capa

Mulheres são as mais prejudicadas pelo etarismo no mercado de trabalho

Entenda o preconceito contra pessoas mais velhas no ramo profissional

publicidade

Em artigo recentemente publicado, o portal Catho citou o GPTW Brasil que, em 2018, apenas 3% de profissionais idosos nas 150 melhores empresas para se trabalhar. Ou seja, o etarismo é um problema que precisa ser resolvido. Afinal, as pessoas estão vivendo mais tempo e precisam trabalhar, seja por questões financeiras ou de saúde mental), mas o mercado não se mostra preparado para manter e/ou absorver esses profissionais. 

A jornalista Tina Lopes, que estuda e trata no perfil Fiftinah sobre as questões de envelhecimento, maturidade e suas consequências no corpo, na carreira, no presente e no futuro de mulheres reais, lembra que o Brasil foi, durante muito tempo, o país do futuro e dos jovens, principalmente porque os velhos morriam cedo. “Quando eu nasci, em 1970, minha expectativa de vida era de 60 anos; pra quem nasce hoje é de 80 anos, segundo o IBGE”, calcula. 

Essa baixa longevidade, segundo Tina, fez com que a mão de obra brasileira sempre fosse barata e jovem. E mais: tornou-se parte da cultura empresarial trocar funcionários mais velhos por mais novos. “Entende-se que, supostamente, esses jovens vão render e produzir mais, enquanto a busca por experiência e conhecimento acabam ficando de lado, sendo valorizados em pouquíssimos setores, cargos e profissões”, afirma. 

A jornalista, que vive em Curitiba, comenta que a partir dos 40 anos as pessoas já começam a perceber um tratamento diferente em relação a sua idade. É nessa época da vida que as brincadeiras começam, assim como os questionamentos sobre a capacidade de realizar tipos de tarefas. “E também é quando começam as demissões, principalmente se a empresa pode obter vantagens financeiras, como dispensar um longo contrato de CLT para pôr em seu lugar um profissional com contratos de curto prazo com menos direitos trabalhistas”, pontua. 

Como se aposentar quando as empresas não dão oportunidades?

Olhando novamente para os dados do GPTW 2018, Tina reforça que uma bomba está se armando para um futuro muito próximo. “Vamos juntar os pontos. Nesse cenário, entendemos como idosa a pessoa não muito acima dos 60 anos. Temos 3% dos funcionários das 150 melhores empresas são idosos, provavelmente em cargos de chefia, direção ou são sócios. E a reforma trabalhista de 2019 estabelece que, a partir de 2023, a mulher vai se aposentar com 62 anos, e o homem, com 65. Mas, se as pessoas idosas não estão empregadas, de qual trabalho elas vão se aposentar?”, questiona. 

Segundo uma pesquisa da plataforma de empregos Maturi, cuja atuação é focada em diversidade etária e oportunidades para os 50+, 4 em cada 10 profissionais com mais de 50 anos estão em busca de recolocação profissional e 64% das quase 2 mil pessoas entrevistadas (50 a 69 anos) relatam que o preconceito etário enfrentado na vida profissional é um dos maiores obstáculos para conseguirem uma nova vaga de emprego. “E há um agravante: essas pessoas sabem que provavelmente o próximo emprego terá salários e condições inferiores ao anterior, independente da competência técnica do profissional”, reforça Tina. 

A jornalista traz mais números que reforçam a urgência de se substituir o etarismo por inclusão: “até 2040, segundo o IPEA, metade da força de trabalho no Brasil terá mais de 50 anos. Em 2050, o Brasil será o sexto país com maior número de pessoas acima de 60 anos no mundo, segundo o IBGE”, contabiliza. Nesse cenário, assim como já foram realizados bons programas de inserção de jovens no mercado de trabalho, é preciso implementar ações e políticas empresariais e públicas que colaborem com a permanência das pessoas mais velhas no mercado de trabalho. 

“O etarismo ainda é um preconceito forte, apesar de todas as campanhas recentes que vêm sendo feitas. Se uma empresa não faz questão de manter um profissional maduro por mais tempo, terá ainda menos interesse em contratar ‘outros velhos’”, comenta. 

Tina salienta que a longevidade jogou a velhice para muito mais tarde, pois uma pessoa com 50 anos hoje não é a mesma de 30 anos atrás, e isso torna o etarismo ainda mais sem sentido. “Zoar os mais velhos pela incapacidade de realizar determinadas tarefas, de entender novos conceitos, pelas dificuldades físicas ou motoras era, até pouco tempo, normal. As novas gerações são mais sensíveis aos preconceitos, e este começa a ser mal-visto, mas ainda há um caminho imenso, muito além do discurso”, frisa. 

O peso do etarismo sobre as mulheres

E como ficam as mulheres mais velhas nesse cenário? Infelizmente, as notícias não são nada boas, principalmente se considerarmos todas as barreiras que a mulher precisou superar na carreira para chegar à maturidade, muitas vezes deixando os filhos de lado, adiando gravidez, se sacrificando para apresentar o dobro de trabalho e ganhar menos que os colegas homens, ter menos promoções, entre tantas outras situações que você pode ter vivido ou escutado falar. 

“Agora, ela sofre duplamente, tanto com o preconceito pela idade quanto com o sofrimento orgânico e físico proporcionados pela menopausa. Os calorões, a insônia, a adaptação hormonal são motivo de vergonha, escondidos, para evitar julgamentos sobre seu desempenho”, explicita.

Tina lembra que, infelizmente, esse é só um lado do etarismo contra a mulher. Numa fase em que a menopausa nem está na cabeça da mulher, ela já é discriminada pelo envelhecimento do corpo, as mudanças de cor de cabelo, peso, viço, a imposição da beleza padrão... E esse preconceito, dependendo da função que ela exerce, pode afetar tanto o emocional quanto o profissional. 

Há solução para o etarismo?

Como já foi comentado, as empresas precisam de políticas para manter e contratar pessoas por suas competências – e não pela idade. Mas não precisa parar por aí, as empresas podem ter políticas de incentivo interno pela diversidade, promover programas para identificar e valorizar os profissionais maduros que já fazem parte de seus quadros. 

“A Organização Mundial da Saúde recomenda a intergeracionalidade no ambiente de trabalho, isto é, a presença de pessoas de todas as idades, compartilhando rotinas e experiências. Mas para isso é preciso haver condições iguais de trabalho, contratações honestas para atuações relevantes”, frisa a jornalista. 

Assim como há o greenwashing em relação às questões ambientais, Tina chama de age-washing as situações em que empresas usam a imagem de uns poucos funcionários mais velhos em posições decorativas somente para constar no capítulo de Sustentabilidade em seus anuários bilíngues.  Ambas as práticas não são apenas incorretas: são antiéticas.

Conectada às questões que o etarismo levanta, a OMS publicou Relatório Mundial sobre o Idadismo – o qual vai além e se refere a estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade. Assim, o idadismo nega às pessoas seus direitos humanos e a habilidade de cada indivíduo alcançar seu pleno potencial.


compartilhe