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Relacionamentos

Quais os limites entre o amor e a dependência emocional?

Sua relação amorosa está baseada em trocas mútuas de carinho, admiração, afeto? Ou você deposita no outro a expectativa de preencher o vazio e o medo de ficar só?

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Amar e ser amado num relacionamento é uma das grandes satisfações que temos a oportunidade de ter na vida. Demonstrar o amor pelo outro através da entrega, das atitudes carinhosas, gestos, atenção, momentos felizes é o que transforma a relação ainda mais completa. Mas o amor é sentimento complexo, que por muitas vezes, pode não trazer somente alegrias. Quando se trata de uma relação entre um casal, ele também pode ser confundido com outras questões, como por exemplo, a dependência emocional. Muitas vezes a linha entre as duas situações é sutil e fácil de ser ultrapassada. Afinal, você ama ou está dependente de alguém?

Conforme explica a psicóloga Patricia Mello, a palavra “dependência” remonta a ideia de necessidade. E um relacionamento é algo que é saudável quando desejamos, não quando necessitamos dele. “Uma pessoa com dependência emocional é aquela que pensa que sua vida acabaria se não estivesse com o outro, ou ainda, que acredita que não suportará o sofrimento caso perca o parceiro. Por isso, acaba sujeitando-se a demandas que podem ser abusivas”, relata.

Necessidades emocionais como amor incondicional, afeto e proteção são característicos ao ser humano. Porém, quando essas necessidades não são adequadamente atendidas (em geral na infância e/ou adolescência), o indivíduo sente um vazio, uma falta e um sofrimento enorme ao ter contato com esse vazio. Assim, busca no outro uma tentativa de preenchê-lo na idade adulta. “Começa ‘lá atrás’, nas relações com as figuras parentais, que nem sempre conseguem suprir essas necessidades na criança e acabam ‘produzindo’ adultos dependentes”, explica a psicóloga.

Como diferenciar os sentimentos?

Patricia alerta que é preciso ficar atento aos sinais de que o amor está sendo confundido com dependência. Quando a pessoa viola seus próprios limites para agradar o parceiro (uma vez que não suportaria perdê-lo), ou ainda, quando a pessoa necessita da presença do outro para atividades que poderia muito bem realizar com autonomia, são alguns dos exemplos. “Pessoas com dependência apresentam sofrimento excessivo quando o outro está ausente”, comenta.

Algumas consequências trazidas por essa dependência são que, na relação, a pessoa pode ser excessivamente ciumenta, muito apegada, impedindo a liberdade do outro. “Pode ainda subjugar-se e se auto-sacrificar em excesso, perdendo o próprio senso de identidade. Adicionalmente, o sofrimento intenso pode levar a transtornos de ansiedade e depressão”, aponta a psicóloga.

Atender às próprias necessidades emocionais, entrar em contato consigo mesmo e apreciar a própria companhia são algumas maneiras de evitar uma relação de dependência emocional. “É preciso buscar atender às próprias necessidades emocionais ao invés de esperar que o outro faça. O medo de ficar sozinho termina quando você começa a apreciar sua própria companhia, de maneira que a inclusão do outro em sua vida é um ‘bônus’, e não um fator imprescindível para a felicidade”, explica Patricia. “Se a pessoa está em muito sofrimento, é importante buscar uma terapia. Alguns casos coisas precisam de apoio profissional para serem resolvidos e isso é compreensível”, complementa.

Por fim, a profissional destaca que, pode parecer “clichê”, mas o amor é libertário. “Você confia intrinsecamente, sente-se apoiado e apoia o outro sem invadir limites; permite o outro ter seu espaço e suas insatisfações sem sentir-se ansioso toda a vez que o outro sai pela porta. Amor conforta”, aponta.  

Já a dependência é uma constante busca por algo que falta e parece nunca ser suprido. “É viver ansioso frente a possibilidade de abandono e, paradoxalmente, é abandonar a si mesmo, subjugando-se ao outro para não perdê-lo. Isso escraviza”, finaliza. 


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