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Toda mulher está preparada para ser mãe?

Nesse Dia das Mães, trazemos esse importante questionamento, que vem acompanhado de tantos outros

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Nesse Dia das Mães, te propomos uma questão: todas as mulheres estão preparadas para serem mães? O senso comum diz que sim. E mais: além de estarem preparadas, elas ainda sabem qual o momento ideal para a maternidade. Porém, na prática, a realidade que se apresenta para muitas mulheres é diferente - tanto das que já são mães quanto das que ainda querem (ou não) ser.

A psicanalista e especialista em maternidade da Fertilitat, Débora Farinati, explica que a “cobrança” imposta pela sociedade para que toda a mulher esteja pronta para ser mãe vem na esteira da cultura da atualidade onde a perfeição, o sucesso e o êxito são pré-requisitos para que um sujeito seja visto como tendo valor. “Essa cobrança impõe sobre a mulher uma intensa pressão, pois mais do que o questionamento sobre o que envolve o seu desejo ou não de tornar-se mãe, ela precisa saber o que dela é esperado para que cumpra com maestria todas as expectativas que nela são depositadas e que ela acaba também, colocando sobre si mesma: ser uma super mulher”, relata.

Além disso, falar em “momento ideal” para se tornar mãe é corroborar a idealização nociva posta sobre a maternidade. Inclusive, essa idealização cobra das mulheres uma perfeição que não existe e que muitas vezes resulta no adiamento da maternidade e consequentemente em possíveis dificuldades para engravidar. “Aceitar que somos maravilhosamente imperfeitos nos dá a possibilidade de irmos construindo o momento em que nos sentimos em condições de embarcarmos na aventura da maternidade sabendo que iremos ter alegrias, temores e desafios”, comenta Débora.

Pressão traz consequências

A psicanalista alerta que, a pressão por desempenho e eficiência pode causar um excesso de exigência sobre o exercício da maternidade, causando ansiedades intensas a cada nova etapa do desenvolvimento da criança. “Por exemplo, hoje temos uma quantidade enorme de informações e manuais que ditam o melhor jeito de fazer dormir, comer e estimular a criança a ter um excelente desenvolvimento”, relata. 

Se na percepção idealizada desta mãe ela precisa conseguir cumprir, assim como precisa que seu filho cumpra à risca tudo o que seria esperado dela, angústias importantes podem ser desencadeadas prejudicando a relação mãe bebê. “As relações são singulares, precisam de tempo e paciência consigo e com o outro. Quanto mais idealizada for a maternidade, mais significativas são as decepções consigo mesma e com a própria criança, gerando sofrimento e prejuízo no vínculo mãe filho”, afirma Débora.

E o que é estar preparada para ser mãe? Se a resposta significa não ter dúvidas e receios, não existe como afirmar que é possível sabermos quando uma mulher se sente “pronta” para a maternidade. “Agora, se estar preparada, significa ter em si e na vida um espaço aberto ao outro, onde a disponibilidade para amar e se construir nesse lugar está presente, onde aceitamos que teremos muito a aprender  e a descobrir, onde percebemos e aceitamos que um filho não é uma reprodução de nós mesmos, mas um diferente que despertará em nós uma miríade infinita de novas sensações, ah então penso que uma mulher saberá o momento em que se sinta preparada para se aventurar”, relata Débora.

Pâmela: mãe na hora certa. Para ela!

“Me joguei de um avião sem paraquedas e tive que montar o paraquedas caindo do avião”. É assim que Pâmela Ghilardi define como foi o momento da sua maternidade. Aos 20 anos, em 2012, ela deu à luz ao Lucca. Naquele momento, além da pouca idade, não estava numa relação estável. Portanto, ela é mãe solo desde o momento em que engravidou. 

“Na época, obviamente pensei que não fosse o momento certo. Mas hoje eu sei que foi, para que hoje eu fosse quem eu sou. Então tem um momento certo na vida de cada pessoa, mas eu não acredito que não se deva esperar por um momento ideal. Ninguém está preparada o suficiente para a maternidade, para todo o turbilhão que isso é”, relata. 

Hoje, ela leva a maternidade focada nos valores que acredita, e não no que as pessoas acham que é melhor para ela e o filho. “Ao longo do tempo, eu comecei a pesquisar mais sobre o feminismo e o quanto isso era importante para mim e para ele, o quanto essa desconstrução desde cedo seria importante. Eu tento levar uma maternidade mais leve, mais de cumplicidade do que de autoridade. Eu e o Lucca temos muita cumplicidade, a gente tem muita confiança um no outro justamente por essa ligação”, conta Pâmela.

Através do perfil no instagram @fofocademae, ela compartilha suas experiências com a maternidade e tenta ajudar outras mulheres a levar o assunto de forma mais leve. “Há oito anos atrás, quando criei o perfil, eu não tinha amigas que tinham filhos, porque eu era muito nova. Havia pouca informação sobre uma maternidade solo, as pessoas não falavam muito sobre isso e eu queria falar sobre o que eu estava vivendo, queria compartilhar, queria conversar com pessoas que tivessem passando pelas mesmas coisas que eu. Queria que a Pâmela de nove anos atrás tivesse alguém como eu hoje, para ter esse suporte”, relata.

Para ela, compartilhar as dores da maternidade, sabendo que outras mães estão passando pela mesma coisa, alivia uma carga absurda. Sem falar das dicas, de dúvidas e de vivências também, que acabou adquirindo ao longo do tempo. “Compartilhar a minha vida nas redes sociais foi realmente uma das melhores decisões que eu tomei, porque eu pude entender que ninguém nunca está sozinho, sempre vai ter alguém que está passando por algo muito parecido com o que você está vivendo, então sempre vale a pena compartilhar”, afirma. “A essência do meu trabalho é mudar pelo menos a vida de uma pessoa todos os dias, é melhorar a vida de uma pessoa todos os dias. Esse é o meu propósito de sempre e eu levo isso muito a sério e realmente busco demais isso dentro do meu trabalho”, complementa.

Na próxima terça-feira (11), as vivências da internet irão para outra plataforma com o lançamento do seu primeiro livro, “Decidi aposentar minha capa de heroína”. “É um livro em que eu conto um lado justamente de como muitas nós, principalmentes mulheres que levam uma maternidade solo, independente de ser casada, pois muitas mulheres casadas levam uma maternidade solo, que quando nos tornamos mães, temos que virar uma super heroína, a gente tem que dar conta de tudo, tem que ser mil tarefas”, explica. “A ideia é acolher essas mães que estão exaustas de serem vistas como super heroínas - não precisamos aguentar essa capa sempre”, complementa. 

Recado para outras mulheres

O recado de Pâmela para as mulheres que são ou querem ser mães é: não esqueçam de quem vocês são e da mulher que existe dentro de vocês. “Depois que a gente é mãe, acabamos vivendo para os nossos filhos, só que para ter filhos felizes, a gente precisa de mães felizes, realizadas, saudáveis fisicamente e mentalmente. Que sejam felizes dentro dos seus relacionamentos, no trabalho, seja tendo tempo de qualidade com as amigas, com elas mesmas. Não se esqueçam de si mesmas dentro da maternidade. Se fala muito sobre estudar sobre os filhos, sobre estudar sobre amamentar, mas ninguém lembra da mãe.É tudo em prol da criança, daquele novo ser, mas as pessoas acabam esquecendo que existe uma mulher que está passando por um turbilhão de novos sentimentos”, finaliza.


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