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As máquinas vão roubar o seu emprego?

Estudo brasileiro mostra quais profissões podem desaparecer nos próximos 20 anos devido à automação

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Já imaginou se, daqui alguns anos, a sua profissão deixar de existir, se tornar obsoleta? Ok, não seria a primeira vez que isso acontece na história do trabalho. Antes da digitalização, por exemplo, muitas escolas tinham operadores de mimeógrafos, trabalho manual na máquina que fazia cópias das provas e tarefas. Com a chegada das impressoras, o equipamento caiu em desuso (mas as mais velhas certamente lembram das folhas úmidas e com cheirinho de álcool, não?). 

Como a evolução tecnológica segue em curso, novas profissões devem deixar de existir ou, pelo menos, serem modificadas a ponto de parecerem uma nova profissão. Recente estudo assinado por grupo de pesquisadores brasileiros (da FGV, IDados, UERJ, IESE Business School e USP) e compartilhado através do artigo "Automação e perda de empregos: o caso brasileiro", mostra que "58,1% dos empregos brasileiros podem desaparecer, nos próximos 10 ou 20 anos, em função da automação.

No setor informal, estimamos um risco de automação ligeiramente maior de 62%”, o que indica uma maior vulnerabilidade dos trabalhadores informais à automação.

10 ocupações com maiores probabilidades de automação

Ao analisar os dados do PNAD para identificar o percentual de empregos formais e informais que podem desaparecer, os pesquisadores também listaram quais são as profissões que, com isso, podem deixar de existir. São elas:

99% de chances de ser automatizada

Operadores de entrada de dados (digitador)

Profissionais de nível médio de direito e afins (assistente)

Agentes de seguros

Operadores de máquinas para fabricar equipamentos fotográficos

Vendedores por telefone

Despachantes aduaneiros

98% de chances de ser automatizada

Contabilistas e guarda livros

Secretários jurídicos

Condutores de automóveis, táxis e caminhonetes

Balconistas e vendedores de lojas

Em comum, essas ocupações que podem ser automatizadas realizam processos que podem ser especificados com muita precisão, sem precisar de muita subjetividade humana para se tomar decisões. Ou seja, uma máquina pode fazer.

Ao comentar o estudo, a pesquisadora, escritora, Futurista (IFTF) e mestre e PhD em artes (ECA/USP) Martha Gabriel foi um pouco além nesse entendimento do que vai desaparecer ou não. Para ela, no caso dos vendedores, aqueles que “fazem vendas consultivas não devem desaparecer, pois agregam pensamento complexo ao processo de venda. Já os vendedores que fazem trabalhos repetitivos de cadastro, pedido, fazer checkout de compras etc., já estão sendo substituídos por sistemas. A tendência é que os vendedores (humanos) atuam cada vez mais na parte consultiva da venda proporcionando análise de valor e utilizando os sistemas para apoio da parte operacional”.

A importância da subjetividade na atuação do profissional também é percebida na outra ponta – a das profissões com menores chances de automação:

Dietistas e nutricionistas - 0,4%

Gerentes de hotéis - 0,4%

Especialistas em métodos pedagógicos - 0,4%

Médicos especialistas - 0,4%

Médicos gerais - 0,4%

Fonoaudiólogos e logopedistas - 0,5%

Trabalhadores do sexo - 0,6%

Dirigentes de serviços de bem-estar social - 0,7%

Psicólogos - 0,7%

Dirigentes de serviços de educação - 0,7%

Aqui, percebe-se que todas as profissões com menor chance de serem substituídas por máquinas são as que demandam muita interação e muita subjetividade humana. Elas também envolvem a necessidade de saber lidar com pessoas e resolver situações em que as emoções predominam.

Os autores do estudo destacam que nem só de habilidades socioemocionais se forma o profissional do futuro. Também impactam na suscetibilidade do trabalho a exigência de criatividade e originalidade e o desenvolvimento de habilidades motoras finas.

Este segundo ponto explica por que jardineiros e empregadas doméstica não estão ameaçados pela tecnologia no curto prazo: apesar de algumas de suas atividades poderem, sim, ser executadas, por máquinas, elas ainda não conseguem substituir a capacidade dessas pessoas de usar a habilidade motora fina e saber circular em um ambiente de trabalho pouco estruturado.


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