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Relacionamentos

Carreira e maternidade: como conciliar os papéis sem culpa

Uma mãe realizada profissionalmente é vantagem para todos, porém, pouco se fala sobre os benefícios da conciliação entre carreira e maternidade. Por quê?

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Pergunte às mulheres do seu convívio que estão inseridas no mercado de trabalho: quais são os pilares da vida? A resposta da maior parte das que têm filhos provavelmente inclui as crianças e a carreira. Experimente questionar como ela se sente na conciliação desses dois pilares. Desconforto e culpa são respostas frequentes. Qual é a razão? 

Ainda paira no ar a equivocada visão de que a dedicação em tempo integral das mães é garantia de um desenvolvimento saudável para os filhos. Uma percepção ancorada em ideias sem fundamentação do passado. E que não se sustenta nas pesquisas sobre o tema. 

O estudo mais amplo sobre os impactos da carreira na prole, conduzido pela acadêmica Kathleen McGinn, da Universidade de Harvard, mostra que que filhos de mães que trabalham se tornam seres humanos melhores. A pesquisadora Vera Iaconelli, afirmou certa vez em entrevista que “estar sempre com os filhos não é o melhor para os filhos”. A brasileira sustenta que o saudável é estar disponível e estabelecer uma relação na qual a criança sabe que, quando precisar, terá o suporte do adulto. 

Para Natalia Leite, jornalista e cofundadora da Sonata Brasil, escola de formação de líderes, esse é o momento ideal para repensarmos a relação entre mãe e profissional. “Tudo que toca a maternidade ainda é muito permeado por achismo e por ideias construídas ao longo de muitos séculos e que hoje sabemos que não são verdade. A nossa geração que tem acesso a muitas informações e tem condições de fazer diferente, a começar pelo pensamento de que carreira e maternidade são incompatíveis”, comenta.

Crianças observam e aprendem

Natalia relembra que o humano aprende pelo exemplo. Portanto, crescer num ambiente onde a mãe é realizada no trabalho e gosta do que faz, vai ensinar a criança a ter, no futuro, uma relação sadia com a vida profissional. Além disso, ela salienta que reforçar a culpa nas profissionais é uma forma de gerar medo para impedir a liberdade financeira e a autonomia feminina. 

“Espera, eu vou focar na minha carreira ou nos meus filhos? A mulher não precisa escolher entre uma coisa ou outra. Não é essa a pergunta. A questão é como chegar à organização familiar, aos bons combinados, para conciliar carreira e maternidade. Está na hora de construirmos os meios para que mulheres possam trocar o ‘ou’ pelo ‘e’ com mais apoio”, afirma. 

Maternidade ajuda no desenvolvimento de novas competências

Quando o assunto é a conciliação de papéis, muito se fala das dificuldades que a maternidade traz para realidade profissional de uma mulher. Natalia, porém, traz à tona um outro aspecto: as competências que a maternidade ajuda a desenvolver na mulher. “Seguimos olhando apenas para o que a maternidade tira das profissionais e esquecemos do que ela amplia”, ressalta.

De acordo com a profissional, uma série de características que são necessárias para a carreira são ampliadas pela experiência da maternidade, como a paciência, a empatia e a genuína capacidade de não apenas ouvir, mas de sentir o outro.

“Quando você tem um bebê, você precisa se conectar com ele num nível emocional, pois ele ainda não consegue se expressar através da fala e isso é muito útil depois no trabalho, para você sentir as pessoas, especialmente como gestora. Sua capacidade de sentir o ambiente é profundamente impactada”, explica a cofundadora da Sonata.

Produtividade e foco também são ampliados

Além disso, segundo Natalia, com a maternidade a mulher se torna muito mais objetiva. “Se você tem que buscar seu filho ou você quer ter mais tempo com ele - o que a maior parte das mães quer -, você não perde mais tempo. Você se torna muito mais produtiva e focada. A capacidade de negociação também é ampliada. Você só quer resolver as situações e ir para a frente, avançar e fazer as coisas acontecerem. Também há uma preocupação com a humanidade, pois as decisões tomadas hoje, vão impactar a sociedade de amanhã, em que seu filho vai viver”. 

Para enfrentar os desafios de retenção de talentos e, de fato, cuidar da saúde mental das pessoas, as empresas precisam trazer um novo olhar para este tema. Encontrar formas de trazer mais leveza à conciliação entre maternidade e carreira não é apenas o caminho mais correto e humano. É também o melhor negócio. 

“Além das habilidades técnicas, os profissionais do nosso tempo de transformações tão velozes precisam de antifragilidade, criatividade, abertura e empatia. Todas essas competências estão na lista do que uma mulher ganha ao se tornar mãe”, finaliza a cofundadora da Sonata. 

por Vitória Nunes Soares

Como boa repórter, está sempre pronta para aprender sobre todas as coisas. Tem estilo low profile, ou seja, é meio sumida das redes sociais pois prefere viver.


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