capa

Idosos e isolamento social: situação requer cuidados

No Dia do Idoso, conversamos com um especialista sobre os impactos do isolamento social prolongado na saúde dos mais velhos

publicidade

Desde março, as datas comemorativas ganharam um novo significado e estão repletas de adaptações. Já passamos por Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia dos Namorados… E chegamos neste 1º de outubro, o Dia do Idoso. O isolamento social não tem sido um período fácil para boa parte da população, mas para este público, considerado de alto risco, tem causado ainda mais efeitos.

Segundo o médico geriatra Newton Luiz Terra, pesquisador do Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUCRS, pesquisas recentes indicam que idosos submetidos ao isolamento social desenvolvem sintomas psicológicos variados, principalmente relacionados ao estresse, ansiedade, humor deprimido e depressão decorrentes da privação social e do confinamento. “Podemos dividir em quatro tipos de reações: alguns idosos conseguem lidar bem com a situação e encontrar forças em sua inabalável estabilidade psíquica; outros pertencem à categoria dos ‘saudáveis preocupados’, que necessitam de primeiros socorros psicológicos; também há os que jamais sofreram desses distúrbios, mas agora sentem-se sugados para dentro deles; e o quarto grupo que já sofriam de sintomas depressivos e têm a sua condição exacerbada”, explica.

O médico ressalta que, para os idosos, o isolamento social desencadeia mais distúrbios mentais do que o medo do vírus em si. Nesse sentido, as famílias têm de estar atentas a certos sintomas, como ansiedade, depressão, ideação suicida, problemas físicos sérios. Nesses casos, o indicado é procurar ajuda especializada, em canais como o Disque-saúde - 136 ou Centro de valorização da vida (CVV) - 188. “Além disso, é necessário realizar consultas médicas ou procurar pronto atendimento. Idosos portadores de doenças crônicas como cardiovascular, câncer, diabete, asma, bronquite crônica e enfisema, por exemplo, devem procurar recurso médico ao sinal de qualquer queixa relacionada às suas doenças”, orienta Terra.

Orientação para o isolamento não mudou

Os idosos são considerados um dos principais grupos de risco para a Covid-19. Ainda que diversos setores estejam flexibilizando o isolamento, segundo o geriatra, a orientação para este grupo continua a mesma: sem flexibilização. “O envelhecimento associado às doenças geriátricas é um grande fator de risco. Não há vacina e tampouco tratamento para a Covid-19, por isso, o idoso não pode facilitar. Não sabemos quando a pandemia irá passar, é um tempo de incertezas. Como já comentado, gera ansiedade, depressão, tristeza e solidão, mas isolado ele não corre riscos”, ressalta. 

De acordo com Terra, não é momento de os idosos saírem para a rua se não for extremamente necessário. E caso saiam, para compras ou consultas médicas, por exemplo, devem usar máscara, realizar a higienização com álcool gel antes e depois das atividades essenciais. “Também devem evitar ir a hospitais, postos de saúde, pronto atendimentos e/ou consultórios a não ser com sintomas agudos, como falta de ar, tosse, expectoração, febre, dores musculares, dor de cabeça, dor de garganta, diarreia, dor no peito, entre outros. Se estiver se sentindo bem não deve ir. Deve adiar as consultas, mas não deve abandonar os tratamentos para as suas doenças crônicas”, reforça.

Aumento da violência também preocupa

De acordo com a última atualização do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), foram registrados 1192 casos de violência contra a pessoa idosa junto aos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) gaúcho neste ano. As violências registradas com maior frequência no Estado foram física, autoprovocada, abandono/negligência e psicológica. 

Conforme explica Terra, está sendo observado um aumento da violência intrafamiliar, que é toda ação ou omissão que prejudica o bem estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento do idoso. É aquela que acontece dentro da família, em casa ou fora dela, ou seja, nas relações entre os membros da comunidade familiar, formada por vínculos de parentesco natural. “O idoso, mais vulnerável, dependente, isolado e emocionalmente abalado,  sofre mais violência econômica, psicológica e até mesmo física.  Os maiores agressores são filhos, netos, genros e noras”, afirma o médico. 

Este tipo de violência não é novidade, mas aumentou em função das implicações da pandemia. “É realmente uma tristeza observar a violência intrafamiliar e maus tratos contra o idoso. Idosos em situação de violência devem procurar órgãos e instituições como a delegacia do idoso, Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa, Ministério Público, entre outros”, ressalta Terra.

Famílias podem tornar o cotidiano melhor

Apesar de todas as adversidades, com esforço conjunto e vontade de fazer acontecer, há maneiras de as famílias tornarem o isolamento social dos vovôs e vovós mais agradável. Confira as dicas trazidas pelo geriatra:

- Realizar práticas de meditação (mindfulness ou atenção plena);

- Manter uma boa alimentação; 

- Praticar exercícios físicos; 

- Organizar tarefas; 

- Fazer contato por telefone ou internet com pessoas que possam distraí-los; 

- Cultivar um hobby; 

- Ter atividades de lazer (leituras de jornais, livros ou revistas; escutar música, cuidar das plantas; jardinagem; trabalho com agulhas; culinária; assistir programas de TV;  brincar com animais de estimação; dançar; cantar…) 

- Cultivar momentos de espiritualidade; 

- Fazer uma lista de planos agradáveis; 

- Selecionar informações e não assistir somente programas com conteúdo sobre a Covid-19; 

- Organizar a casa

- Fortalecer os laços familiares virtualmente ou presencialmente; 

- Realizar plano semanal de atividades; 

- Organizar o álbum de fotos da família; 

- Organizar a vida financeira; 

- Escrever receitas, montar quebra-cabeças, preencher palavras cruzadas;

- Traçar metas e pensar em objetivos pós-pandemia; 

- Organizar armários, roupeiros, separar objetos para doação;

- Organizar os medicamentos; 

- Ler livros para netos de forma online;

- Realizar visitas virtuais a museus.

 

 

por Mariana Nunes

Mariana Nunes é jornalista. Ama café, praia, chocolate e futebol - não necessariamente nessa ordem. É torcedora fervorosa do Internacional e repórter do Bella Mais. @a_marinunes


compartilhe