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A romantização do excesso de trabalho traz prejuízos

Rotina exaustiva e cheia de tarefas ainda é vista como sinônimo de sucesso profissional mas traz sofrimento psíquico e doenças

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Agenda lotada, reuniões sem fim e poucos horários livres para o lazer. Para muitas pessoas, a ideia de sucesso profissional ainda está atrelada a isso, longas jornadas de trabalho e uma rotina corrida, em que não há espaço para outra coisa a não ser a vida profissional. Essa romantização do trabalho excessivo, no entanto, pode trazer sérios prejuízos à saúde física e principalmente mental. 

A psicóloga Patricia Mello explica que essa necessidade de dedicação extrema tem origem na noção de que o trabalho forma o caráter e agrega valor à pessoa. “A ideia é sustentada pelo princípio de que um indivíduo produtivo é importante para a sociedade, e que isso o define enquanto ser humano decente e honesto. A pessoa que trabalha em demasia é vista como alguém de status elevado. Isso é uma percepção equivocada do ser humano, uma vez que seu valor não decorre de quantas horas trabalha, mas das qualidades que apresenta para si e no vínculo com outros indivíduos”. 

Consequências do excesso de trabalho

Segundo a psicóloga, a romantização surge em um contexto cultural em que a produtividade é mais valorizada do que a qualidade de vida e, em que vende-se a ideia de que essa é a única forma de se obter sucesso. Isso favorece a construção de relações de trabalho abusivas e provoca vários efeitos psicológicos. Patricia cita os principais:

“Essa romantização faz com que as pessoas se sintam culpadas quando não estão trabalhando, como se essa fosse a única obrigação e sentido da vida. Também impede que elas tenham atividades de lazer e que descansem mentalmente no fim do dia, causando problemas de sono e ansiedade. Dos transtornos mentais associados a trabalho excessivo, destacam-se: Transtorno Depressivo, Transtorno de Ansiedade Generalizada, Transtorno do Pânico, Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsivo, e Síndrome de Burnout”. 

Mulheres sofrem mais com os efeitos da romantização

Dados de uma pesquisa realizada pelo LinkedIn, nos Estados Unidos, mostraram que 74% das mulheres sentem-se muito ou razoavelmente estressadas por questões ligadas ao trabalho. Já entre os homens, esse número é de 61%. Outro estudo, este da consultoria Great Place to Work e da startup de saúde Maven, apontou que mulheres que são mães e possuem empregos remunerados têm, em média, 23% mais chances de se sentirem esgotadas profissionalmente e desenvolverem a Síndrome de Burnout do que homens que são pais. “Os cuidados domésticos frequentemente atribuídos às mulheres envolvem trabalho e gasto de energia tanto quanto (e até mais!) do que qualquer outro tipo de trabalho. Assim, se ela possui um emprego do lado de fora de casa, isso será uma dupla jornada de trabalho”, explica Patrícia. 

Como conciliar a vida profissional e pessoal

Para a psicóloga, o primeiro passo para evitar a romantização do trabalho é entender que tempo é vida e que cada um precisa refletir sobre como vai utilizá-lo. Ela deu ainda algumas dicas de como manter o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Confira:

- Estabeleça horários na agenda para trabalho e para outras atividades não relacionadas, como hobbies e passeios.

- Reserve momentos de lazer todas as semanas e um tempo para cuidar de si diariamente.

- Evite falar de trabalho a todo momento.

- Deixe para se preocupar com suas demandas apenas durante o horário de trabalho. Não leve essas preocupações para casa. 

- Se você trabalha em casa, anote essas preocupações em um caderno e deixe-o no escritório para não pensar nelas a não ser que esteja no ambiente.

- Escolha um dia da semana para não pensar em qualquer tipo de obrigação vinculada a dinheiro, trabalho e desempenho.

- Aproveite o tempo com as pessoas que ama.


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