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62% das meninas já faltaram aula no período menstrual

Qual a importância da educação menstrual entre jovens e adolescentes?

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A menstruação é um processo natural do organismo feminino. Mas ainda é tabu e desconforto entre os jovens e adolescentes e o conhecimento é fundamental para mudar este cenário. Uma enquete sobre saúde e dignidade menstrual realizada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), ouviu meninas de 13 a 24 anos. Entre elas, 62% disseram já ter deixado de ir à escola ou outros lugares por causa da menstruação.

73% afirmaram já ter sentido constrangimento na escola ou em outro lugar público por conta da menstruação. A ginecologista da Clínica Fertilitat, Adriana Arent, explica que o assunto causa impacto forte principalmente na frequência escolar. Porém, alguns fatores precisam ser considerados. Um deles, é a cólica menstrual.

“Algumas meninas sofrem de cólicas menstruais, que algumas vezes podem ser de forte intensidade, levando a impossibilidade de participar de suas atividades. Elas devem procurar aconselhamento médico, pois esse problema pode ser contornado e deve ser investigado”, explica Adriana.

Há também os casos em que a menstruação é motivo de constrangimento. “Algumas meninas deixam de ir à escola e outros lugares por sentir vergonha de estar com absorvente, ou por medo de ter um ‘acidente’ com ele e isso levar a uma situação de embaraço”, aponta.

Outro ponto importante é a pobreza menstrual. “A falta de acesso a produtos de higiene menstrual, de infraestrutura sanitária adequada em casa e na escola e de conhecimentos necessários para o manejo desse período”, explica a médica.

Educação menstrual

É possível mudar essa realidade e o conhecimento é o principal aliado. Por isso, é preciso falar sobre educação menstrual. “Ela é o processo de aprendizagem sobre o período menstrual feminino, que busca o entendimento deste processo natural do corpo e a desmistificação de tabus ainda hoje presentes”, explica Adriana. 

A ginecologista prioriza a saúde física e menstrual através do conhecimento do ciclo e do processo. “Além disso, fundamenta o entendimento deste processo como parte da saúde feminina, um aspecto positivo que vai muito além da questão reprodutiva”, complementa a médica. 

Ainda segundo Adriana, a educação menstrual é fundamental para a compreensão da fisiologia feminina, para o entendimento de que é um processo ligado à saúde, e sendo assim, deve ser percebido como algo positivo. 

Menstruação não pode ser tabu

É comum que assuntos ligados ao sexo e seus diversos tópicos sejam considerados tabus. A menstruação, por ser vinculada ao universo da sexualidade, sofre conjuntamente este impacto. “Isso se dá pela falta de entendimento do processo menstrual e também por ser muitas vezes visto como algo sujo, algo que sai da vagina. E nesse ponto a educação menstrual assume uma grande importância”, aponta Adriana.

Nesse sentido, os pais também assumem papel importante. Este precisa ser um motivo de diálogo na família. “É fundamental que se converse, com meninos e meninas, sobre a fisiologia dos nossos corpos. Muitas vezes os pais também precisam se reciclar, pois ainda carregam os estigmas de antigamente, onde frequentemente a menstruação era ligada a aspectos negativos, vinculada à doença e sonegada. Era um assunto velado”, explica a profissional.

Escola como aliada

Como já vimos, a educação é o caminho. Sendo assim, a escola também precisa ser uma aliada. Felizmente, temos bons exemplos para serem compartilhados e bem perto de nós.

Uma turma de alunos do colégio La Salle Santo Antônio, através do grupo Meraki, da pastoral do colégio, enxergou que a menstruação deve ser abordada de uma forma educativa e social. Após assistir um documentário sobre pobreza menstrual, que mostrava países sem acesso à higiene básica, eles foram desafiados a criar uma ação que tentasse mudar a situação dentro da sua realidade.

“Assim, nos interessamos muito pelo assunto, levamos como pauta para os nossos encontros e resolvemos, como primeira ação do Meraki, botar em prática este movimento”, conta Mariana Perez, de 15 anos, uma das integrantes do grupo. 

Mariana e os colegas tiveram a iniciativa de criar a campanha “Agosto Roxo”, para arrecadar pacotes de absorventes na escola e doar para pessoas carentes. “Quando propusemos para a nossa escola a criação da campanha, fomos de imediato apoiados e incentivados a realizá-la. Assim, ficamos ainda mais estimulados e entusiasmados”, relata.

Os pacotes de absorventes arrecadados foram doados para a instituição Vila do Campinho, que atende crianças, adolescentes e famílias em risco de vulnerabilidade social da Vila Cruzeiro, em Porto Alegre. 

“Nós julgamos importante essa iniciativa por ser uma questão de saúde pública e ser um assunto pouco falado. Quando fomos pesquisar mais a fundo, descobrimos casos em que, por exemplo, as mulheres nos presídios usam miolo de pão ou até bananas para tentar de alguma forma absorver o fluxo menstrual”, conta Mariana.

“Chegamos a nos perguntar o porquê dos absorventes não serem dados de graça à população, como camisinhas, por exemplo, já que menstruar não é uma escolha ao contrário do ato sexual”, questiona a jovem.

Segundo Adriana, é fundamental que o assunto seja abordado na escola e principalmente, ser tratado com equidade entre os sexos. “É importante que os meninos também compreendam a menstruação. Dessa forma muitos tabus são quebrados”, finaliza a ginecologista. 


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