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Mais de 80% dos brasileiros considerou mudar de carreira no último ano

Em entrevista exclusiva ao Bella Mais, a vice-presidente de Recursos Humanos da ADP para a América Latina analisou o cenário

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O desejo de empreender e alcançar o sucesso profissional nunca esteve tão forte no Brasil. É o que aponta a pesquisa “People at Work 2022: A Global Workforce View”, realizada pela ADP Research Institute, com cerca de 33 mil trabalhadores, em 17 países. 

O estudo procurou compreender as atitudes dos colaboradores em relação ao mundo corporativo, questões relacionadas à sua saúde mental e o que eles esperam do local de trabalho no futuro, e apontou que quatro em cada cinco brasileiros (81%) consideraram migrar de carreira nos últimos 12 meses.

O sentimento é similar nos outros países latino-americanos ouvidos: 83% no Chile e 79% na Argentina. Tal desejo é motivado, principalmente, pela busca por satisfação pessoal e melhores oportunidades de trabalho, algo que muitas vezes é proporcionado pelo empreendedorismo.

Para ajudar a compreender melhor o contexto por trás desses números, o Bella Mais entrevistou Mariane Guerra, vice-presidente de Recursos Humanos da ADP para a América Latina. Confira:

Bella Mais - Como a pandemia impactou a forma como os colaboradores enxergam suas carreiras?

Mariane Guerra - Entendo que a pandemia gerou um momento em que as pessoas repensaram muito suas vidas, como um todo. Creio que momentos de ruptura, como o que enfrentamos nos últimos dois anos, geram tais reflexões. A pergunta ‘O que é mais importante para mim?’ resume bem este momento e a pesquisa do ADP Research Institute mostra esse movimento, quando atesta que quatro em cada cinco brasileiros estariam dispostos a trocar de profissão em nome do sucesso na carreira.

Bella Mais - O estudo mostrou que 81% dos entrevistados pensaram em mudar de carreira. O que motiva os colaboradores a considerarem essa migração?

Mariane Guerra - Como disse antes, as pessoas estão focadas em buscar a sua satisfação pessoal. E o mundo do trabalho nunca fez tanto sentido para a busca desse objetivo. Não digo apenas pelo home office, que trouxe o trabalho para dentro de nossas casas, mas entender que o trabalho é apenas uma parte do meu dia, é, hoje, uma agradável constatação. O que fica claro no estudo, é que os trabalhadores da América Latina são, em geral, ambiciosos. Eles querem, além de uma remuneração decente, boas perspectivas de progressão na carreira.

Bella Mais - Por que na América Latina e, em especial, no Brasil, os trabalhadores estão mais dispostos a mudar de carreira em comparação com outros países pesquisados como Alemanha, Estados Unidos e França?

Mariane Guerra - A própria pesquisa mostra que isso está sendo impulsionado, principalmente, por uma veia empreendedora na região. Nos três países latino-americanos estudados (Brasil, Chile e Argentina), o desejo dos trabalhadores de montar seu próprio negócio é muito mais forte do que em qualquer outro lugar do mundo.

Bella Mais - Atualmente, o sucesso profissional não está atrelado somente a uma boa remuneração. O que, segundo dados da pesquisa, os colaboradores mais levam em consideração ao mudar de carreira?

Mariane Guerra - Entre os fatores que são importantes para os trabalhadores em um emprego, os latino-americanos geralmente apontam para as oportunidades que oferecem progressão na carreira. Isso é mais alto no Brasil (35%), e cerca de um quarto dos entrevistados na Argentina e no Chile também dizem a mesma coisa (27% e 25%, respectivamente).

Bella Mais - O que a pesquisa percebeu em relação à saúde mental dos trabalhadores brasileiros em comparação com outros países?

Mariane Guerra - A saúde mental precária é um fator de desgaste para 51% dos trabalhadores da América Latina, afetando, no Brasil, 54% dos entrevistados, seguido pelo Chile, 49%, e Argentina, 38%. O burnout e o estresse são fatores de risco importantes. As empresas precisam se atentar a isso, especialmente no Brasil, onde mais de um quarto dos trabalhadores (27%) se sente estressado todos os dias.

E embora, a maioria dos trabalhadores diga que se sente apoiada por seus gerentes nesta questão, mais de um terço (34%) dos argentinos, um quarto dos chilenos (27%) e um quinto dos brasileiros (21%) dizem que seu empregador não está fazendo o suficiente de forma proativa para ajudar a promover a saúde mental positiva no trabalho.

Bella Mais - Como as empresas podem contribuir para uma melhora no bem-estar emocional dos colaboradores?

Mariane Guerra - A saúde mental, o estresse e os arranjos de trabalho remoto parecem continuar sendo questões críticas à medida que olhamos para o futuro, com implicações para a produtividade dos trabalhadores, recrutamento e retenção. Por isso, entendo que as empresas podem contribuir e muito para a saúde emocional de seus empregados, na medida em que percebam em cada um deles um ativo, que demanda cuidado e atenção. São talentos que precisam ser lapidados continuamente.

por Vitória Nunes Soares

Como boa repórter, está sempre pronta para aprender sobre todas as coisas. Tem estilo low profile, ou seja, é meio sumida das redes sociais pois prefere viver.


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