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A experiência de viajar durante a pandemia

Jornalista gaúcha que mora na Alemanha nos conta como foi a experiência de viajar durante a pandemia de Covid-19

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É difícil apontar alguma atividade do nosso cotidiano que não tenha sido alterada nos últimos meses. Viajar talvez tenha sido uma das principais delas. Em países em que a pandemia de Covid-19 está controlada, é possível fazer turismo - sob uma série de adaptações. A jornalista Ana Carolina Lisboa voltou recentemente da Alemanha, lugar onde morou nos últimos oito meses. Ela contou ao Bella Mais a sua experiência no país estrangeiro durante o período e como foi ‘turistar’ no chamado “novo normal”.

Era 25 de dezembro quando Ana chegou na cidade de Karlsruhe, no estado de Baden-Württemberg. Ela foi morar com o namorado, que fazia um doutorado sanduíche na Alemanha. Na época pré-pandemia foi possível visitar outras cidades e pontos turísticos inclusive de países vizinhos. “Logo após a virada do ano fomos a Strasbourg, uma cidade francesa que fica bem perto de Karlsruhe com acesso de ônibus. Eram os últimos dias das feiras de Natal, então estava absurdamente lotado! E poucos dias antes, o primeiro caso de coronavírus já tinha sido detectado na China, mas o assunto ainda não tinha virado manchete”, conta.

Já em março, com o início da pandemia, tudo mudou. Ana esteve em Berlim quando a Alemanha começou a decretar o fechamento de museus e lugares fechados. “Conseguimos aproveitar os pontos turísticos a céu aberto, fomos em alguns restaurantes - ainda sem o uso de máscara, ainda era muito ‘distante’, apesar de já se saber do risco e ter todo o alerta. Mas já deu pra notar uma diferença na rua. O Portão de Brandemburgo, por exemplo, que normalmente é lotado de turistas, estava praticamente vazio”, relata a jornalista.

De volta a Karlsruhe, todas as viagens planejadas pelo casal tiveram de ser adiadas. “Eu tinha inclusive conseguido um emprego num restaurante - que por conta da pandemia acabou sendo obrigado a fechar, então acabou não dando certo naquele momento”, conta Ana.

O “novo normal” em maio

A partir da metade de maio, com a pandemia controlada, as medidas começaram a ser flexibilizadas na Alemanha. Como as fronteiras dos outros países ainda estavam fechadas, a alternativa do foi conhecer algumas cidades alemãs. “Fomos para Heidelberg, Köln e Stuttgart, que são cidades não muito distantes de onde estávamos. “O clima de todos esses lugares estava muito tranquilo. Sempre fomos muito cuidadosos, usando álcool gel, máscara, procurando manter a distância, mas os transportes até esses lugares estavam lotados! Diziam que a capacidade seria reduzida em 50%, mas não era o que acontecia na prática”, relata a jornalista.

Em Köln (Colônia), Ana conta ter encontrado um “mundo paralelo”. “Lá vimos todo mundo sem máscara, andando normalmente, como se nada estivesse acontecendo. Bares e restaurante lotados (nas ruas), e só os funcionários usando máscaras. Isso nos deixou um pouco preocupados e, sempre que voltávamos de viagem, aguardávamos uns 15 dias até fazer a próxima - o que nos fez "perder" um pouco de tempo, porque poderíamos ter encaixado mais viagens nesse período”, aponta.

No início de julho, com as fronteiras da Europa recém abertas, o casal fez sua primeira viagem para fora da Alemanha e de avião. “O fato da Alemanha ter controlado o vírus de forma efetiva nos facilitou nesse sentido, porque todos os países recebiam moradores do país. Se estivéssemos em outros lugares, essa restrição teria levado mais tempo”, ressalta. 

O destino foi Malta, já com a expectativa de encontrar um lugar tranquilo - e foi o que aconteceu. “O país é super pequeno e tem como aproveitar ele muito bem em uma semana, explorar, literalmente, de ponta a ponta. E estava super tranquilo. Conseguimos nos hospedar em um hotel - que estava praticamente vazio - e aproveitar todas as praias de um jeito que dificilmente conseguiríamos pegar em uma temporada de verão normal na Europa”, relata Ana.

“Normal”, mas nem tanto

Ana conta que, apesar da tranquilidade em Malta, os processos que envolviam aeroportos, por exemplo, estavam mais rigorosos. “No caso da Alemanha, o aeroporto de Frankfurt estava praticamente vazio. Ver um aeroporto daquele tamanho, naquela situação, foi surreal. Quase um cenário de filme apocalíptico. O uso de máscaras e álcool gel era obrigatório, além de preenchimento de formulários nos voos (para caso tivesse alguma confirmação de Covid, nos informarem - e o mesmo acontecia nos restaurantes), e em algumas situações, a medição da temperatura”, relata. “Porém, não tinha distanciamento dentro do voo. Isso é um ponto que mesmo no ‘pico’ da pandemia na Europa e agora, que a situação está mais tranquila (apesar do aumento dos casos), não aconteceu em nenhum meio de transporte”, expõe. 

A última viagem do casal foi para Roma, na Itália no início de agosto. Por ser um dos países em que a situação da pandemia foi mais grave, a expectativa era um controle mais rigoroso e cidade vazia, porém, não foi o que aconteceu. “Talvez por estar no meio do verão e já ter ‘passado’ aquela sensação de perigo, mas foi muito preocupante perceber o descaso de algumas pessoas, sabendo da gravidade da doença, principalmente da forma como afetou a Itália. Em geral, bares e restaurantes, lotadíssimos (precisando fazer reservas, como uma temporada normal), e alguns locais tinham até garçons atendendo sem máscara, o que nos deixou bastante desconfortáveis”, relata Ana. 

Segundo a jornalista, os museus em geral, mesmo com o controle habitual, apresentavam longas filas na entrada. “A única mudança era a medição de temperatura e claro, o uso obrigatório de máscara”, declara.

Saldo positivo, apesar da insegurança

A experiência de “turistar” em meio à pandemia foi diferente, segundo Ana. “Deu para aproveitar mais, porém a sensação de insegurança e o medo da doença te acompanham em todos os lugares: ficamos sempre lembrando de não tocar no rosto, não tirar a máscara nem para as foto por ter tem gente junto, passar álcool em gel”, conta. “Mas não posso reclamar, pois estava numa situação extremamente privilegiada e teria sido completamente diferente se não estivesse morando na Europa”, finaliza. 

por Mariana Nunes

Mariana Nunes é jornalista. Ama café, praia, chocolate e futebol - não necessariamente nessa ordem. É torcedora fervorosa do Internacional e repórter do Bella Mais. @a_marinunes


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