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Como o excesso de informação pode atrapalhar a gravidez

A felicidade fabricada pelas redes sociais pode gerar efeitos negativos

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A gestação é um momento delicado na vida da mulher, em muitos sentidos. Mesmo a gravidez intensamente desejada e planejada provoca ansiedades e temores - tanto pelas mudanças físicas quanto às que irão acontecer durante a maternidade. 

São muitas dúvidas e inquietações, que se misturam aos momentos de felicidade: o que é preciso para ser uma boa mãe? Será que serei uma boa mãe? E a minha carreira, como vou conciliá-la com os cuidados de um filho? Diante das angústias naturais desse momento, a facilidade de acesso à informação, a busca por respostas que recuperem a sensação (ilusória) de controle sobre a vida, faz com que muitas mulheres passem a absorver todo tipo de informações disponíveis.

A psicanalista Fertilitat, Débora Farinati, explica que a procura por informações não é prejudicial e pode trazer uma certa dimensão de alívio frente às incertezas. Contudo, quando essa busca é exagerada, quase como uma compulsão, deve se considerar no que isso pode acarretar. “É preciso analisar quais seriam as angústias e fantasias que a impulsionam, para que então, a gestante possa avaliar a singularidade de seus anseios e temores e buscar compreendê-los dentro da sua história. Essa informação não está disponível na rede, deve ser buscada dentro dela”, aponta.

A ilusão das redes sociais

O excesso de informações “sem filtro” podem, ao contrário de aliviar as ansiedades, provocar o incremento dessas, uma vez que a gestação é um evento único para cada mulher. “Mesmo àquelas que já estão em uma segunda gravidez sabem que as experiências não se repetem e que trazem novas perspectivas e sensações. O que está se passando com uma mulher na gestação não necessariamente irá se passar com a outra, o que não significa que partilhar experiências não seja importante”, explica Débora.

Nesse contexto, as redes sociais, que muitas vezes acabam sendo fonte de informação, podem também causar distorção. “Nas redes o que se expõe é o lado glamouroso da vida e com a gravidez não é diferente. Quando uma gestante olha para o que está exposto nas redes e não se identifica com aquela imagem idealizada pode sentir-se culpada por não se encaixar no padrão”, comenta a psicanalista. 

Débora ressalta que nem toda a gestante fica confortável com as mudanças no seu corpo, mas a imagem postada nas redes é a da mulher em estado constante de plenitude. Há um estímulo à crença da vida perfeita. “As comparações podem gerar ainda mais angústias e tentativas de alcançar a imagem proposta como padrão a ser seguido, ao invés de viver a gestação e compreendê-la dentro de sua individualidade”, aponta. 

Troca é importante se feita da forma correta

A profissional defende que a informação e os grupos de partilha não são vilões a serem combatidos, ao contrário: podem ser fundamentais nesse momento. “Talvez, o grande vilão seja a ideia da padronização, a ideia de que existe a ‘forma correta’ de ser mãe e de vivenciar a gestação, excluindo as nuances singulares da experiência de cada mulher”, explica. 

Trocar ideias, dividir angústias, alegrias e dúvidas podem ser fundamentais nesse momento da vida. “Muitos estudos têm mostrado que o compartilhar de sentimentos com outras mulheres que estejam vivenciando a gestação, inclusive por meio de grupos, pode favorecer que as futuras mamães se sintam mais tranquilas ao perceberem que outras mulheres compartilham de inquietudes semelhantes às suas, e dessa forma, ampliam seus recursos para lidarem com elas”, destaca Débora.

De acordo com a especialista, uma das formas de “filtrar” as informações é se questionar sobre o que está por trás dessa busca. “É necessário realizar uma leitura atenta e crítica das informações que está consumindo, certificar-se das fontes, discuti-las com as pessoas que acompanham e não tornar a informação uma norma de como deve sentir-se e de como deve agir. Refletir sempre sobre o que lê e o que sente ao ler. Buscar compreender-se nesse processo, olhar para fora, mas não deixar que olhar para dentro de si mesma”, finaliza.

 
por Mariana Nunes

Mariana Nunes é jornalista. Ama café, praia, chocolate e futebol - não necessariamente nessa ordem. É torcedora fervorosa do Internacional e repórter do Bella Mais. @a_marinunes


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