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Uso excessivo de filtros nas redes sociais pode diminuir a autoestima

Para 98% dos brasileiros, as redes sociais impactam na autoestima de uma pessoa, sendo que 24% acreditam ser de forma negativa, segundo pesquisa

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Graças aos avanços tecnológicos, convivemos em um mundo onde existe uma infinidade de maneiras de alterar e editar nossas próprias imagens. Seja adicionando um filtro predefinido em uma foto ou suavizando nossa pele com um efeito, há uma variedade de opções disponíveis para aprimorar nossa aparência online. 

Porém já se discute que o excesso de uso dos filtros pode alterar a percepção da nossa autoimagem e causar problemas de saúde e autoestima. “Os filtros de imagem estão cada vez mais presentes nas vidas das pessoas e, infelizmente, vem causando efeitos indesejáveis sobre como elas se veem, como querem parecer e como se sentem”, comenta Camila Cazerta, diretora médica associada da Allergan Aesthetics no Brasil - empresa da área de estética médica.

Pesquisa trouxe dados preocupantes sobre o tema

Apesar da seriedade da questão, ainda existem poucos dados que comprovam a mudança de comportamento pelo uso exagerado dos filtros e, por isso, a Allergan investiu na elaboração de uma pesquisa, realizada pela Offerwise e Let’s Mind, para entender a real opinião das pessoas sobre os filtros, seus usos e efeitos. 

Foram ouvidas ao todo 650 pessoas, em oito capitais brasileiras, sendo 24% homens e 76% mulheres, entre 18 e 50 anos. Entre os principais dados apontados, alguns chamaram bastante a atenção:

- 40% do total de entrevistados usa filtros de imagem nas próprias fotos com frequência, para aparecer melhor nas postagens.

- 98% afirma que as redes sociais impactam na autoestima de uma pessoa. Para 24%, de forma negativa.

- 94% concorda total ou parcialmente que o uso exagerado dos filtros nas redes sociais pode fazer com que uma pessoa deixe de gostar de sua imagem “real” e passe a querer aquela imagem “virtual”.

- 98% acredita que as pessoas são mais bonitas nas redes sociais e 93% concorda, parcial ou totalmente, que o nível de cobrança estética tornou-se irreal devido ao uso exagerado de filtros de imagem.

- E por fim, 94% dos entrevistados concordam, parcial ou totalmente, que o uso exagerado de filtros pode levar a uma diminuição da autoestima e 67% entende que as mulheres estão mais expostas a esses problemas.

Para compreender melhor os efeitos que o uso excessivo de filtros pode trazer para a autoestima e a saúde mental da população, principalmente das mulheres, o Bella Mais conversou com uma psicóloga.

As redes sociais criaram um padrão irreal de beleza

Conforme explica Denise Quaresma da Silva, psicóloga e pós-doutora em Estudos de Gênero, a autoestima não é algo estático. Ela pode se modificar conforme as diversas experiências tidas ao longo da vida e ser uma representação positiva (de autoaprovação) ou negativa (de depreciação). 

O que acontece atualmente, é que as redes sociais estão repletas de referências e modelos a serem seguidos. Todos os dias, pessoas comuns e, principalmente, os digitais influencers, exibem seus hábitos e comportamentos, que muitas vezes, supervalorizam o corpo perfeito.

“Os conteúdos disponibilizados, embora possam não corresponder com a realidade, pois os corpos expostos são trabalhados com filtros, atuam como uma fonte de comparação e autoavaliação para os/as seguidores/as, que ao se perceberem ‘falhos’ em relação ao que está sendo visto, acabam com baixos níveis de autoestima e sentimento de insegurança em relação a si mesmos”, afirma Denise.

O caminho para tentar reverter essa insatisfação e tentar alcançar um corpo irreal, “fabricado pelos filtros” - nas palavras da psicóloga -, é a busca por procedimentos que acabam padronizando os corpos. A especialista cita, por exemplo, dados da International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS).

Eles apontam que o Brasil é um dos países que mais realizam procedimentos estéticos cirúrgicos no mundo. E as mulheres representam quase 90% das pessoas que recorrem a cirurgias plásticas e abdominoplastias.

Impactos negativos causados pelos filtros

Para além da questão estética, Denise, que também é professora do Mestrado em Saúde e Desenvolvimento Humano e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade La Salle, alerta que essa busca pelo corpo ideal - muito impulsionado pelo uso dos filtros - pode afetar não só a autoestima, mas a saúde mental como um todo.

“O enaltecimento do corpo perfeito pode ser um grande indicador de disfunções psicológicas. Consequentemente, a saúde mental destas pessoas fica afetada, uma vez que elas vivem o vazio da irrealização. Pois, por mais que se esforcem, não alcançarão o que os filtros propõem como modelo de beleza”, comenta.

A especialista esclarece que algumas pessoas podem chegar a desenvolver inclusive quadros depressivos e de Transtorno Dismórfico Corporal, que se caracteriza pela percepção distorcida da própria imagem e pode causar enormes estragos na vida psíquica. “Entre as pessoas que sofrem de dismorfia corporal, 90% sofrem de depressão; 48% abusam de bebidas alcoólicas e 32% sofrem de anorexia ou bulimia”, informa a psicóloga.

E, apesar de homens e mulheres sofrerem com esse transtorno, o público feminino é que está mais suscetível à pressão estética para ter o corpo perfeito, o que, segundo Denise, se deve ao machismo estrutural e a visão de que as mulheres precisam agradar seus companheiros.

Devo parar de usar filtros, então?

Não, você não precisa ser tão radical assim e banir os filtros da sua vida, mas é necessário fazer um uso um pouco mais consciente desses recursos e refletir sobre a importância dos seus próprios traços. “A busca pela perfeição é um engodo que padroniza os corpos e afasta a pessoa do que lhe confere sua singularidade: a sua diferença. Nosso corpo merece ser cuidado, respeitado e amado com suas marcas e diferenças”, enfatiza a psicóloga e professora.

Para Cecília Gurgel, gerente geral da Allergan Aesthetics, empresa que realizou a pesquisa citada no início da matéria, o mais importante não é condenar o uso dos filtros, mas alertar sobre exageros e possíveis excessos; “É natural as pessoas quererem melhorar algo em sua aparência, mas é importante que isso aconteça de forma saudável, respeitando a natureza das pessoas”, ressalta.

por Vitória Nunes Soares

Como boa repórter, está sempre pronta para aprender sobre todas as coisas. Tem estilo low profile, ou seja, é meio sumida das redes sociais pois prefere viver.


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