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É possível ser feliz durante uma pandemia?

Apesar de tudo o que está acontecendo, temos que nos esforçar para viver e aproveitar os momentos felizes

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A pandemia de coronavírus trouxe uma série de reflexões. Absolutamente todas as pessoas sofreram algum tipo de impacto na suas vidas - seja na parte financeira, profissional, mas principalmente no que diz respeitos às emoções. Aqui no Brasil o número de mortes já ultrapassa os 96 mil e as incertezas sobre a volta do nosso “normal” parecem só aumentar. Neste cenário completamente desfavorável, é possível ser feliz? Que lugar a felicidade ocupa em meio às tragédias, como a que estamos vivendo?

Para a psicóloga Fabiola Salustiano, ela é justamente o “respiro” em meio ao caos. “É aquele momento bom que dá gás para passar pelos ruins que estão acontecendo. Esse é mais um fator que colabora para que não tenhamos o objetivo de ‘ficar bem só quando tudo passar. A vida é agora e ela está acontecendo nesse momento, por isso temos que aproveitar e buscar momentos de felicidade mesmo que nosso bem estar global esteja ameaçado nesse momento de pandemia”, explica.

De acordo com a profissional, felicidade é um momento - podemos estar felizes ainda que estejamos passando por algo ruim. “Isso é o que está ocorrendo com quem entende que nosso objetivo maior precisa ser a busca pelo bem estar e que vivermos todos os momentos bons é imprescindível. Na pandemia não é diferente, só essa ‘cisão’ entre estar feliz e ter bem estar pode promover alguma qualidade de vida em um momento tão único como esse”, relata. 

Outro fator importante é enxergar o “copo meio cheio”. A psicóloga traz dois exemplos que mostram como a forma de ver as situações faz diferença:

Exemplo 1: “Estou escrevendo artigos ótimos e minha chefe de redação me fez muitos elogios mas de que adianta se tudo está tão ruim e nem podemos nos ver e comemorar?!”

Exemplo 2: “Estou escrevendo artigos ótimos e minha chefe de redação me fez muitos elogios, que bom pode produzir conteúdo bom mesmo em meio a tudo isso que está acontecendo, quando isso passar vamos comemorar com mais força ainda!”

A diferença das duas situações é que na primeira não foi considerado o momento feliz, pois focou somente no bem estar global, já na segunda, o momento feliz foi aproveitado apesar do mal estar global da pandemia. “Assim é o jogo da vida na saúde mental: recarregar a bateria quando o bem estar global não vai muito bem e se ater às mínimas coisas que podem fazer com que se lembre que vale não só estar vivo, mas viver e existir”, afirma Fabiola. 

Ser feliz sem culpa

Nós seres humanos somos dotados de uma capacidade única: a empatia. É a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro como se estivessemos passando pelo mesmo que ele naquele momento. Por isso, muitas vezes nos questionamos e até nos sentimos culpados por tentar viver bons momentos mesmo em meio às situações adversas. Entretanto, Fabiola ressalta que é necessário que entendamos que somos seres individuais. Temos nossas angústias, vitórias e tudo bem sermos diferentes dos outros. 

Às vezes essa empatia passa do limite e a culpa em estar se sentindo melhor que o outro, mesmo estando no mesmo momento, bate forte. Porém, esse pensamento precisa ser combatido. “Uma maneira boa de fazer isso é verificar se você está fazendo algo ‘errado’ para estar se sentindo tão mal, assim é possível avaliar essa culpa que não tem fundamento. Somos seres sociais, mas temos que preservar nossa individualidade, quando estou bem comigo fico melhor para os que estão a minha volta”, destaca a psicóloga. 

Diante do atual cenário, conseguir promover momentos de felicidade, mesmo em meio às novas realidades, pode ser crucial para para que esse momento não seja lembrado como o “fim do mundo” e sim como “o novo começo”. “Não vamos simplesmente deixar a pandemia para trás, ela nos mudou para sempre: modificou nossas prioridades, nos mostrou o que de fato elas são. Modificou nossos meios de comunicação e nos modificou. Se soubermos usar tudo isso como ‘trajeto’ e não como ‘pedra’, poderemos evoluir como indivíduos”, reforça Fabiola. 

E parte dessa evolução, segundo a profissional, é ser grato não só pelo que tínhamos antes da pandemia, pelo que aprendemos e descobrimos que podemos fazer por conta dela. “A vida é agora, ela está acontecendo nesse momento, ela não espera nada passar. Pois nada passa, somos o somatório do que vivemos não um computador em que apertamos o ‘delete’ e seguimos. Portanto, vá viver e ser feliz!”, finaliza. 

 

por Mariana Nunes

Mariana Nunes é jornalista. Ama café, praia, chocolate e futebol - não necessariamente nessa ordem. É torcedora fervorosa do Internacional e repórter do Bella Mais. @a_marinunes


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