Superar limites afeta nossa saúde mental?

“Supere seus limites, sempre podemos ir além”. Você já deve ter lido algo parecido com essa frase em alguma situação. Mas você já parou para pensar nas consequências dessa frequente “superação” para a sua saúde mental? Especialistas questionam a linha tênue entre alta produtividade e limites. 

“A sociedade nos faz acreditar que se eu ultrapasso meus limites sou forte e muito melhor, assim obtenho sucesso. Mas não faz pensar na minha saúde física e mental, que ficam altamente prejudicadas caso eu não dê limites e perceba que todos os possuem”. Este é o alerta trazido pela psicóloga Livia Marques. Segundo a profissional, quando ultrapassamos aquilo que é limítrofe, infringimos a lei do bem estar da nossa saúde física e mental, fazendo com que fiquemos adoecidos.

De acordo com ela, ao pensar em riscos à saúde mental trazidos por essa tentativa de ultrapassagem dos limites, é possível falar dos altos níveis de estresse, irritabilidade, angústia, mudanças de apetite e humor. “Além disso, também percebemos o pouco contato com o que pode também trazer satisfação e leveza de realizar algo que não esteja atrelada ao nosso autocuidado”, acrescenta Livia.

Quanto mais produzir, melhor eu sou?

Quando falamos nos limites de cada pessoa, o primeiro passo é reconhecê-los. Para Livia, muitos de nós só reconhecemos nossos limites na dor ou no amor. “Quando você percebe que está adoecido, com dores corporais, por exemplo. Na irritabilidade, nas alterações de humor, na falta de estar convivendo com sua família e amigos e no sempre estar com a sensação de exaustão física e mental”, explica a psicóloga. Estes são alguns sinais de que você precisa rever até onde é saudável ir ou não. “Sabemos que a sociedade atual trabalha com resultados e produtividade. Porém, me questiono se é real que quanto mais você produz, melhor você é”, alerta a profissional. 

E como saber se estou ultrapassando meus limites? É preciso avaliar o quanto você vem perdendo qualidade de vida. “Produzir e se sentir feliz com seus feitos é importante, traz emoções que precisam ser validadas. Mas a partir do momento que perde a funcionalidade e traz prejuízos no seu dia a dia, é necessário ter atenção”, declara a psicóloga.

Outro passo importante neste processo é comunicar e estabelecer seus limites nas suas relações, sejam elas familiares, profissionais ou pessoais. “Costumo dizer que é muito importante cuidar da nossa morada, o corpo. Em que podemos salientar a saúde física e emocional. Pensar nisso é pensar em como tenho me conectado comigo, e se você tem realmente feito isso. Muitas das vezes agimos no modo automático”, afirma Livia.   

A psicóloga traz algumas dicas para ajudar no autoconhecimento e dessa forma, reconhecer e estabelecer seus limites. Confira:

- Como você tem planejado sua semana? Crie uma rotina e respeitar os momentos de trabalho, estudo, cuidado com você e com os outros;

- Analise suas prioridades e pense como pode organizá-las;

- O que te traz prazer e você não faz mais? Pense em uma dessas e coloque em prática;

- Pratique o autocuidado, que não é apenas fazer o skincare. Tenha um tempo para ler, brincar com seu filho, por exemplo, ver uma série ou interagir com pessoas que você ama;

- Redescubra prazer em pequenas coisas do seu dia a dia;

- Entenda que a grama dos outros sempre será mais verde, mas isso é o seu ponto de vista. Cada um terá que regar sua plantação e cuidar de sua morada dentro daquilo que é necessário e possível para nós. Sem violação de si próprio.