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Clubes do livro: a leitura como uma experiência

Assinaturas contam com grupos de conversa para formar comunidades de leitores

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Um dos impactos da popularização da internet foi a facilidade de acesso a vários produtos: hoje, é possível comprar praticamente qualquer coisa – e de qualquer lugar – com um simples clique no celular. Mas, ser tão fácil tornou os consumidores mais exigentes, pois além do produto em si, eles começaram a buscar por experiências de consumo. 

E para atender a essa demanda surgiram os clubes de assinaturas, nos quais a pessoa recebe mensalmente o item que deseja (e que pode ser um vinho, um kit de produtos de beleza, brinquedos infantis, chocolates, entre outros) e outros itens que complementam a experiência, como livros e manuais, brindes, acessórios, adesivos e o que mais a imaginação dos empreendedores responsáveis criar.

Desde 2020, a partir do início da pandemia, diversos clubes de assinaturas foram criados, para atender às demandas das pessoas que puderam ficar em casa em isolamento. E um dos tipos que mais se destacou foram os clubes do livro: pequenas e grandes editoras, livrarias, entusiastas da leitura e empreendedores tiraram projetos do papel e começaram a experimentar com livros em caixas. 

Este movimento atual é bem semelhante ao feito em 2014 pelos fundadores da TAG Livros. Estimulados pelo movimento dos clubes de assinatura e inspirados no Círculo do Livro, sistema a assinatura de livros vendidos em catálogos que foi sucesso nos anos 1970 e 1980, eles lançaram a TAG – Experiências Literárias.

Gustavo Lembert, CEO da TAG, entende que um clube literário oferece diversas possibilidades. “As pessoas podem descobrir novos títulos, novos autores, discutir obras com outros leitores… Nós construímos uma comunidade extremamente ativa e engajada, seja no app exclusivo para associados ou nos encontros e eventos literários promovidos por nós e até pelos leitores”,

No caso da TAG, o suspense em relação aos títulos enviados mensalmente faz parte da experiência e incentiva o assinante a sair da sua zona de conforto literária. “Há a chance de ele ler obras que talvez não escolheria em uma livraria”, frisa. Para fortalecer o argumento e incentivar a leitura o leitor recebe também uma revista, que fala mais sobre o autor, a obra e outros temas transversais. “Além do hábito da leitura, essa imersão estimula a reconexão consigo mesmo por meio dos livros”, afirma Gustavo.

Outros projetos

Já o Intrínsecos, clube da editora Intrínseca, envia mensalmente um livro inédito no Brasil e que só chegarão às livrarias depois de 45 dias ou mais e em outro formato. Na caixa o assinante também recebe uma revista com textos, entrevistas e ilustrações para expandir o universo da obra; marcador de página e postal personalizados e um brinde relacionado à história.

Outro projeto é o Turista Literário, que propõe ao leitor uma viagem sem sair de casa pela leitura de obras que se passam em cidades ou países diferentes. A curadoria é da booktuber Mayra Sigwalt, que também é co-criadora do projeto. 

Além do livro surpresa, a malinha (que substitui a caixa) tem marcador de página, cartão de embarque da viagem, selo para o passaporte (que o leitor recebe no primeiro mês de assinatura), brindes sensoriais (para tato, olfato ou paladar) e dá acesso a conteúdos exclusivos online, playlist temática, leituras coletivas e grupos de debates.

Lançada em 2020 pela TAG, a Grow é um clube de assinaturas de livros de desenvolvimento pessoal criado a partir de uma necessidade apontada pela base de associados. 

Segundo o gerente de marketing Adriano Borner Junior, o assinante recebe mensalmente o livro, marca páginas e luva personalizada, um guia de leitura para se aprofundar nas temáticas, acesso à plataforma com materiais complementares como as pílulas Grow - vídeos que aprofundam e aplicam conceitos do livro - acesso ao grupo de discussão no Telegram e .

Experiência e exclusividade 

Ou seja, deu para perceber que o segredo do negócio é o conjunto de itens – e não apenas o livro. Como enfatiza o CEO da TAG, a curiosidade é um fator de retenção, “assim como as relações que as pessoas estabelecem, às vezes amizades mesmo, nas redes sociais em torno dos livros. 

No caso da TAG, a aposta na experiência vem desde seu lançamento, pois isso faz parte do propósito da empresa, que é construir uma experiência literária inesquecível e reunir todos aqueles que adoram o cheirinho de páginas impressas. 

“Todos os meses os associados recebem em casa uma experiência especial: um livro surpresa escolhido por uma curadoria primorosa e uma equipe de especialistas, a revista-guia e um mimo extra, também relacionado ao título do mês”, cita. Gustavo ressalta que todo o projeto gráfico de cada kit é autoral, incluindo a capa dura e luva personalizada do livro e o layout da revista, que tem ilustrações autorais com o que ele define como ‘a cara da TAG’.  Eles também têm brindes especiais pela renovação ou upgrade da assinatura, além de descontos na loja.

As experiências que complementam a leitura e transformam a abertura da caixa mensal em uma grande surpresa ajudam a associar a leitura a uma prática leve e prazerosa e “a desvincular da sensação ruim que algumas pessoas têm quando lembram das leituras obrigatórias da escola, por exemplo. A sobrevivência da TAG parte justamente da construção dessa experiência imersiva em torno da obra, que é o objeto central”, analisa Gustavo. 

Mas é tão simples competir com o entretenimento e o conhecimento disponíveis na internet e, especialmente, nas redes sociais? Uma forma de encarar esse desafio é se apropriar das ferramentas, especialmente porque, como avalia Gustavo, as redes sociais competem com os livros essencialmente pelo tempo que tomam das pessoas. 

“Nós criamos um app exclusivo para os associados discutirem sobre os livros da TAG e o Cabeceira, aplicativo gratuito com mais de um milhão de usuários que ajuda a organizar as leituras e a construir uma rotina literária”, relata.

Da mesma forma, o time da Grow não vê o conteúdo sobre desenvolvimento pessoal disponível na internet como um concorrente pela atenção das pessoas. “Antes do curso ser um curso, foi um livro; antes da palestra ser palestra, foi um livro e, muitas vezes, antes de um filme ser filme, também foi um livro. E como o livro é o nosso pilar, trabalhamos para ampliar a ‘caixinha de ferramentas’ das pessoas para enfrentarem o mundo e explorarem o próprio potencial”, detalha Adriano. 

A ideia da Grow é usar o poder transformador dos livros para ajudar as pessoas a liberarem melhores versões delas mesmas.  Uma excelente ideia, que pode ser incentivada por todas as leituras. 


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