capa

O que muda no convívio social pós isolamento?

A volta para o tão esperado convívio social pode não ser tão fácil

publicidade

O isolamento decorrente da pandemia colaborou para problemas já existentes na saúde mental, como ansiedade, depressão e estresse. Após quase dois anos nesse contexto, em que foi necessário estar afastado da família, colegas de trabalho e amigos, a tão esperada volta ao convívio social pode não ser tão simples para algumas pessoas.

Conforme explica o psicólogo Hector Nievas, o contexto da pandemia e o isolamento por ela provocado, nos remetem principalmente à questão do risco de contrair a doença e de todos os cuidados e restrições que o momento exige e suas consequências. “Pensar em voltar ao convívio social pode ocasionar aumento de insegurança, medo e até comportamentos obsessivos, como por exemplo, relacionados a exageros com limpeza e proteção contra o vírus e risco de contaminação”, aponta.

Nievas destaca que, nesse cenário, é preciso diferenciar o quadro de fobia social, que é uma doença que se caracteriza por um medo irracional e exagerado do indivíduo de se expor a outras pessoas, além do receio de ser julgado, avaliado, criticado ou até ridicularizado. “Neste caso, a duração e os prejuízos reais que isto causa no cotidiano das pessoas, determinam o diagnóstico. A fobia social não decorre do isolamento em si, mas pode ser agravado por ele, assim como os demais quadros de saúde mental”, explica.

Reaprendendo a socializar

Com certeza, em algum momento durante este período, você já deve ter se questionado: vamos conseguir voltar à realidade anterior? Outra reflexão é que, por conta de tanto tempo de isolamento, podemos ter “desaprendido” a viver socialmente?

De acordo com o psicólogo, essas questões devem ser analisadas de forma individual. Conforme as características de cada um, estes novos padrões impostos pelo distanciamento social, podem reforçar tendências pré-existentes. “Por exemplo, para pessoas mais introvertidas e com hábitos e tendências a menor convívio social, a pandemia veio a contribuir com o reforço deste tipo de comportamento, tornando ainda mais difícil delas conseguirem mudar esta tendência”, aponta Nievas.

Por outro lado, aqueles que são naturalmente mais extrovertidos e com necessidade maior de convívio social, em função de ter que restringir sua interação, acabam por aumentar o padrão de ansiedade, inquietação, impaciência e frustração. 

Como será a “nova convivência”?

Na avaliação de Nievas, a volta da convivência progressiva é proporcional ao grau de incertezas, receios, medos e preocupações que as pessoas estabelecem neste momento “pré-retorno”. “Neste ponto é importante lembrar que conforme o grau de segurança, a evolução do tratamento à doença, assim como pelo controle de sua transmissão, a tendência a voltar ao comportamento natural e vivenciado até o surgimento da pandemia, será maior e mais próxima do que era”, aponta.

O profissional destaca que o ser humano, por natureza, busca se adaptar às condições que lhe são impostas na vida. Quanto maior for sua capacidade de adaptação e resiliência, melhor será sua resposta aos eventos e mudanças que lhe forem exigidas. Voltar ao convívio será uma tendência natural e esperada para a maioria das pessoas e mais difícil para a parcela que já tinha uma tendência a viver mais restrita.

“Se as condições de segurança em relação aos riscos à saúde forem eficientes e consistentes, a tendência será querer retornar ao que se tinha, mas logicamente não como sempre foi, pois a experiência nesta pandemia criou um espaço mental de preocupação com ocorrências futuras desta mesma natureza”, finaliza o psicólogo

por Mariana Nunes

Mariana Nunes é jornalista. Ama café, praia, chocolate e futebol - não necessariamente nessa ordem. É torcedora fervorosa do Internacional e repórter do Bella Mais. @a_marinunes


compartilhe