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Estilo de Vida

Dia da Mulher: quais desafios elas ainda enfrentam?

Aproveitamos a data dedicada às mulheres para relembrar algumas de suas vitórias e, principalmente, os obstáculos a serem superados por elas

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Ser mulher é um desafio? Provavelmente você, leitora, já deve ter passado por alguma situação que só viveu pelo fato de “ser mulher”. Neste 8 de março, sabemos que temos motivos para celebrar. Porém, o Bella Mais hoje propõe uma reflexão sobre quais os principais desafios enfrentados por nós. 

A coordenadora do Grupo de Pesquisa Violência, Vulnerabilidade e Intervenções Clínicas e professora da pós-graduação em Psicologia da PUCRS, Luísa Habigzang, lembra que o contexto pós-pandêmico aprofundou desigualdades sociais e a vulnerabilização de meninas e mulheres à violência, principalmente no contexto doméstico e familiar. Segundo pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), uma em cada quatro mulheres foi vítima de algum tipo de violência na pandemia no Brasil.

Além de políticas públicas efetivas para enfrentamento à violência, de acordo com Luísa, é necessário considerar os problemas econômicos agravados pela pandemia, principalmente pelas mulheres que tiveram que deixar seus postos de trabalho para cuidar dos filhos, que perderam seus parceiros ou outros parentes para Covid-19 e com isso, vivem situação de rede de suporte precária, pela situação de desemprego e não menos importante, pela exaustão das mulheres em jornadas triplas de trabalho com redes de apoio reduzidas.

Desafios x avanços

Por outro lado, além dos avanços em termos de legislações, como a consolidação da Lei Maria da Penha, Lei do Feminicídio, mudanças na legislação sobre crimes sexuais contra meninas e mulheres, leis sobre assédio em espaços públicos, entre outras, também é possível observar o fortalecimento de movimentos sociais liderados por mulheres para promoção e garantia de direitos.

“Observamos, por meio de estudos com adolescentes, que meninas discordam de papéis estereotipados de gênero e crenças sexistas. Também temos um aumento de mulheres na política, na ciência e em outros espaços que essa representatividade é fundamental para uma sociedade mais igualitária”, comenta a professora.  

E para complementar a visão da pesquisadora, convidamos três mulheres a falarem sobre quais desafios elas acreditam que as mulheres ainda enfrentam atualmente. Cada uma delas também deixou um recado para outras para as futuras gerações, com o objetivo de incentivá-las a superar esses obstáculos. Confira. 

Dificuldades estão presentes em todas as áreas

Filha, mãe, esposa, profissional…são tantos os papéis a serem ocupados pelas mulheres. E cada uma dessas “funções” traz consigo não só diversas responsabilidades, mas principalmente desafios. O maior deles, na visão da advogada Kerlen Costa, é a própria sobrevivência. 

“Sobreviver em um mundo onde os números da violência contra a mulher equivalem a uma guerra. E falo aqui de todos os tipos de violência e não apenas da física. A violência psicológica, patrimonial, moral, sexual, a violência no mercado de trabalho, desde o seu ingresso até ser obrigada, pelas circunstâncias, a optar entre ser profissional e ser mãe. A violência que dita o que vestir e como se portar e aquela que reprime sua juventude e abomina seu envelhecer”, destaca.

A psicóloga Patrícia Mello pontua outros desafios em áreas específicas da vida da mulher. No ambiente doméstico, a figura feminina ainda é vista como a principal encarregada das atividades, mesmo em famílias em que os parceiros colaboram um pouco mais com as tarefas. “São elas que de fato ‘pensam’ no que precisa ser feito, o que também ocupa um espaço - mental - no dia a dia”, explica a psicóloga. 

Ainda em relação ao núcleo familiar, existe a pressão por ser mãe. E quando a mulher finalmente vira mãe, as pressões permanecem, pois é preciso ser uma mãe perfeita, que prioriza o bebê antes de tudo, mas que não pode deixar de ser uma “boa esposa”. Fora de casa, as dificuldades continuam. Apesar de ter uma vida social secundária, as mulheres precisam estar sempre disponíveis e conciliar convites e eventos, com o trabalho e os filhos. 

“Realmente um desafio, considerando que o dia só tem 24 horas e um ser humano necessita de 8h delas para manter suas funções vitais saudáveis”, salienta a psicóloga Patrícia. Com tantos compromissos, ter um tempo para si mesma e para praticar o autocuidado também passa a ser desafiador. 

Para a influenciadora digital Aline Barbosa, todos esses obstáculos têm origem numa questão social e na forma como a própria sociedade está estruturada. “Somos julgadas o tempo inteiro por uma sociedade machista e patriarcal. Eu percebo que o maior desafio que as mulheres ainda enfrentam em 2022 é o machismo, que está muito presente na sociedade e tem muitas consequências no nosso dia a dia”, complementa Aline. “É como se o mundo avançasse, mas o acesso das mulheres a essa inovação toda ficasse cada vez mais difícil”, afirma a advogada Kerlen.

Recados para as próximas gerações

Mesmo diante de tantos desafios, se olharmos para trás, veremos que já avançamos muito. A esperança é que possamos evoluir cada vez mais na busca por um tratamento mais igualitário. Para incentivar outras mulheres e as próximas gerações nessa busca, nossas convidadas deixaram também alguns conselhos e recados para aquelas que terão um importante papel na promoção de mudanças e avanços.

Para Kerlen Costa, em primeiro lugar as mulheres precisarão de amor próprio e autoestima. “E é importante frisar que a autoestima não tem relação alguma com aparência ou estética. Autoestima é se ver como digna de estar em determinada posição, porque batalhou para isso. É ter consciência de que merece mais do que aquilo que a vida lhe impôs. É amar-se a ponto de notar qualquer sinal de violência e ir embora antes que se concretize. Ser corajosa para correr os riscos válidos sem precisar perder sua essência e escolher de acordo com o que lhe faz bem”,

Além disso, ela incentiva também que as mulheres busquem sua liberdade e batalhem por sua independência financeira e salienta a importância de enxergarmos as outras mulheres como suporte e referência, não como rivais. “Vamos usar juntas a nossa voz para cobrar que o mundo mude. Passem a proteger umas às outras” complementa.

A busca do empoderamento também está presente no recado de Aline Barbosa. “Ser mulher não é fácil e está longe de ser, mas não deixe ninguém ditar o que você deve ou não fazer, nem onde você deve estar. Estude, se empodere e seja dona de si. Nós mulheres podemos ser e estar onde nós quisermos!”, reforça.

E como a mudança começa hoje, no presente, a Patrícia sugere ações bem práticas para ajudar outras mulheres nessa busca. “Faça uma lista de valores pessoais e ideias que você verdadeiramente acredita sobre como exercer cada um dos seus papéis no mundo”, indica. Além disso, o questionamento é algo muito importante, por isso a psicóloga frisa que é fundamental perguntar-se constantemente se é essa a vida que você - e somente você, mulher - quer. “A gente abre espaço para o outro, após abrir espaço para nós mesmas”, finaliza. 


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