia a dia podem contribuir nesse sentido. Jessica preparou sugestões para os pais implementarem na rotina e que ajudarão a melhorar a alimentação dos pequenos:

Faça mais receitas em casa. Crianças envolvidas no preparo das refeições têm maior chance de experimentar novos alimentos;

Aumente o contato dos seus filhos com os alimentos: faça uma horta, leve-os à feira, converse com eles e conte de onde vêm os alimentos;

Tenha alimentos saudáveis à vista e de fácil acesso. Deixe frutas na fruteira, alimentos cortados perto das crianças enquanto brincam. Isso aumenta a curiosidade e as chances delas experimentarem;

Use o lúdico a seu favor. Conte histórias que envolvam alimentos, tire uma tarde para montar pratos divertidos com frutas e legumes;

Evite ter industrializados ao alcance das crianças e não ofereça como recompensa a bons comportamentos;

Procure deixar os doces e sobremesas para ocasiões especiais, e não na rotina alimentar;

Seja criativo e peça ideias a seus filhos sobre o que cozinhar;

Se necessário, procure ajuda de um nutricionista. Ele é o profissional apto a te auxiliar nesse processo.


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