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Como o transtorno de bipolaridade afeta as mulheres

Mulheres com o transtorno têm mais chances de desenvolver depressão pós-parto

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De acordo com informações da Organização Mundial de Saúde (OMS), o transtorno bipolar atinge cerca de 140 milhões de pessoas em todo o mundo e está entre as 10 principais de incapacidade em adultos jovens. Outro dado que chama a atenção é que as taxas de suicídio em pacientes com transtorno bipolar são de 7,8% em homens e de 4,9% em mulheres. 

Impactos sobre as mulheres

Apesar da bipolaridade ser comum tanto em pessoas do sexo masculino quanto do feminino, uma pesquisa publicada no Journal of Clinical Psychiatry mostrou que cerca de três vezes mais mulheres do que homens passam por um ciclo rápido do transtorno. Além disso, o estudo também apontou que o público feminino pode ter mais episódios depressivos e episódios mistos.

Segundo explica o médico e professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Ives Cavalcante Passos, algumas amostras clínicas sugerem que o transtorno bipolar tipo 2 é mais comum em mulheres. Ele alerta ainda para o fato de que elas também apresentam mais chances de desenvolverem depressão pós-parto.

“As mulheres têm mais chance de desenvolverem episódios tanto de depressão como de mania durante o período da gravidez e durante o período pós-parto. Nesses casos, a depressão pós-parto pode estar associada a sintomas psicóticos. Uma detecção precisa de transtorno bipolar pode ajudar a estabelecer o tratamento adequado da depressão (ou da mania), capaz de reduzir o risco de suicídio e infanticídio”, salienta.

O que é o transtorno bipolar 

O transtorno bipolar, que atinge 4% da população, conforme a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB), envolve alterações no humor que são mais perceptíveis, duradouras e, frequentemente, mais prejudiciais do que momentos isolados de tristeza ou alegria normais do dia a dia. 

De acordo com o professor da UFRGS, a bipolaridade se caracteriza ainda por episódios de depressão e de mania que, em geral, se iniciam na adolescência ou no início da vida adulta. Ele explica que durante um episódio maníaco, o indivíduo apresenta autoestima inflada, redução da quantidade de sono e agitação. 

“Além disso, a pessoa pode ficar mais falante que o habitual e com dificuldade de manter o foco nas atividades. O episódio hipomaníaco apresenta sintomas similares, entretanto ele é menos grave e mais breve”, afirma.

Já um episódio depressivo, se caracteriza por humor deprimido na maior parte do dia, perda de interesse nas atividades diárias, perda ou ganho de peso, insônia ou aumento da quantidade de sono, culpa excessiva, ideação suicida, entre outros.

Tipos de bipolaridade e seus sintomas

Ives Passos esclarece ainda que existem dois tipos mais comuns e conhecidos de transtorno bipolar: são o tipo 1 e o tipo 2. Cada um deles é determinado pelo padrão de sintomas que o indivíduo em questão apresenta, que são bastante heterogêneos. “Ou seja, variam bastante de pessoa para pessoa, além de variar, também, na mesma pessoa ao longo do tempo” complementa o médico. 

O diagnóstico de transtorno bipolar tipo 1 se dá em casos em que o paciente já tenha passado por um ou mais episódios de mania, podendo ter experienciado também episódios depressivos. Já o transtorno bipolar tipo 2, envolve um ou mais episódios de depressão e um ou mais episódios de hipomania, porém sem a presença de mania.

“É importante notar que as alterações de humor presentes no transtorno bipolar não são falhas de caráter do paciente. Elas resultam de mudanças biológicas em áreas do cérebro que controlam o humor”, destaca Ives. 

O professor ressalta ainda que o transtorno bipolar é considerado uma doença, assim como a hipertensão ou a tuberculose e que ela não termina ou é curada quando os sintomas agudos relacionados ao episódio atual diminuem ou se resolvem, por exemplo.

Diagnóstico e tratamento

Como o transtorno bipolar é comumente confundido com outras doenças como ansiedade, depressão ou transtorno de personalidade borderline, seu diagnóstico pode demorar para ser feito. Segundo Ives, há um atraso médio de dez anos entre os primeiros sintomas e o diagnóstico formal e apenas 20% dos pacientes que estão vivenciando um episódio depressivo bipolar são diagnosticados corretamente no primeiro ano em que buscam tratamento. 

Essa dificuldade mostra o quão importante é buscar um bom profissional da área da saúde mental para diagnosticar a doença e indicar o tratamento correto, que é feito principalmente com o uso de psicofármacos, como os estabilizadores de humor. 

Outras estratégias adotadas podem ser a psicoterapia e iniciativas como o Grupo de Apoio aos Pacientes Bipolares (GAPB), um projeto vinculado à UFRGS e ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre que oferece palestras para pacientes e familiares sobre temas relacionados à bipolaridade. 

“Quando adequadamente tratado, em muitos casos, o paciente consegue ter uma boa qualidade de vida e os eventos acima relatados podem ser evitados”, finaliza o médico.

por Vitória Nunes Soares

Como boa repórter, está sempre pronta para aprender sobre todas as coisas. Tem estilo low profile, ou seja, é meio sumida das redes sociais pois prefere viver.


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