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Conheça os riscos da automedicação

Hábito comum entre os brasileiros, o uso sem orientação de remédios pode trazer uma série de complicações para a saúde

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No Brasil, a automedicação é um hábito comum. Um estudo feito pelo Conselho Federal de Farmácia, em 2019, indicou que 77% dos brasileiros que fizeram uso de remédios, se automedicaram. O mesmo levantamento também detectou que o fato acontece mesmo quando os medicamentos são prescritos. Os pacientes, em sua maioria homens e jovens entre 16 e 24 anos, acabam alterando a dose receitada ou o tempo de uso.

O estudo ainda indica que outro fator que influencia o consumo irregular são os remédios que “sobram” após o tratamento. Quando isso acontece, posteriormente, quando tem sintomas parecidos, acaba usando novamente o mesmo remédio que tem em casa.

O médico responsável pelo Projeto Educa Dor, João Marcos Rizzo, explica que esse hábito pode acabar “mascarando” os sintomas, o que pode acarretar na falha do tratamento e/ou num erro de diagnóstico. “Além disso, são bem comuns situações de intoxicação medicamentosa, dependência de alguns fármacos específicos e ainda pode induzir a resistência do organismo em casos de antibióticos”, afirma. 

Principais perigos da automedicação

Outra ameaça é a interação desses medicamentos com outros que o paciente usa de maneira contínua. “Isto pode cortar efeito desse tratamento ou potencializar eventos adversos que, se não fosse essa interação, não aconteceriam”.

Segundo João Marcos, os grupos mais preocupantes são os antibióticos, corticosteróides, antiinflamatórios, analgésicos em geral, medicamentos para ansiedade ou sono, antidepressivos, emagrecedores em geral, medicamentos para aumentar a atenção ou diminuir sono ou fadiga. “Sempre existe risco! Não há medicamento isento de risco ou evento adverso. A automedicação lida com a sorte, até que o azar aconteça”, alerta.

Ele ainda explica que em caso de bactérias, o consumo irregular de medicamentos pode fortalecer as mesmas, pois elas desenvolvem resistência às substâncias caso usem o tratamento inadequado. “Já no caso de doenças virais, o uso de fármacos inapropriados pode ser ineficaz e ainda afetar a imunidade do paciente, o que é essencial para o combate às doenças”, esclarece.

Outro alerta trazido pelo médico é que o uso de analgésicos, hoje em dia, é bastante comum, pois a maioria é encontrado com venda livre, sem barreiras para a compra e o uso indiscriminado.

Fatores que influenciam na automedicação

Para João Marcos, o fator cultural e a dificuldade de acesso aos médicos e odontólogos motivam o crescimento dos números. “A legislação dá livre acesso a uma gama de fármacos potencialmente perigosos, como analgésicos e antiinflamatórios, que são vendidos sem exigência de receituário médico”, comenta.

O médico relata que um exemplo de como o controle é importante, ocorreu quando os antibióticos passaram a ser vendidos apenas com receituário médico, como diminuiu a automedicação e o abuso no uso inadequado desses fármacos. “O controle por receita retida, restringe bastante o abuso e a automedicação”, defende.

Pandemia agrava o cenário

A pandemia de Covid-19 fez com que muitas pessoas deixassem de ir às consultas médicas com receio de se expor ao vírus. Entretanto, apesar da recomendação seja para o isolamento social, este também é um momento para dar ainda mais atenção à saúde. 

João Marcos enfatiza a importância de procurar ajuda médica sempre que apresentar sintomas ou sinais que estejam interferindo ou limitando a rotina diária, caso haja dúvidas quanto à origem ou gravidade dos sintomas. “Todo o sistema de saúde se adaptou para ter um fluxo adequado aos pacientes com outras doenças (que não a Covid), sejam crônicas ou agudas, para a continuidade de tratamento, sem acumular outras patologias”, garante.

O médico reforça que a automedicação pode dificultar o diagnóstico e atrasar o tratamento adequado de várias doenças, complicando algo que poderia ser tratado de maneira mais simples e barata. “Os atendimentos em consultórios, clínicas médicas ou odontológicas têm um fluxo seguro de pacientes, espaçamento de horários, cuidados redobrados com a higiene, tudo para manter esse atendimento normal e, nos próprios pronto-atendimentos dos hospitais, o fluxo de pacientes é separado para não haver risco de contaminação secundária”, explica. “Lembrando sempre que a saúde está na prevenção e nos bons hábitos, na vida saudável”, conclui João.


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