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Depois do câncer, como engravidar? Conheça as alternativas

Tratamentos contra a doença podem prejudicar a qualidade e a quantidade de óvulos da mulher

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Estima-se que, somente em 2020, tenham sido diagnosticados 625 mil novos casos de câncer, sendo o de mama o mais presente entre as mulheres — 66 mil novos casos anuais. Somente no Rio Grande do Sul, as projeções do Instituto Nacional do Câncer estimam quatro mil novos registros de tumores mamários malignos para cada 100 mil habitantes. O diagnóstico precoce, associado à terapias anticâncer cada vez mais eficientes, têm aumentado a remissão e taxas de cura das pacientes, especialmente entre mulheres jovens em idade reprodutiva.

O potencial reprodutivo feminino está intimamente ligado à quantidade e qualidade dos óvulos — e maiores serão as chances de sucesso na concepção, quanto mais e melhores gametas a mulher tiver. A reserva ovariana, contudo, pode ser ameaçada por uma série de condições: o avanço da idade, cirurgias, infecções, doenças como endometriose, medicamentos e terapias, especialmente aquelas utilizadas no combate ao câncer, como quimio e radioterapia. “Estas condições podem acelerar a destruição dos folículos primordiais presentes no ovário e, assim, levar à infertilidade temporária ou até permanente”, explica a ginecologista e diretora do Fertilitat, Mariangela Badalotti.

Entretanto, existem alternativas. Se a mulher for submetida a tratamentos que não tragam danos ao ovário, que produz os óvulos, poderá engravidar espontaneamente após vencer o câncer. Mas, se o tratamento a fizer perder a possibilidade de produzir óvulos, poderá engravidar se congelar os óvulos antes do início do tratamento. “A chance de gravidez dependerá do número de óvulos congelados e da idade feminina; antes dos 35 anos a chance é de 50% e vai diminuindo com o avançar da idade da mulher”, esclarece Mariangela. “Ainda poderá engravidar através da doação de óvulos, se não houver possibilidade de congelamento prévio, ou através de gestação de substituição se o útero foi acometido”, complementa a médica. 

Congelamento de óvulos: como funciona

O congelamento de óvulos está indicado quando o tipo de tratamento quimioterápico tiver risco de levar à perda de função do ovário, ou quando for realizada radioterapia na pelve, que também leva à perda de função do ovário. Dependendo do caso, em vez de óvulos, pode-se congelar um fragmento de ovário, que depois é recolocado no corpo da mulher ou é estimulado a produzir óvulos fora do corpo.

“Além das situações de câncer, o congelamento de óvulos pode ser empregado quando houver intenção de adiamento da maternidade, quando houver risco de perda de função do ovário por outras razões, quando houver óvulos excedentes nos ciclos de FIV ou antes de tratamento de conversão na transexualidade”, afirma Mariangela.

De acordo com a médica, não há limite de tempo para os óvulos ficarem congelados. O período de congelamento não interfere na qualidade dos mesmos, nem implica riscos para o nascituro. “Quando se fala em momento ideal para congelar óvulos, seria antes dos 35 anos, pela maior qualidade dos gametas. Mas quando se trata de câncer, este planejamento não foi feito e o congelamento será feito quando necessário. O importante é que seja feito antes do início do tratamento quimio ou radioterápico”, orienta Mariangela.

A gravidez através de óvulos congelados será obtida por fertilização in vitro (FIV). Quanto maior o número de óvulos congelados, maior a chance de gravidez. “São necessários, em média, 6 a 8 óvulos para um ciclo de FIV, dependendo da idade da mulher. Mas nem sempre se tem este número de óvulos e dependendo da idade feminina vale a pena fazer o congelamento mesmo com um número menor”, explica a médica. 

Para Mariangela, a discussão sobre as formas de preservar a fertilidade é fundamental, e o congelamento de óvulos é uma técnica importante. “Ela viabiliza a chance de concepção futura, a despeito da idade ou de tratamentos agressivos para o ovário, sendo considerada o padrão-ouro para a preservação”, afirma.

 


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