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Ainda minoria, mulheres buscam o protagonismo na ciência

No dia que celebra a presença feminina na ciência, te apresentamos a pesquisadora da UFRGS, Mellanie Fontes-Dutra

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Mesmo correspondendo a 52,2% da população brasileira, segundo o IBGE, as mulheres e meninas ainda são minoria na ciência. De acordo com dados da UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura -, somente 30% dos cientistas do mundo são mulheres. 

Essa desigualdade fica clara já no ensino superior, em que apenas 35% dos estudantes matriculados em cursos nas áreas de Ciências Exatas, como Engenharias e Matemática, são mulheres.

Para incentivar a inclusão feminina na ciência, a UNESCO lançou, em 2015, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. E para celebrar essa data, que é comemorada hoje, 11 de fevereiro, o Bella Mais preparou uma matéria especial que conta com a participação da pesquisadora da UFRGS Mellanie Fontes-Dutra e relembra a atuação de cientistas brasileiras durante a pandemia de Covid-19.  

O protagonismo feminino durante a pandemia

Apesar de todas as dificuldades enfrentadas durante a pandemia, o período serviu também para evidenciar a importância da ciência e o próprio protagonismo feminino, já que várias pesquisas e descobertas foram feitas por cientistas mulheres. E entre tantos nomes que despontaram, tanto na linha de frente do combate à doença, como nas redes sociais, o da biomédica e divulgadora científica Mellanie Fontes-Dutra se destacou.

A cientista é natural de Aracaju, no estado do Sergipe, mas veio muito nova morar no Sul. Formou-se biomédica pela UFRGS, onde hoje faz pós-doutorado em bioquímica. Em 2020, Mellanie foi considerada uma das cinco principais influenciadoras sobre a Covid-19, segundo estudo da Science Pulse em parceria com o Ibpad - Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados. 

“Nunca imaginei que receberia esse reconhecimento e ver sua proporção é algo que me surpreende até hoje, porque nunca foi esse o objetivo (ser reconhecida). O que me motiva é a contribuição que a gente acaba fazendo pra sociedade. Essa sensação é algo que me faz bem. Saber que uma pessoa tomou uma decisão em prol de sua saúde porque leu um fio meu no twitter ou uma família conseguiu se proteger melhor da exposição ao vírus da COVID-19 porque assistiu uma live em que falei sobre isso baseado nas evidências é impagável”, conta a pesquisadora. 

Mellanie é coordenadora da Rede Análise COVID-19, um projeto que reúne pesquisadores e divulgadores científicos voluntários com o objetivo de comunicar ciência de forma acessível e combater a desinformação. Além disso, ficou conhecida também por compartilhar informações sobre a pandemia em sua conta no Twitter @mellziland. 

Há muito ainda o que conquistar 

Ao longo da história, as mulheres tiveram um importante papel na ciência, mas muitos de seus feitos não foram reconhecidos. Hoje, existe um espaço maior para as pesquisadoras, algo que inclusive se ampliou na pandemia, no entanto, não é o suficiente. 

“Apesar de a gente estar vendo uma mudança interessante, vendo mais mulheres sendo reconhecidas e ocupando cargos de importância, ainda há uma desproporção dessa presença. Temos um caminho pela frente para mudar isso, mas vejo que a mudança já está acontecendo, mesmo que aos poucos”, comenta Mellanie. 

A cientista também fala das dificuldades enfrentadas ainda hoje por ser uma pesquisadora mulher no Brasil. Ela relata que já passou por situações machistas, que abalaram sua confiança, mas que o acolhimento de outras mulheres lhe deu força e motivação para continuar. Hoje os ataques servem de incentivo.

“É desafiador sim, mas particularmente, só me mostra como é importante ocupar mais e mais espaços e construir redes de apoio e colaboração, para que mais mulheres possam ingressar e ocupar espaços nesses locais, recebendo apoio e acolhimento daquelas que já estão ali”, reforça Mellanie.

Representatividade e inspiração

A fala da pesquisadora ressalta a importância da representatividade feminina na área da ciência e como essa presença, cada vez maior, pode servir de inspiração para outras mulheres, algo que Mellanie sentiu falta em seus tempos de colégio. 

“Quando eu estava no ensino médio, sentia medo de não ter uma posição dentro da ciência porque simplesmente não via referências femininas”, relembra. Por isso ela reforça: “Cada vez que mulheres ocupam mais espaços de destaque, mais meninas passam a se enxergar ali no futuro”.

Mellanie acredita que sua história, e de outras pesquisadoras, podem inspirar outras meninas e mulheres a serem cientistas. “Funcionou comigo, e espero que inspire outras pessoas. Tive muitas mentoras e inspirações na ciência e na divulgação científica” conta. 

Para trazer ainda mais inspiração para as nossas leitoras, separamos alguns nomes de outras cientistas brasileiras que estiveram à frente de importantes pesquisas e ações contra a Covid-19. Confira:

Natalia Pasternak - Bióloga com pós-doutorado Microbiologia. Tornou-se uma importante voz contra a desinformação durante a pandemia, ao atuar como divulgadora científica esclarecendo dúvidas sobre a doença e o desenvolvimento das vacinas.

Margareth Dalcolmo - Médica pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Integra o comitê de especialistas da OMS e virou uma  referência para a imprensa em meio à pandemia, participando de várias entrevistas.

Jaqueline Goes de Jesus - Biomédica e doutora em Patologia Humana, ficou conhecida por coordenar a equipe que sequenciou o genoma do novo coronavírus depois de apenas 48h após a confirmação do primeiro caso da doença no Brasil.

Luana Araújo - Médica infectologista, chegou a ser indicada para a Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, mas não foi nomeada. Nas redes sociais, compartilhou informações sobre infectologia ao longo da pandemia, alertando principalmente sobre a ineficácia dos tratamentos precoces. 

por Vitória Nunes Soares

Como boa repórter, está sempre pronta para aprender sobre todas as coisas. Tem estilo low profile, ou seja, é meio sumida das redes sociais pois prefere viver.


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