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Número de meninas fumantes cresce e alerta para popularização dos cigarros eletrônicos

Especialistas alertam sobre os perigos do uso de cigarros eletrônicos, que não são legalizados no país e representam um grande risco à saúde pública

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Dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), realizada pelo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Ministério da Educação, mostraram que houve um aumento no número de meninas fumantes entre 13 e 17 anos. A proporção cresceu de 6%, em 2015, para 6,6% em 2019.

Um outro levantamento, mais recente, também trouxe dados preocupantes em relação ao tabagismo. Segundo o relatório Covitel, divulgado neste ano, um a cada cinco jovens de 18 a 24 anos usa cigarros eletrônicos no Brasil. O famoso "vape", como é conhecido, tem se popularizado entre jovens e adolescentes e é tão prejudicial para a saúde quanto os cigarros comuns.

O que são os “vapes”

Os cigarros eletrônicos entraram no mercado americano em 2007 e são conhecidos por vários nomes diferentes, entre eles o vape, e-cigs e pendrive. Estes dispositivos são alimentados por bateria de lítio e contém um refil, que armazena um líquido composto por nicotina, solventes, água e várias outras substâncias, como flavorizantes. Esta bateria, ao aquecer o líquido dentro do dispositivo, gera aerossóis que, além da nicotina, contém outras substâncias que podem ser cancerígenas.  

De acordo com o pneumologista e professor da IDOMED, Daniel Messias Martins Alves Neiva, o objetivo principal do vape é gerar vaporização de nicotina, uma substância que age sobre o sistema nervoso central gerando dependência. Além da dependência química, a questão comportamental também é um agravante. 

"Os cigarros eletrônicos não exalam odores ruins e, por isso, são mais aceitos socialmente e utilizados de maneira descontrolada por adolescentes e adultos. Várias entidades médicas já caracterizam o uso como uma epidemia de saúde pública, devido ao seu abuso, aos efeitos ainda não totalmente elucidados e à pouca (ou nenhuma) regulação da sua comercialização", alerta.  

Os perigos do uso desses dispositivos

A produção, venda, importação e propaganda dos cigarros eletrônicos são proibidas no Brasil, mas a indústria vem utilizando a internet e as redes sociais para vender ilegalmente estes produtos no país. Entre os perigos que podem causar, um dos principais problemas constatados é a Lesão Pulmonar Associada a Produto de Vaping ou Cigarro Eletrônico, conhecida como Evali (E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury), além de aumentar os riscos para complicações relacionadas à Covid-19.  

Segundo o especialista, os efeitos a longo prazo não são ainda todos conhecidos. Os quadros agudos são representados por doenças agudas e crônicas como broncoespasmos, rinite alérgica e irritação na garganta. O cigarro eletrônico também pode ser responsável por câncer, problemas cardiovasculares e piora na imunidade.  

Dependência  é uma das consequências do uso

Assim como acontece com o cigarro comum, o uso do vape também tem relação direta com aspectos relacionados à dependência. Isso acontece devido à presença da nicotina, substância comum nos dois tipos de cigarros e que, comprovadamente, atua sob importantes áreas do cérebro, produzindo sensação de bem-estar e prazer.  

De acordo com Igor Soares, psicólogo e professor do curso de psicologia da Estácio, a dependência envolve aspectos comportamentais e psicológicos. "No primeiro temos uma relação direta com fatores sociais, como a atual moda do vape entre os mais jovens, o que faz com o consumo seja associado a status de pertencimento. Já o segundo diz respeito ao efeito da nicotina no sistema nervoso central, que é de intensa, porém momentânea, sensação de prazer", explica.  

O psicólogo destaca que o efeito de bem-estar sentido pelo fumante dura pouco tempo, o que faz com que ele logo tenha vontade de senti-la novamente. "Assim, a busca por tal sensação leva ao aumento no consumo de mais cigarros, fazendo com que seja preciso doses cada vez mais fortes para conseguir a mesma sensação de prazer", conclui Igor Soares.  

Especialistas salientam ainda que a nicotina, apesar de não ser uma substância cancerígena, pode contribuir para processos inflamatórios no organismo e acelerar o envelhecimento fisiológico do sistema. Além disso, está associada a doenças inflamatórias e metabólicas como artrite, diabetes mellitus, aterosclerose, doenças vasculares e câncer.


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